TRECHO:
1. A LIVRE INICIATIVA
Milhões de estudantes de todos os países do mundo inteiro vão diariamente à escola e à universidade de forma inconsciente, automática, subjetiva, sem saber porque, nem para que.
Os estudantes são obrigados a estudar matemática, física, química, geografia, etc.
A mente dos estudantes está recebendo informação diariamente, mas eles jamais na vida se detêm um momento para pensar no porquê dessa informação, ou no objetivo dessa informação.
Por que nos enchemos dessa informação? Para que nos enchemos dessa informação?
Os estudantes vivem realmente uma vida mecânica, e só sabem que têm de receber informação intelectual e conservá-la armazenada na memória infiel; isso é tudo.
Aos estudantes jamais ocorre pensar sobre o que é realmente esta educação. Vão à escola, ao colégio ou à universidade porque seus pais mandaram; isso é tudo.
Não ocorre aos estudantes, nem aos professores ou professoras alguma vez perguntarem a si mesmos: Por que estou aqui? Que vim fazer aqui? Qual é realmente o verdadeiro e secreto motivo que me traz aqui?
Professores, professoras, e os estudantes em geral vivem com a consciência adormecida, agem como verdadeiros autômatos; vão à escola, ao colégio e à universidade de forma inconsciente, subjetiva, sem saber realmente nada do porque ou do para que.
É necessário deixar de ser autômato, despertar a consciência, descobrir por si mesmo o que é esta luta tão terrível para passar nos exames, para estudar, para viver em determinado lugar estudando diariamente, para passar de ano, sofrendo sustos, angústias, preocupações; para praticar esportes, para brigar com os companheiros de escola, etc.
Os professores e professoras precisam se tornar mais conscientes, a fim de cooperar na escola, no colégio ou na universidade, ajudando os estudantes a despertar consciência.
É lamentável ver tantos autômatos sentados nos bancos das escolas, colégios e universidades, recebendo informações que devem conservar na memória, sem saber porque nem para que.
Os rapazes só se preocupam em passar de ano. É dito a eles que devem se preparar para ganhar a vida, para conseguir emprego, etc. E eles estudam formando mil fantasias na mente com respeito ao futuro, sem conhecer realmente o presente, e sem saber o verdadeiro motivo pelo qual devem estudar física, química, biologia, aritmética, geografia, etc.
As meninas modernas estudam para ter a preparação que lhes permita conseguir um bom marido ou para ganhar a vida, estando devidamente preparadas para o caso de o marido as abandonar ou que fiquem viúvas ou solteironas.
Puras fantasias da mente, porque elas não sabem realmente qual haverá de ser seu futuro, nem em que idade irão morrer.
A vida na escola está é muito vaga, incoerente, subjetiva... Faz-se com que a criança aprenda, às vezes, certas matérias que na vida prática não servem para nada.
Hoje em dia, na escola, o importante é passar de ano e isso é tudo. Em outros tempos, havia pelo menos um pouco mais de ética nestas coisas. Agora, não há mais tal ética. Os pais podem subornar sigilosamente o professor ou a professora e o rapaz ou a moça, ainda que seja um péssimo estudante, passará de ano inevitavelmente.
Há moças na escola que costumam tratar bem o professor com o propósito de passar de ano e o resultado é maravilhoso, ainda que não tenham compreendido nada do que foi ensinado. De qualquer maneira, saem-se bem nos exames e passam de ano.
Há rapazes e moças prontos para passar de ano. Simples questão de esperteza em muitos casos.
Se um aluno passa vitorioso por certo exame, (algum estúpido exame), isto não indica que tenha consciência objetiva verdadeira sobre aquela matéria na qual foi examinado.
O estudante repete como um papagaio, de forma mecânica, aquela matéria que estudou e na qual foi examinado.
Isso não é estar auto-consciente daquela matéria. Isso é memorizar e repetir como um papagaio ou uma caturrita o que aprendeu; isso é tudo.
Passar nos exames, passar de ano, não significa ser muito inteligente. Temos conhecido pessoas inteligentes na vida prática que na escola jamais se saíram bem nos exames.
Conhecemos magníficos escritores e grandes matemáticos, que, na escola, foram péssimos estudantes e jamais passaram bem nos exames de gramática e matemática.
Sabemos do caso de um estudante, péssimo em anatomia, e que só depois de muito sofrer conseguiu vencer os exames de anatomia. Hoje, tal estudante é autor de uma grande obra sobre anatomia.
Passar de ano não significa necessariamente ser inteligente. Há pessoas que jamais passaram bem de ano e que são muito inteligentes.
Há algo mais importante do que passar de ano, há algo mais importante do que estudar certas matérias: é preciso ter plena consciência objetiva, clara e luminosa daquelas matérias estudadas.
Os professores e professoras devem se esforçar para ajudar os estudantes a despertar sua consciência. Todo o esforço dos professores deve ser dirigido à consciência dos estudantes. É urgente que os estudantes se façam plenamente auto-conscientes daquelas matérias que estudam.
Aprender de memória, aprender como papagaio, é simplesmente estúpido no sentido mais completo da palavra.
Os estudantes vêm-se obrigados a estudar difíceis matérias e a armazená-las na memória para passar de ano. Depois, na vida prática, tais matérias não só tornam-se inúteis como ainda são esquecidas, porque a memória é infiel.
