Levámos finalmente o Surpresa! Surpresa! à Leonor. Eu estava bastante surpreendida pela sua insistência em querer o livro. Já tinham passado mais de duas semanas desde que o pedido fora feito ao tio e ela ainda não se esquecera...
Assim que chegámos, o Sérgio ofereceu-lhe o livro e ela logo se sentou a percorrê-lo atentamente. Sentei-me ao seu lado, para observar melhor as reacções, e foi então que o mistério se deslindou: a pequena Leonor já conhecia o livro. Na escola, a educadora já tinha lido o livro e provavelmente o grupo tê-lo-ia trabalhado de alguma forma, porque rapidamente percebi que a nossa sobrinha já sabia a história. E era precisamente por isso, por já conhecer o livro, que ela o queria para si. Para o poder explorar quantas vezes desejasse, ao ritmo que entendesse.
Pediu-me para contar a história várias vezes. Contei-lha duas vezes consecutivas e resolvi desafiá-la a contar-ma. No início ela achou que seria muito difícil, mas não é assim tão complicado estimular uma criança de cinco anos, se mostrarmos que acreditamos que ela é capaz mas que ajudaremos no que for preciso.
E assim foi, repetidamente a Leonor corria com o dedo as linhas de palavras que ainda não lê mas já identifica, conseguindo reproduzir quase integralmente algumas frases. Para outras, cujas relações de necessidade eram ainda difíceis de memorizar, pedia auxílio. Recorríamos então a pequenas questões de interpretação que a contextualizavam na cena.
Fiquei depois a pensar que o comportamento da Leonor exemplifica alguns dos princípios teóricos de promoção da leitura, antes de a criança começar a adquirir as competências para a leitura autónoma: a importância da relação com o objecto; a exploração do livro como um todo, e não apenas como uma narrativa ou algumas ilustrações; a necessidade de ouvir a mesma história repetidamente; a importância da leitura a par para dar à criança ferramentas de autonomização relativamente ao acto de ler, bem como para a estimular para novos desafios em torno da leitura.
Para além de todas estas questões programáticas, é de toda a justiça dizer que, quando lemos a par com uma criança, aproximamos a nossa apreensão da dela, e isso permite-nos disfrutar do livro de outra forma. Recorda-nos a nossa própria infância.
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