sexta-feira, 4 de julho de 2008

Isabel D'Avila Winter | Dona Stella e as suas Rivais


1. O que representa, no contexto da sua obra, o romance «Dona Stella e as Suas Rivais»?
R-E o meu primeiro livro, e só por isso muito importante. Não sei se alguma vez vou ficar tão apaixonada pelas minhas personagens como fiquei pela Stella – inspirada na minha tia-avó, que era casada com o compositor Luís de Freitas Branco, a quem chamei Maestro – e todas as outras personagens que me foram sugeridas pelos muitos rumores e histórias de família que rodearam a sua vida de casada. Escrevi o livro na Austrália, onde estou radicada, e onde estou aos poucos a estabelecer-me como escritora. Escrever este livro foi para mim uma maneira de ter por companhia Lisboa, as minhas raízes culturais, a minha família, e também um certo espírito algo trágico que nela existe pela linha feminina materna, que vem de há muitas gerações — um espírito trágico mas que tem também grandes potencialidades de comédia, o que foi uma das coisas que tornaram esta história irresistível para mim.

2. Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-Aqui há anos, quando vivia em Sidney, a minha mãe visitou-me e contou-me histórias do tio – Luis de Freitas Branco, que ela tinha conhecido muito bem e adorado – que nunca me tinham sido contadas. Contou-me que ele morreu pouco depois de descobrir a amante e um jovem, seu discípulo, romanticamente entrelaçados; contou-me que foi morrer a casa, nos braços da sua legítima esposa; contou-me que a amante, com quem tinha vivido a maior parte da vida de casado, tinha mais tarde encontrado a Stella no cemitério e tinha-se-lhe atirado aos pés e pedido perdão. Nesse mesmo dia, depois de a minha mãe me ter contado estas histórias e outras, comecei a escrever o livro. Mais tarde vim a Portugal fazer pesquisa, embora tenha decidido muito cedo que ia trabalhar ficcionalmente aquilo que sabia e inventar livremente o muito que não sabia.

3. Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Escrevo contos, o que gosto muito, alguns passados em Portugal, mas nem todos. Quanto a obra mais longa - li há tempos um artigo num jornal australiano sobre Timor Leste e a praia de Díli onde o José Ramos Horta faz uma caminhada – ou fazia – todos os dias pelas 7 da manhã. Essa imagem ficou comigo e gostaria de descobrir porquê…
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Isabel D'Avila Winter
Dona Stella e as suas Rivais
Quid Novi

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