O balanço da quase totalidade dos editores é muito positivo, comprovando um aumento do número de visitantes e do volume de vendas. Depois de vários anos de «crise», a Feira volta a dar sinais de vida e responde às vozes que, de há algum tempo, se têm levantado contra a localização e contra o modelo que existe. As razões para esta inversão, que precisará ainda de confirmação nos próximos anos para se poder falar de uma verdadeira retoma, poderão ter origem em três ou quatro factores.
A «descida» da Feira para o início do Parque Eduardo VII, ficando mais perto do Marquês de Pombal (agora que finalmente terminaram as obras do Túnel do Marquês), levou a que o colorido dos diversos stands se tornasse mais visível e mais presente nessa zona central da cidade. Consequentemente, os acessos por meio de transportes públicos ficaram mais facilitados, e as pessoas optaram por fazer da Feira um local de passeio no tempo de espera entre dois autocarros.
Uma segunda razão poderá estar relacionada com o Plano Nacional de Leitura. Apesar de ter completado apenas um ano de vida, e de ser ainda cedo para retirar conclusões definitivas sobre um projecto que terá a duração de dez anos, é já possível sentir alguns indícios positivos de um Plano que sugere livros, que organiza acções de promoção da leitura, que mobiliza escolas, alunos, pais e professores. E por essa razão, por sentirem necessidade de comprar livros para os filhos, observa-se que muitos pais estão mais atentos e motivados para ler e fazer ler.
A teceira razão poderá ter a ver com o facto de as livrarias se terem tornado, na sua maioria, depósitos de novidades, reflectindo uma tendência que pode ser devastadora para catálogos de editoras que não encontram forma de furar as teias de um mercado livreiro cada vez mais concentrado. Se entrarmos hoje numa livraria e pedirmos um livro que tenha sido editado há mais de um ano, poucos serão os casos em que veremos o nosso desejo satisfeito. A resposta mais habitual é a de que o livro se encontra esgotado. Esporadicamente poderão dizer-nos que é possível encomendar o livro. O facilitismo reinante contribui para o esquecimento de um conjunto de obras que se vêem derrotadas pelos fenómenos de popularidade de cada momento. A Feira do Livro, ou melhor, o conjunto de Feiras do Livro que se realizam cada vez com maior frequência e em diversos locais do país, combate esta tendência, possibilitando às editoras um escoamento de fundos de edição que engordam os seus armazéns. Se esta noção se massificar, encontraremos leitores que farão das Feiras o ponto de encontro com o livro, relegando as livrarias para um lugar que não deveriam ocupar, o de fiéis seguidores de modas inconsequentes e nefastas.
Muito ainda deverá ser feito para que se possam tirar conclusões definitivas e proveitosas. Esperemos que o facto de, pela primeira vez, as duas associações se terem reunido na organização da Feira do Livro possa resultar num trabalho pacífico e consequente que traga as melhorias que todos esperamos.
Da Feira, trouxe para casa os seguintes livrinhos:
A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, ed. Antígona;
Diário da Guerra aos Porcos, do mesmo autor, ed. Cavalo de Ferro;
Um Homem Sem Pátria, de Kurt Vonnegut, ed. Tinta da China.
Para o ano, outros se seguirão!
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