O direito à greve é inalienável. As razões dos professores, mais ou menos claras para a opinião pública, têm-nos mobilizado de forma tão veemente que é impossível passarem despercebidas. Assim, é de estranhar que os pais não estivessem ao corrente que hoje haveria greve de professores. Se estão ou não de acordo com as suas motivações, é uma outra questão. O que não pode, no entanto, ser escamoteado é que os pais são, em primeiro lugar, os responsáveis pelos seus filhos. Por isso, caber-lhes-ia ter antecipado a possibilidade de não haver aulas e em consequência encontrar soluções. É absolutamente extraordinário ouvir, como aconteceu num jornal da tarde, um pai afirmar que as crianças deviam ficar na escola, mesmo sem aulas, porque os funcionários não estão em greve e as cantinas podem funcionar. Imagino que nunca tenha pisado um pátio num intervalo, para ter uma pequena ideia do que seria cerca de 200, 300, 500 crianças espalhadas pelo espaço da escola, sob a vigilância de meia dúzia de funcionários. Gostava igualmente que esse pai me esclarecesse se é a favor ou contra as aulas de substituição, porque afinal não há problema se as crianças ficarem livres e soltas durante uma manhã ou um dia inteiro. Imagino, contudo, que se algo acontecesse ao seu filho, este pai extremoso se queixasse imediatamente da incapacidade dos presentes.
Para mim, que vou às escolas e constato nas crianças comportamentos desregrados, egocêntricos, carentes (e refiro-me a crianças do 1º ciclo), choca-me ver tantos pais tão pouco conscientes do péssimo trabalho que fazem em casa, queixando-se constantemente dos professores. A falta de atenção e educação não se vê apenas nas escolas, vê-se em locais públicos onde as crianças gritam, fazem chantagem, ou os adultos frequentemente as ignoram ou gritam com elas.
Verificamos, nas nossas acções para pais e filhos, que a participação é ainda escassa. Em sessões onde poderiam participar vinte pais ficamos contentes se temos dez presentes. E é quase certo que só participam mães, é raríssimo contarmos com os pais. Ainda mais, é frequente que entre as mães se contem professoras e auxiliares educativas. Onde estão todos os outros?
Para que o sistema educativo funcione, é fundamental que os pais aprendam a educar os seus filhos, para que os professores se centrem apenas na psicologia da sala de aula e não no acompanhamento das fragilidades afectivas e familiares de cada criança. É certo que os pais não são todos assim. Há uma grande vontade, por parte de alguns, de darem aos filhos os alicerces para crescerem saudáveis, responsáveis e felizes. Mas o percurso é longo. Só pais preparados podem ser pais críticos. E todos precisamos de pais responsáveis que contribuam para a tão apregoada melhoria do sistema educativo.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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