1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Do Princípio»?
R- O livro «Do Princípio» significa exactamente o seu título. É o primeiro livro que publico. Além disso, gosto da polissemia, dos diversos sentidos latentes nesta expressão. No contexto da minha poesia, este livro resulta da selecção de três ciclos que foram escritos em fases diferentes da minha vida, «Odes de uma Jovem Ausência», no ano de 2005, «A Arte da Fuga», em 2007, e finalmente «O Monólogo de Cassandra», em 2008. Apesar de ter bastante mais poesia escrita, considerei que estes três livros de certa forma consistiam num todo, que pretende mostrar fases diferentes por que naturalmente um poeta passa ao longo do seu crescimento como pessoa e autor, especialmente no caso de um homem ainda jovem, como eu sou. Publicar um livro, especialmente um primeiro, provocou-me sentimentos ambíguos. Quando o vi impresso, foi dos momentos mais felizes da minha vida. Os dias que antecederam e que sucederam a esse momento foram de intensa agonia. A minha intenção quando escrevo não é, à partida, publicar. Obedeço-me, simplesmente. Daí que este livro seja à partida uma traição a mim próprio: é doloroso ver-me assim tão desprotegido naquelas páginas. Porque o fiz? Talvez por esse momento em que entrei na Cotovia e vi as minha letras espalhadas num papel que já não me pertencia. Lembrar-me-ei para sempre desse sentimento. É extraordinariamente verdadeiro. Gostava de poder dizer que foi por simples generosidade que o fiz, mas muito sinceramente não sei ser crítico da minha própria criação, que tem para mim um valor que nunca terá para ninguém. Que alguém possa sentir num verso por mim escrito a força que as palavras têm em unir-se; é essa, julgo, a intenção mais altruísta deste princípio.
2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Como já referi, o livro consiste em três ciclos diferentes, e portanto não existe uma só ideia que lhes presida aos três ciclos. Não consigo precisar que ideia, se é que ela existe, está na origem de cada um destes três livros. Em relação às «Odes de uma Jovem Ausência», muito sinceramente, considero que não interessa fazê-lo. Talvez ajude na «Arte da Fuga» se o leitor atentar nas pessoas dos verbos. Uma possível «ideia» deste ciclo passa por aí. Em relação ao último, «O Monólogo de Cassandra», posso precisar o que me levou a escrevê-lo. O livro nasceu alguns anos antes de ser escrito, numa aula de Literatura Grega, com o grande mestre Pedro Serra, que no seu discurso sinfónico falava de Cassandra, a desgraçada sacerdotisa que, por castigo divino, foi amaldiçoada com o dom de prever a verdade, mas sem que nunca alguém lhe acreditasse. Pouco depois olhava para o rosto de uma grande amiga minha, que fora minha professora de História, e que por acaso encontrara na faculdade e convidara para assistir a esta aula. Estavam cobertos de lágrimas os seus olhos claros. Foi pelo mito e por esses olhos que escrevi este ciclo. E também por uma outra Cassandra de si própria, e ainda por todos os homens que na verdade ou na mentira se julgam Cassandra.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Depois de «Cassandra» já tenho outras coisas escritas; de momento escrevo um ciclo que eu considero «de estudo», que procura explorar o ritmo sincero da língua. Fujo um pouco ao sistema métrico convencional; prefiro criar a minha própria poética, com base nos meus estudos não só linguísticos e literários, mas também musicais. Há ainda muito para explorar no som da nossa própria língua. Enfim, como disse, são apenas estudos, e por enquanto não me sinto verdadeiramente feliz com os resultados. Não que o esteja em relação a todos os meus poemas mais «espontâneos», digamos assim. Gosto de trabalhar os versos apenas até a um razoável limite, que coincide quase sempre com a minha incapacidade de fazer melhor ou com a física destruição dos mesmos. Humana condição.
