A conselho da minha companheira no Cadeirão Voltaire, fui ler o artigo da jornalista Elizabeth Flores Rodriguez, «Rápido a ninguna parte (II)» sobre a experiência que teve ao frequentar um curso para ler mais depressa. O desenvolvimento dos músculos oculares, bem como o desinteresse dos colegas pela leitura servem de pontos de partida para uma conclusão: o prazer da leitura está umbilicalmente ligado à sua inutilidade.
No entanto, a leitura rápida, treinada para encontrar informação específica, é indiscutivelmente útil em diversos contextos do quotidiano. Mas não são apenas estas técnicas que a sustentam. Sem se ler frequentemente, nunca se terá o ritmo necessário para encontrar referências, expressões ou informações concretas numa imensa mancha gráfica. As afirmações de Elisabeth Rodriguez são igualmente relevantes no que respeita ao imediato interesse (neste caso de estudantes) por produtos que facilitem o acesso a todo o tipo de conteúdos. Tal como acontece noutras áreas, também no que concerne a leitura e a escrita, há muitos que pensam que estas competências podem ser interiorizadas em formatos de consumo que contornarão o treino continuado. Há um divórcio da leitura, mas uma ansiedade de receber informação. Neste paradoxo funda-se uma analogia enganadora com outros produtos prêt-à-porter, de modo a escamotear qualquer ideia de continuidade, concentração e dedicação. Este esforço é duplamente inglório porque em primeiro lugar não há produtos que validem o que só um processo permanente nos dá, e em segundo porque inviabiliza todas as experiências associadas à leitura. E, sabe quem lê, como são gratificantes...
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