A Dama Negra da Ilha dos Escravos
Memórias de Dona Simoa Godinha
Colecção: Grandes Narrativas
Nº na Colecção: 428
P.V.P.: 13,00 €
Data 1ª Edição: 07/04/2009
Nº de Edição: 1ª
Nº de Páginas: 176
Dimensões: 150x230mm
Sinopse: A personagem central deste romance, D. Simoa Godinho, é uma das figuras históricas mais intrigantes e misteriosas da Lisboa do século XVI. Tendo nascido em S. Tomé, no seio de uma família rica de fazendeiros, acabaria mais tarde, já casada com o fidalgo Luís de Almeida, por vir viver para a capital do reino, onde viria a expressar o seu carácter profundamente humano através de inúmeras obras de solidariedade, nomeadamente junto da Misericórdia. Ficamos a conhecer toda a sua vida – a infância e juventude no exotismo de S. Tomé, a paixão por Luís de Almeida, a sua influência na sociedade lisboeta da época - neste romance soberbo que tão bem soube captar as múltiplas nuances desta personalidade que tem apaixonado sucessivas gerações de historiadores.
Já o disse aqui mais do que uma vez que adoro biografias, sobretudo biografias bem contadas, que relatem factos históricos, mas que não se tornem maçudas. A história de Dona Simoa Godinho é uma dessas biografias que me encantaram logo. Primeiro porque nunca tinha ouvido falar de tal personagem, depois porque a história contada por Ana Cristina Silva está tão bem alinhavada que nos prende à história daquela que foi apelidada de A Dama Negra da Ilha dos Escravos.
A vida de Simoa Godinho é-nos relatada pela própria, numa espécie de confissão a uma sua sobrinha, Lourença, mas que poderia muito bem ser dirigida ao leitor. Filha bastarda, vive rodeada de mulheres, avó, mãe, e tia, que dominaram o seu crescimento. No entanto, desde muito nova, que Simoa começou a ver as diferenças entre brancos e pretos. Porém, tanto a sua família, como mais tarde aquele que viria a ser seu marido, trataram sempre bem os escravos, na medida do possível para aquela época. Luís de Almeida, futuro marido de Simoa, era um nobre vindo de Portugal, que ao perder todas as posses que tinha no seu país, decidiu partir para S. Tomé para amealhar fortuna. O português era uma pessoa bastante empreendedora tendo desbastado florestas e edificado fazendas, tendo chamado, inclusive, um especialista da ilha da Madeira para aperfeiçoar o fabrico do açúcar. Luís de Almeida traria ainda ideias mais humanitárias para os escravos, introduzindo mudanças profundas nos métodos de trabalho das suas fazendas.
Após anos de prosperidade em S. Tomé, Luís de Almeida e Simoa Godinho decidem estabelecer-se em Portugal. A mudança criou alguns comentários menos favoráveis ao casal na capital portuguesa, sobretudo por Simoa ser negra. Uma visão muito alargada dos costumes da época, do preconceito, da falta de higiene, e da forma como eram tratados os pobres e os doentes. Pena foi que a parte de Portugal não tivesse mais desenvolvimento. Fiquei de tal forma embrenhada nas vivências do reinado de D. Catarina e posteriormente de D. Sebastião, que queria que tivesse sido desenvolvido um pouco mais a permanência de Simoa em Portugal. No entanto, um livro a recomendar.
Excertos
“Crescem as incoerências da memória e as personagens misturam-se, mas lembro-me bem daquela tarde, teria eu quatro anos, em que vi um dos escravos cair desfalecido, arquejando de barriga para baixo sem forças. O feitor aproximou-se de chicote em riste, arremetendo contra ele, como se cada vergastada fosse uma vingança pela sua própria condição de desterrado naquela maldita ilha”.
“Abrir as palavras por dentro é fazer delas janelas para o espírito fecundar o pensamento”.
“Construir uma roça é deixar uma marca na terra que a modificará para sempre”.
“Sendo eu a selvagem que tinha a ousadia de me exibir entre os poderosos do reino, parecia ser ao mesmo tempo a única pessoa suficientemente educada para apreciar os requintes da civilização”.
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