José Saramago, enquanto pessoa, gera amores e ódios. De uma personalidade irascível, alia a sua experiência de vida ao seu pedantismo o que, com o status adquirido, o torna uma das maiores personalidade do panorama português dos sécs. XX e XXI.
Esse pedantismo a roçar por vezes o exagero, é transportada para a maioria das suas obras, onde e com uma mestria que lhe granjeia invejas, alia o seu dom de contador de estórias à de crítico de toda uma sociedade (fundamentalmente a portuguesa) e também ao da escrita ou, se quisermos, uma construção do texto e da narração inovadora e difícil de acompanhar.
Pessoalmente gosto e muito do Saramago crítico, não me identifico com a sua ideologia política nem compreendo, por vezes, as suas observações, mas e mesmo vivendo em Espanha, não se contenta com o rumo do nosso país e gosto especialmente quando ele resolve arrasar nos seus romances, como são os casos do "Ensaio sobre a cegueira" e "Evangelho segundo J.C.".
No entanto e desta vez, proponho-me opinar sobre o Memorial do Convento que é, quanto a mim, uma das Grandes Obras da literatura portuguesa do séc. XX, um portento de inspiração e de uma beleza artística apenas ao alcance dos Maiores.
Ler Saramago, como anteriormente referi, não é fácil. Porém à medida que começamos a compreender o seu estilo, a leitura torna-se fluída e todo aquele aglomerado de letras, aparentemente sem pontuação, deixa de ter importância, porque a pontuação está lá e o homem tem mesmo jeito para contar estórias.
Quanto ao livro:
Temos duas personagens principais que já correram mundo: Blimunda e Baltasar. Ela "Sete Luas" e ele "Sete Sóis", ela uma mulher que consegue ver os corpos à transparência quando em jejum e ele, um ex-soldado que regressa da guerra sem uma mão e quase sem alma, apenas o seu corpo lhe dá a aparência de ser humano.
Numa época dominada pela inquisição, um padre constrói ume estranho artefacto a que lhe chama Passarola e tenta convencer o rei que aquilo pode voar, esse rei (D. João V) bem tenta que a sua mulher, a rainha D. Maria Josefa, engravide, no entanto "se quiseres um infante, manda construir um convento" diz-lhe um monge e o rei, temente a Deus, faz nascer a principal figura do livro: O Convento de Mafra.
Acompanhamos então toda a construção e ao mesmo tempo as aventuras e desventuras dos personagens antes mencionados, para, no fim, ficarmos estupidificados com a surpresa que Saramago nos guarda. Já li o livro três vezes e fico sempre com um nó na garganta com as páginas finais.
Um livro que já deu uma ópera que e pelo que tenho lido, deve ser arrepiante, pois no fim existe um coro de padecimento e martírios...
Um romance extraordinário!
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