A criança aparece como personagem: protagonistas e leitores confundem-se no processo de escrita e de recepção do texto literário. O interesse social pela criança aumenta, pelo que esta passa a personificar temáticas e a protagonizar aventuras. Como conclusão para esta relação causal, surge uma ideia de literatura juvenil. Neste momento, ao contrário do anterior, o género depende do tema do livro, e não da apropriação do texto literário pelos jovens. Se o lerem, será nesta lógica algo de natural, visto serem romances que lhes são dedicados, logo destinados.
«É em 1836 que uma obra se distingue: a de Louis Desnoyers: Mésaventures de Jean Paul Choppart, primeiro herói infantil a procurar o aconchego do lar depois de ter experimentado o espírito de aventura e a fuga à realidade. É o mesmo autor que escreve as Aventures de Robert-Robert, primeiro romance para adolescentes e primeira visão da criança individualizada. É também o período de tomada de consciência de uma infância infeliz: a criança é colocada no centro de um tema social (Victor Hugo: Les Misérables, Charles Dickens: Oliver Twist, David Copperfield). A infância, símbolo de inocência nessa altura, torna-se símbolo de perseguição. A infância é um ideal de pureza e de virtude face à injustiça da sociedade. Encontramos então dois tipos de infância representados: a infância socialmente privilegiada (a dos heróis da Condessa de Ségur) e a infância desfavorecida (Dickens e Hugo)» p. 27
Laurence Simon, idem.
Apesar de serem evidentes as diferenças entre o registo muitas vezes maniqueísta da Condessa de Ségur, claramente marcado por uma pedagogia moral, e o visualismo depurado da crueldade de Charles Dickens, convém não esquecer que os heróis da Condessa nem sempre eram privilegiados socialmente. A oposição entre ricos e pobres, a discriminação, o medo e os valores morais associados muitas vezes aos mais fracos e mais pobres também constavam da sua galeria temática.
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