domingo, 22 de junho de 2008

O livro dos espíritos, de Allan Kardec

Prolegômenos

Fenômenos alheios às leis da ciência humana se dão
por toda parte, revelando na causa que os produz a ação de
uma vontade livre e inteligente.
A razão diz que um efeito inteligente há de ter como
causa uma força inteligente e os fatos hão provado que essa
força é capaz de entrar em comunicação com os homens
por meio de sinais materiais.
Interrogada acerca da sua natureza, essa força declarou
pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram
do invólucro corporal do homem. Assim é que foi
revelada a Doutrina dos Espíritos.
As comunicações entre o mundo espírita e o mundo
corpóreo estão na ordem natural das coisas e não constituem
fato sobrenatural, tanto que de tais comunicações se
acham vestígios entre todos os povos e em todas as épocas.
Hoje se generalizaram e tornaram patentes a todos.
Os Espíritos anunciam que chegaram os tempos marcados
pela Providência para uma manifestação universal e
que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua
vontade, têm por missão instruir e esclarecer os homens,
abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.
Este livro é o repositório de seus ensinos. Foi escrito
por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para
estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta
dos preconceitos do espírito de sistema. Nada contém
que não seja a expressão do pensamento deles e que não
tenha sido por eles examinado. Só a ordem e a distribuição
metódica das matérias, assim como as notas e a forma de
algumas partes da redação constituem obra daquele que
recebeu a missão de os publicar.
Em o número dos Espíritos que concorreram para a
execução desta obra, muitos se contam que viveram, em
épocas diversas, na Terra, onde pregaram e praticaram a
virtude e a sabedoria. Outros, pelos seus nomes, não pertencem
a nenhuma personagem, cuja lembrança a História
guarde, mas cuja elevação é atestada pela pureza de seus
ensinamentos e pela união em que se acham com os que
usam de nomes venerados.
Eis em que termos nos deram, por escrito e por muitos
médiuns, a missão de escrever este livro:
“Ocupa-te, cheio de zelo e perseverança, do trabalho
que empreendeste com o nosso concurso, pois esse trabalho
é nosso. Nele pusemos as bases de um novo edifício que
se eleva e que um dia há de reunir todos os homens num
mesmo sentimento de amor e caridade. Mas, antes de o
divulgares, revê-lo-emos juntos, a fim de lhe verificarmos
todas as minúcias.
“Estaremos contigo sempre que o pedires, para te ajudarmos
nos teus trabalhos, porquanto esta é apenas uma
parte da missão que te está confiada e que já um de nós te
revelou.
“Entre os ensinos que te são dados, alguns há que
deves guardar para ti somente, até nova ordem. Quando
chegar o momento de os publicares, nós to diremos. Enquanto
esperas, medita sobre eles, a fim de estares pronto
quando te dissermos.
“Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos1,
porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se
acham reunidos todos os princípios materiais que melhor
podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o
espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é
o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e
tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito
adquire conhecimentos.
“Não te deixes desanimar pela crítica. Encontrarás
contraditores encarniçados, sobretudo entre os que têm
interesse nos abusos. Encontrá-los-ás mesmo entre os Espíritos,
por isso que os que ainda não estão completamente
desmaterializados procuram freqüentemente semear a dúvida
por malícia ou ignorância. Prossegue sempre. Crê em
Deus e caminha com confiança: aqui estaremos para te
amparar e vem próximo o tempo em que a Verdade brilhará
de todos os lados.
“A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e
tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões
dissidentes. Mas, todos os que tiverem em vista o
grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento:
o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno,
1 A cepa que se vê na pág. 68 é o fac-símile da que os Espíritos
desenharam.
que prenderá o mundo inteiro. Estes deixarão de lado as
miseráveis questões de palavras, para só se ocuparem com
o que é essencial. E a doutrina será sempre a mesma, quanto
ao fundo, para todos os que receberem comunicações
de Espíritos superiores.
“Com a perseverança é que chegarás a colher os frutos
de teus trabalhos. O prazer que experimentarás, vendo a
doutrina propagar-se e bem compreendida, será uma recompensa,
cujo valor integral conhecerás, talvez mais no
futuro do que no presente. Não te inquietes, pois, com os
espinhos e as pedras que os incrédulos ou os maus acumularão
no teu caminho. Conserva a confiança: com ela
chegarás ao fim e merecerás ser sempre ajudado.
“Lembra-te de que os Bons Espíritos só dispensam assistência
aos que servem a Deus com humildade e desinteresse
e que repudiam a todo aquele que busca na senda do
Céu um degrau para conquistar as coisas da Terra; que
se afastam do orgulhoso e do ambicioso. O orgulho e a ambição
serão sempre uma barreira erguida entre o homem e
Deus. São um véu lançado sobre as claridades celestes,
e Deus não pode servir-se do cego para fazer perceptível
a luz.”
São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de
Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão,
Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc., etc.

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