«Uma nova fase de criação inicia-se a partir de 1850 e prossegue até cerca de 1900,marcada por duas regras: a criação verbal (Alice no País das Maravilhas em Inglaterra) por um lado, e por outro, o interesse dos escritores pela dialéctica interior dos heróis, aliado à noção de estruturas estereotipadas movimentando-se em torno do Bem e do Mal. Consequentemente, muitas vezes há lugar a um maniqueísmo decorrente da ausência de estimulação da imaginação ou de olhar crítico sobre a sociedade. É contra esta tendência que nascem as obras de Collodi (Pinóquio), Lewis Carroll (Alice no País das Maravilhas), Mark Twain (Huckleberry Finn). Para o leitor criança, é a descoberta de um mundo, é um convite para conhecer o que ignora. O escritor torna-se um escritor-criador.»
p.28
Laurence Simon, idem
Os Clássicos referidos no texto nascem das rupturas que alguns escritores operam com o moralismo, o didactismo e o maniqueísmo que imperam na literatura com protagonistas infantis, ou destinadas a crianças e jovens. O escritor-criador é aquele que pensa comportamentos, que lhes dá vida, que cria ambientes, que ultrapassa os limites da lógica causal ou espacio-temporal, que recupera o mágico e o fantástico, que faz dialogar o quotidiano e a imaginação. Em suma, esta ruptura não é mais que uma libertação criativa relativamente ao cânone. Essa libertação conferiu a estes textos tal identidade e unicidade que persistem até hoje no imaginário colectivo de crianças e adultos. Os outros, que respondiam a fórmulas, desapareceram no filtro do tempo.
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