terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Alquimia, de Stanislas Klossowski de Rola

TRECHO:
A grande obra
A primeira tarefa do discípulo consiste na busca da matéria-prima. O seu nome tradicional - Pedra dos Filósofos - nos dá uma idéia bastante clara da substância, servindo-nos para começar a identificá-la. “É realmente uma pedra porque ao ser extraída das minas apresenta as mesmas características exteriores que o resto dos minerais (Fulcanelli, Les Demeures Philosophales)”. Esta Pedra dos Filósofos, ou "sujeito" desta arte, não deve ser confundida com a Pedra Filosofal. Dito sujeito unicamente se converte na Pedra Filosofal quando, após ser transformada e aperfeiçoada pela arte, alcança a sua perfeição final e por conseguinte a propriedade da transformação. Na literatura alquímica, diz-se que a matéria-prima tem um corpo imperfeito, uma alma constante e uma cor penetrante, e que contém um mercúrio claro, transparente, volátil e móvel. Esconde no seu coração o ouro dos filósofos e o mercúrio dos sábios. Recebeu uma multidão de nomes, mas nunca nenhum alquimista revelou publicamente a sua verdadeira natureza. Uma das maiores dificuldades que apresenta a alquimia consiste em identificar esta matéria. Nos textos alquímicos quase sempre se omite toda forma completamente enganosa. A Obra é preparada e levada a cabo utilizando esta única substância que, após ser identificada, deve ser obtida. Para isso é essencial viajar até o lugar da mina e obter o sujeito no seu estado bruto. Isto em si já é uma tarefa árdua, e é necessário fazer um horóscopo para determinar qual é o momento mais propício. A Obra deve ser realizada na primavera do Hemisfério Norte, sob os signos de Áries, Touro ou Gêmeos (a época mais propícia para começar é a de Áries, cujo símbolo celeste corresponde a linguagem esotérica ou críptica, ao nome da matéria-prima). Como preliminar à Obra, o sujeito deve ser purificado, libertado dos detritos. Isto se realiza utilizando técnicas bem conhecidas pelos metalúrgicos; diz-se, no entanto, que ditas técnicas requerem muita paciência, ingênio e esforço. Outra operação consiste na preparação do fogo secreto, Ignis Innaturalis, também denominado fogo natural. Os alquimistas definem este fogo secreto ou Primeiro Agente, como água seca que não molha as mãos e como o fogo que arde sem chamas. Este é um tema que deu origem a incontáveis equívocos e confusões. Pontanus reconhece ter equivocado neste ponto mais de duzentas vezes. Realmente, essa substância é o sal, preparado a partir de cremor tártaro mediante um processo que requer perícia e um perfeito conhecimento da química. O processo inclui a utilização do orvalho primaveril, que se recolhe de uma forma ingeniosa e poética e que a continuação é o destilado. Quando já estão preparados a matéria-prima e o Primeiro Agente da Obra, os preliminares se dão praticamente por finalizados. A matéria-prima é introduzida num morteiro de ágata (ou de alguma outra substância de grande dureza), é amassada com o maço, misturado com o fogo secreto e umedecida com o orvalho. A "mistura" resultante é introduzida na continuação, num recipiente herméticamente fechado ou "Ovo Filosofal", que se coloca no interior do forno de Atenor, o forno dos Filósofos. Este Atenor está desenhado de tal forma que o ovo pode se manter a uma temperatura constante durante longos períodos de tempo. O fogo exterior estimula a ação do fogo interior, razão pela qual deve ser controlado; em caso contrário embora o recipiente não se rompa, todo o trabalho se estragará. Durante essa etapa inicial, o calor do nascimento dos pintinhos tem muitos pontos em comum com o processo alquímico. Dentro do ovo, os dois princípios contidos na matéria prima - um solar, quente e masculino, conhecido como enxofre, e o outro lunar, frio e feminino, conhecido como mercúrio - atuam um sobre o outro. “Então, estes dois (que Avicena chama a cadela Corascene e o cão Armênio)” - escreve Nicolas Flamel - "estes dois, digo, ao colocá-los juntos no recipiente do sepulcro, se mordem de uma forma cruel e pelo seu forte veneno e terrível ira nunca se soltam a partir do momento em que se agarram (se o frio não o impede), até que os dois como conseqüência das suas babas venenosas e dos seus ataques mortais, terminam completamente ensangüentados e acabam matando-se e cozinhando-se no seu próprio veneno que, depois da sua morte, os converte em formas naturais e primitivas, para passar depois assumir uma forma nova, mais nobre e melhor". Desta forma, a morte - que é uma separação - lhe segue um longo processo de decadência que dura até que tudo apodrece e os contrários se dissolvem no nigredo líquido. Esta escuridão que supera todas as outras escuridões, este negrume entre os negrumes, é o primeiro signo inequívoco de que se dá conta de estar no bom caminho; daí o aforismo dos alquimistas: “Não há geração sem corrupção”. A etapa de negrume acaba quando a superfície do mercúrio voa pelo ar alquímico dentro do microcosmo do Ovo Filosofal, "no ventre do vento", recebendo as influências celestinas e puricicadoras de cima. Volta a cair, sublimado, sobre a Nova Terra que finalmente emerge. Ao ir aumentando muito lentamente a intensidade do fogo exterior, as partes secas vão ganhando terreno às úmidas, até que o continente aparecido se coagula e se desseca completamente. Enquanto isto sucede, aparece um incontável número de belas cores que correspondem à etapa conhecida como Causa do Pavão Real. No final do "segundo trabalho" aparece a Brancura, o albedo. Quando se alcança a Brancura, diz-se que o sujeito já tem força suficiente para resistir ao calor do fogo e só tem que dar um passo mais para que o Rei Vermelho ou Enxofre dos Sábios, saia do ventre da sua mãe e irmã, Ísis ou o mercúrio, Rosa Alva, a Rosa Branca. No terceiro trabalho se recapitulam as operações do primeiro, que adquirem agora um novo significado. Começa com pompa de uma boda real. O Rei se reúne no Fogo do Amor (o sal ou fogo secreto) com a Rainha bendita. Como Cadmo atravessou a serpente com a sua lança, o enxofre vermelho fixa o mercúrio branco, e com esta união se consegue a perfeição final, nascendo a Pedra Filosofal.

Resumindo brevemente:
Dentro da Obra existem três pedras ou três trabalhos ou três graus de perfeição.
O primeiro trabalho termina quando o sujeito está completamente purificado (mediante sucessivas destilações e solidificações) e reduzindo a uma substância mercúrica pura.

O segundo grau da perfeição se alcança quando dito sujeito foi cozido, digerido e fixado, convertido-se no enxofre incombustível.

A terceira pedra aparece quando o sujeito foi fermentado, se multiplicou e alcançou a Perfeição Final, sendo uma tintura fixa e permanente: a Pedra Filosofal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário