Escrito entre 1603 e 1606, sendo levado pela primeira vez à cena em Dezembro de 1606, o Rei Lear é considerado uma das obras mais importantes de Shakespeare e é aquela que é mais lida e representada na Grã-Bretanha, até a 1ª fase da série “Black Adder” é inspirada nesta obra.
Poder, traição, vingança e amores, são os temas principais desta obra, focada num velho rei que faz doações de todos os seus domínios às suas 3 filhas tendo, contudo, como condição que todas elas no momento de receber essa doação, dissessem palavras bajuladoras ao rei. Porém uma delas recusa-se a ser hipócrita e, num acesso de fúria e loucura, Lear renega essa filha (Cordélia), deserdando-a e dividindo então o reino pelas outras duas.
Os conselheiros de Lear tentam alertá-lo para a terrível injustiça que ele acaba de cometer mas, e à boa maneira medieval, Lear não lhes dá ouvidos e com o orgulho ferido expulsa Cordélia do seu reino.
Uma vez na posse das terras, as duas filhas (Goreil e Regane) logo encetam uma série de contactos a fim de usurpar o reino de Lear e é neste contexto de vilanias e traições, de combinações secretas e de vis acções que se desenvolve toda esta famosa peça de Shakespeare.
Tal como sucedeu em praticamente todas as suas obras, para não dizer mesmo em todas, Shakespeare não foi o criador do trama de Rei Lear. Obras como “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Mcbeth”, já eram bem conhecidas na época de Shakespeare, no entanto o que Shakespeare fez não se tratou de plágio. Shakespeare teve o génio de “pegar” nessas histórias e de as tirar do circulo do folclore local, empregando a sua pena para escrever ou rescrever obras fenomenais. Ou seja, ele “pegou” em historiazecas e rescreveu-as mantendo, contudo, o fulcro original.
A história do Rei Lear surge pela primeira vez em latim na “História Britonum de Geoffrey os Monmouth” em 1135. daí para a frente, são várias as versões de “Lear”, sempre tendo como trama principal o rei louco e as suas filhas. Assim constata-se que Shakespeare teve acesso a uma enorme bibliografia que o ajudou a elaborar a sua obra, no entanto e pelos textos anteriores, Shakespeare deu-lhe nova forma, e porquê? Simplesmente porque deixou o fulcro da história intocável mas introduziu velhas lendas britânicas, colocou o seu ideal de justiça e inclusive narrou factos astronómicos verificados naquela época (1603-1606).
Este Rei Lear torna-se assim mais de que uma mera peça teatral. Para além de expor muito do pensamento da Renascença, esta, assim como todas as peças de Shakespeare, é um retracto da Inglaterra medieval com todos os tramas que caracterizavam aquelas épocas.
Pessoalmente e tendo já lido praticamente toda a obra de Shakespeare, que considero o primeiro mestre da literatura moderna, aquele que serviu e serve de escola para muitos escritores, esta peça não é das que mais aprecio.
Não tem a força e o carácter de Macbeth, Othello ou Hamlet. Não tem a ternura e o tom trágico de Romeu e Julieta. Os tramas das peças mencionadas empolgam, fazem-nos vibrar, deliciam-nos. Este Rei Lear, embora seja marcado por traições e encontros conspiratórios, não tem a força dos diálogos de outras peças e parece-me também que faltam excertos que interliguem alguns dos actos, pois há acontecimentos que se sucedem um pouco sem nexo e de uma forma precipitada.
Esta não é das melhores obras de Shakespeare, pessoalmente prefiro Mcbeth, Hamlet e Othello.
Nenhum comentário:
Postar um comentário