Os rapazes estudam com o propósito de conseguir emprego e ganhar a vida. Mais tarde, se têm a sorte de conseguir tal emprego ou de se tornarem profissionais, médicos, advogados, etc., a única coisa que conseguem é repetir a mesma história de sempre: casam, sofrem, têm filhos e morrem sem terem despertado a consciência, morrem sem terem tido consciência de sua própria vida. Isso é tudo.
As moças casam-se, formam seus lares, têm filhos, brigam com os vizinhos, com o marido, com os filhos, divorciam-se, voltam a casar, enviuvam, ficam velhas, etc. Por fim, morrem depois de terem vivido adormecidas, inconscientes, repetindo como sempre o mesmo drama doloroso da existência.
Os professores e as professoras não querem se dar conta cabal de que todos os seres humanos têm a consciência adormecida. É urgente que os professores também despertem, para que possam despertar os alunos.
De nada serve encher a cabeça de teorias e mais teorias, citar Dante, Homero, Virgílio, etc., se temos a consciência adormecida, se não temos consciência objetiva, clara e perfeita de nós mesmos, das matérias que estudamos e da vida prática.
De que serve a educação, se não nos tornamos criativos, conscientes e inteligentes de verdade?
A verdadeira educação não consiste em saber ler e escrever. Qualquer mentecapto, qualquer tonto, pode aprender a ler e escrever.
Precisamos ser inteligentes, e a inteligência só desperta em nós quando a consciência desperta.
A humanidade tem 97% de subconsciência e 3% de consciência. Precisamos despertar a consciência, precisamos converter o subconsciente em consciente. Precisamos ter cem por cento de consciência.
0 ser humano não só sonha quando seu corpo físico dorme, mas também sonha quando seu corpo físico não dorme, quando está em estado de vigília.
É necessário deixar de sonhar, é necessário despertar a consciência e esse processo do despertar deve começar no lar e na escola.
O esforço dos professores deve ser dirigido à consciência dos estudantes, e não unicamente à memória. Os estudantes devem aprender a pensar por si mesmos, e não apenas repetir como papagaios as teorias alheias. Os professores têm de lutar para acabar com o medo dos estudantes.
Os professores devem permitir aos estudantes a liberdade de discordar e criticar de forma sadia e construtiva todas as teorias que estudam.
É absurdo obrigá-los a aceitar de forma dogmática todas as teorias que são ensinadas na escola, no colégio ou na universidade.
É preciso que os estudantes percam o medo para que aprendam a pensar por si mesmos. É urgente que os estudantes percam o medo, para que possam analisar as teorias que estudam.
O medo é uma das barreiras para a inteligência. O estudante com medo não se atreve a discordar, e aceita como artigo de fé cega tudo o que disseram os diferentes autores.
De nada serve que os professores falem de intrepidez, se eles mesmos têm medo. Os professores têm de estar livres do temor. Aqueles que temem a crítica, o que dirão, etc., não são na verdade inteligentes.
O verdadeiro objetivo da educação deve ser acabar com o medo e despertar a consciência.
De que serve passar nos exames, se continuamos medrosos e inconscientes?
Os professores têm o dever de ajudar os alunos, desde os bancos da escola, para que sejam úteis na vida, mas enquanto existir o medo ninguém poderá ser útil na vida. A pessoa cheia de temor não se atreve a discordar da opinião alheia. A pessoa cheia de temor não pode ter livre iniciativa.
Evidentemente, é função de todo professor ajudar a todos e a cada um dos alunos de sua escola a estarem completamente livres do medo, a fim de que possam agir de forma espontânea, sem necessidade de que se lhes diga ou de que se lhes mande.
É urgente que os estudantes percam o medo, para que possam ter livre iniciativa, espontânea e criadora. Quando os estudantes por iniciativa própria, livre e espontânea, possam analisar e criticar as teorias que estudam, deixarão de ser meros entes mecânicos, subjetivos e estúpidos.
É urgente que exista a livre iniciativa, para que surja a inteligência criadora nos alunos e alunas. É necessário dar liberdade de expressão criadora, espontânea e sem condicionamento de espécie alguma, a todos alunos e alunas, a fim de que possam se fazer conscientes daquilo que estudam.
O livre poder criativo só pode se manifestar quando não temos medo da crítica, do que dirão, da férula do professor, das réguas, etc.
O medo e o dogmatismo degeneraram a mente humana. Faz-se urgente regenerá-la mediante a livre iniciativa, espontânea, livre de medo...
Precisamos nos tornar conscientes de nossa própria vida e esse processo do despertar deve começar nos próprios bancos da escola.
De pouco nos servirá a escola, se dela sairmos inconscientes e adormecidos. A abolição do medo e a livre iniciativa darão origem à ação espontânea e pura.
Por livre iniciativa, os alunos e alunas, em todas as escolas, deveriam ter direito a discutir em assembléia todas as teorias que estão estudando.
Somente assim, mediante a libertação do temor e com liberdade para discutir, analisar, meditar e criticar sadiamente o que estamos estudando, é que poderemos nos tornar conscientes dessas matérias e não meramente papagaios ou caturritas que repetem o que acumulam na memória.
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