quinta-feira, 3 de julho de 2008

De visita a Casa do Óscar

É apresentado amanhã o segundo disco de Joana Machado, Casa do Óscar. Depois de CRUde, este regresso marca uma viagem pelos sons e pelas palavras de alguns dos maiores escritores/compositores brasileiros. Um disco a conhecer pela seriedade da produção, pelos arranjos de Afonso Pais e pela voz de Joana Machado, que imprime a cada palavra uma marca de limpidez.



“A casa do Oscar era o sonho da família.
Havia o terreno para os lados do Iguatemi, havia o anteprojecto presente no próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar.
Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar.
Mais tarde, num aperto, em vez de vender o Museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno no Iguatemi.
Deste modo, a casa do Oscar antes de existir foi demolida, ou ficou intacta, suspensa no ar como a casa do beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra a minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: ‘Só volto pra casa quando for a casa do Oscar!’
Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projecto do Oscar.
Vivi um seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco.
Decidi a ser o Oscar eu mesmo, regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe.
Mas ao professor de topografia que me reprovou no exame oral, respondi calado: ‘Lá em casa tem um canudo com a casa do Oscar...’
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim.
Quando minha música sai boa, penso que parece música de Tom Jobim.
Música de Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar.”

Chico Buarque de Hollanda

Fotografia e texto de apresentação de A Casa do Óscar retirados do site www.joanamachado.com
Ficheiro musical: Boto, in A Casa do Óscar

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