sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

EM PRIMEIRA MÃO | Dois Poemas de Alexandra Malheiro














NAQUELA HORA


Naquela hora
tocavam violinos
nos teus olhos,
naquela hora
sossegavam dedos e
mãos nos meus sonhos.

Naquela hora,
havia pássaros
sussurrando nas árvores e
havia um arco-íris
a desenhar todas as cores
pelo teu corpo.

Naquela hora
tu eras só tu
e eu...,
só eu.

Naquela hora
pouco faltou
para que tu e eu
fossemos, de repente,
nós!

Naquela hora
eras chuva
e eras vento,
naquela hora
o teu olhar era tudo,
era o momento.

Naquela hora
eras estrume,
eras fermento,
naquela hora
eras perfume e
eras dor e apenas
um nadinha mais...
e eras amor!


DECLARAÇÃO

Escrevo poemas nos guardanapos dos cafés.
E não é fácil fazê-lo –
pelo menos como eu o faço –
de esferográfica,
o papel tende a rasgar-se,
é preciso prende-lo bem
sob os dedos,
estica-lo
para que se não rompa!

Agora mesmo, que o faço,
penso
como é difícil
e notável
esta arte que possuo –
a de escrever poemas
nos guardanapos dos cafés.

É bem mais fácil apenas frequentá-lo
se beber o cimbalino quente
sem pensar nos poemas.
Melhor fora que guardasse
as palavras no bolso,
sem papel nem esferográfica,
antes elas nem me assaltassem
quando tomo o meu café.

Mais valia a montra
e o que vai para além dela!
Ainda por cima
o papel amachuca-se nos bolsos
e depois nem consigo ler,
tudo fica tão ilegível e baço
como a vida para além da montra do café.

Afinal... tudo faz sentido!
__________
Alexandra Malheiro
A Urgência das Palavras
Edições Ecopy
> LER Entrevista da autora sobre este livro

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