segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A estética no espelho dos tempos e das ideias

O grande mérito deste livro é desde logo o facto de estar disponível entre nós, a contrariar a tendência instalada de fugir a temas eventualmente pouco mobilizadores. Ou seja, dessa maçada que é a filosofia, o que se nota ainda mais quando, ao procurar-se este tipo de obras nas livrarias, elas aparecem catalogadas e exibidas nas estantes e escaparates das Artes e afins, e não da Filosofia.
A publicação de uma obra de apresentação na área da filosofia da Estética, com o que isso pressupõe de capacidade historiográfica e eclectismo no campo das ideias, é por si iniciativa de enaltecer. Mais quando o desprezo pela área das filosóficas atingiu o ponto que se sabe.
Uma questão perante o conteúdo desta obra: percorrendo os caminhos desde Platão até ao século XIX, num dos capítulos, o livro deixa no silêncio mais completo um pensador que muito escreveu e pensou sobre a estética: Friedrich Hegel. Na verdade, há mesmo quem veja na sua obra o início da configuração da estética como área filosófica autónoma.
Mas este silêncio sente-se noutros tempos e sobre outros pensadores, sendo que o contributo da filosofia marxista, retomada e contrariada ou reforçada pelos neo-marxistas da Escola de Frankfurt, fica aqui totalmente em branco. E, no entanto, como outras escolas filosóficas, a marxista reflecte sobre o impacto da política na área da estética, e vice-versa. Influências que marcaram da pintura ao cinema, passando por quase todas as formas de expressão artísticas.
São, estes, dois exemplos, numa consulta rápida da obra, de lapso ou omissão. Mas, pelo contrário, obtêm-se aqui uma síntese nem sempre fácil das teorias culturais dos nossos tempos, com capítulos valiosos, como é o da avaliação da arte, que nos nossos dias, do campo teórico ao prático, tanto leva às maiores contradições e divergências.
Sendo como é uma obra datada (a primeira edição, inglesa, é de 1997), George Dickie acaba a enumerar as seis revoluções que ele analisa, registadas ao longo da História – “a odisseia das noções centrais e organizadoras da estética e as mudanças e deslocações que sofreram desde a Grécia antiga até ao presente”.
Quando ele fechou esta introdução à Estética, “as três revoluções do século XX são acontecimentos ainda em curso”, prevendo: “Não há dúvida que mais revoluções estão por vir.”

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George Dickie
Introdução à Estética
Editorial Bizâncio, 15€

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