Nos últimos ateliers Ver para Crer, resolvi inserir o livro Palavra que voa no grupo de livros que apresento aos alunos para votação. E, depois dos resultados alcançados em Alcabideche, repetimos a estratégia. Desta vez, algumas reacções já não foram surpresa para nós, nomeadamente a pouca empatia com a capa, a estranheza perante o objecto, e o agrado por parte dos não leitores, que sempre se sentem impelidos a votar no livro com menos texto. Por isso, o meu objectivo deixou de ser apenas demonstrar que um álbum não se destina apenas a crianças, e estendeu-se à motivação para a descoberta do simbólico.
Numa actividade de apresentação, os alunos não ficam chocados se lhes ler este pequeno livro, e estão até bastante atentos porque querem ter o máximo de informações possível, que lhes permita formular um juízo crítico. Assim, ganho a concentração necessária para que sigam a leitura a par da visualização das imagens, acontecendo até sugerirem significados ou estabelecerem relações entre a ilustração e o texto, à medida que passo as páginas. São poucos minutos em que experimentam uma nova linguagem, em que se questionam e absorvem sinais, sem que sejam obrigados a decifrações. Ficam apenas as sensações que a obra desperta em cada um, sem necessidade de comunicar efeitos. Em Loulé, como em Alcabideche, duas ou três alunas ficaram realmente interessadas no livro, o que não deixa de ser interessante, visto que já o conheciam. Ao contrário do que se passou com os restantes seis livros, este foi aberto e explorado. Assim, o seu interesse não depende já da curiosidade mas sim da empatia com aquele objecto que provavelmente desejam aprofundar.
Creio ser esta uma forma positiva de despertar adolescentes, que se deixam formatar por fórmulas de identidade e identificação massiva com o grupo, para outras perspectivas. E, embora sem falar disso, espero de alguma forma contribuir para acabar com o preconceito de que todas as manifestações da linguagem devem ser compreendidas, isto é, assimiladas pelas ferramentas da comunicação.
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