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Pedro Braga Falcão
R- O livro «Do Princípio» significa exactamente o seu título. É o primeiro livro que publico. Além disso, gosto da polissemia, dos diversos sentidos latentes nesta expressão. No contexto da minha poesia, este livro resulta da selecção de três ciclos que foram escritos em fases diferentes da minha vida, «Odes de uma Jovem Ausência», no ano de 2005, «A Arte da Fuga», em 2007, e finalmente «O Monólogo de Cassandra», em 2008. Apesar de ter bastante mais poesia escrita, considerei que estes três livros de certa forma consistiam num todo, que pretende mostrar fases diferentes por que naturalmente um poeta passa ao longo do seu crescimento como pessoa e autor, especialmente no caso de um homem ainda jovem, como eu sou. Publicar um livro, especialmente um primeiro, provocou-me sentimentos ambíguos. Quando o vi impresso, foi dos momentos mais felizes da minha vida. Os dias que antecederam e que sucederam a esse momento foram de intensa agonia. A minha intenção quando escrevo não é, à partida, publicar. Obedeço-me, simplesmente. Daí que este livro seja à partida uma traição a mim próprio: é doloroso ver-me assim tão desprotegido naquelas páginas. Porque o fiz? Talvez por esse momento em que entrei na Cotovia e vi as minha letras espalhadas num papel que já não me pertencia. Lembrar-me-ei para sempre desse sentimento. É extraordinariamente verdadeiro. Gostava de poder dizer que foi por simples generosidade que o fiz, mas muito sinceramente não sei ser crítico da minha própria criação, que tem para mim um valor que nunca terá para ninguém. Que alguém possa sentir num verso por mim escrito a força que as palavras têm em unir-se; é essa, julgo, a intenção mais altruísta deste princípio.
2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Como já referi, o livro consiste em três ciclos diferentes, e portanto não existe uma só ideia que lhes presida aos três ciclos. Não consigo precisar que ideia, se é que ela existe, está na origem de cada um destes três livros. Em relação às «Odes de uma Jovem Ausência», muito sinceramente, considero que não interessa fazê-lo. Talvez ajude na «Arte da Fuga» se o leitor atentar nas pessoas dos verbos. Uma possível «ideia» deste ciclo passa por aí. Em relação ao último, «O Monólogo de Cassandra», posso precisar o que me levou a escrevê-lo. O livro nasceu alguns anos antes de ser escrito, numa aula de Literatura Grega, com o grande mestre Pedro Serra, que no seu discurso sinfónico falava de Cassandra, a desgraçada sacerdotisa que, por castigo divino, foi amaldiçoada com o dom de prever a verdade, mas sem que nunca alguém lhe acreditasse. Pouco depois olhava para o rosto de uma grande amiga minha, que fora minha professora de História, e que por acaso encontrara na faculdade e convidara para assistir a esta aula. Estavam cobertos de lágrimas os seus olhos claros. Foi pelo mito e por esses olhos que escrevi este ciclo. E também por uma outra Cassandra de si própria, e ainda por todos os homens que na verdade ou na mentira se julgam Cassandra.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Depois de «Cassandra» já tenho outras coisas escritas; de momento escrevo um ciclo que eu considero «de estudo», que procura explorar o ritmo sincero da língua. Fujo um pouco ao sistema métrico convencional; prefiro criar a minha própria poética, com base nos meus estudos não só linguísticos e literários, mas também musicais. Há ainda muito para explorar no som da nossa própria língua. Enfim, como disse, são apenas estudos, e por enquanto não me sinto verdadeiramente feliz com os resultados. Não que o esteja em relação a todos os meus poemas mais «espontâneos», digamos assim. Gosto de trabalhar os versos apenas até a um razoável limite, que coincide quase sempre com a minha incapacidade de fazer melhor ou com a física destruição dos mesmos. Humana condição.
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Pedro Braga Falcão
Do Princípio
Livros Cotovia, 13€
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