terça-feira, 28 de outubro de 2008

Conhecendo o Espiritismo - Um Curso Básico, de Adenáuer Novaes

TRECHO:
Conhecendo o Espiritismo
Este trabalho contém assuntos introdutórios ao conhecimento
do Espiritismo e é dirigido àqueles que desejam iniciar-se
em seu estudo, como também em sua prática pessoal de viver.
Diferente das obras clássicas, pela linguagem simples e direta,
sem pretensões maiores, salvo a de levar o leitor à compreensão
dos princípios básicos do saber espírita, propõe-se também a
permitir uma visão funcional e utilitária de seus princípios.
A busca de um conhecimento mais abrangente e profundo
deve o leitor dedicar-se ao estudo das obras de Allan Kardec,
principalmente O Livro dos Espíritos, cuja leitura torna-se imprescindível
para o real conhecimento do Espiritismo. Relacionamos
ao final uma bibliografia para cada um dos capítulos a fim de
possibilitar ao leitor a complementação do estudo do Espiritismo.
Por muito tempo preocuparam-se os pioneiros do Espiritismo
em provar suas teses com argumentos irretorquíveis, lógicos
e coerentes, colocando-o, com sucesso, no rol das ciências
da alma. Hoje, com sua compreensão popular, alcançando elevada
aceitação, exige-se um novo passo na direção de alicerçarse
a prática e a vivência daqueles postulados teóricos, sem que se
abandone a demonstração da coerência de seus princípios básicos.
Com isso quero dizer que os princípios espíritas devem levar
seu praticante a resultados práticos imediatos. Ser espírita deve
conhecendo o espiritismo 9
proporcionar ao indivíduo um estado de compreensão da vida
que o torne relativamente feliz consigo mesmo e com seu semelhante.
O desenvolvimento da Psicologia, os novos entendimentos
sobre o comportamento humano e as incursões científicas no aspecto
espiritual da Vida requerem estudos mais profundos sobre
as interações entre os campos espiritual e social. Coerente com o
conhecimento espírita, que amplia a visão estreita do corpo físico
e de seu meio ambiente, estimulada por muitos séculos de obscurantismo,
faz-se necessária uma nova postura diante dessa percepção
cosmológica da vida. O Espiritismo possibilita um novo
olhar do ser humano a respeito dele mesmo e sobre a realidade à
sua volta. Não se deve pensar que seus limites e possibilidades
estão estabelecidos pela simples aceitação de seus princípios.
Enquanto são divulgadas suas verdades, deve-se investir em suas
implicações práticas na vida material.
Estamos longe de alcançar a verdade sobre as coisas e
penetrar-lhes a essência divina, portanto não chegamos ao limite
do saber. Portanto, não podemos nos contentar em ficar repetindo
conceitos, os quais, face à própria evolução, necessitam de
detalhamento e desenvolvimento adequados. O Espiritismo é uma
doutrina evolutiva, a qual se desenvolve com a própria humanidade.
É um saber que se consolida na medida que surgem novas
capacidades humanas, e estas se têm ampliado pela força das
coisas, isto é, pela própria evolução natural, bem como pelo desenvolvimento
moral e intelectual humanos. É chegado o momento
de nos ocuparmos em detalhar aqueles princípios, isto é, em
buscar estratégias para pô-los em prática na vida material.
Os séculos de cristianismo foram importantes para alicerçar
na humanidade conceitos de moral e princípios de convivência
social que creditaram valores fundamentais para que o ser humano
entrasse em contato com o espiritual. A tarefa agora é preparar
a constituição dos princípios de convivência que levem em
consideração a natureza espiritual do ser humano e da própria
sociedade. Princípios como a imortalidade da alma e a evolução
espiritual, que antes eram entendidos como tendo alcance exclusivamente
após a morte, passam a ter importância para o momento
em que se vive. É-se imortal agora, e não apenas depois
da morte. É um estado que deve ser conscientizado nos atos presentes,
para o momento presente, e não apenas para o futuro. A
existência de Deus, antes um corolário religioso, passa a significar,
além de importante âncora psíquica para o permanente diálogo
interno, a necessidade de compreensão de um objetivo maior
de trabalho em favor da Vida e do Universo.
Enquanto as ciências humanas estudam a personalidade,
considerando-a na sua integridade encarnada, o Espiritismo o faz
na sua inteireza espiritual, que compreende aquela, fornecendo
subsídios à vivência no corpo e à compreensão do sentido da
existência.
Não é demais recapitular os primórdios do Espiritismo e
como ele surgiu do ponto de vista doutrinário e histórico. Sua
trajetória, enquanto saber, inscreve-se numa época de intensas
descobertas e de percepções revolucionárias que marcaram as
ciências e as gerações futuras. O momento histórico de seu
surgimento tornou-o uma ciência de observação, uma filosofia de
conseqüências práticas e, sobretudo, um paradigma cognitivo que
modificou a visão do ser humano sobre si mesmo e sobre o mundo.
A fé, tão importante para a compreensão dos princípios
divinos, premiada pela coerência da razão, recebe agora o
contributo do sentimento. No Espiritismo, a fé, além de ser raciocinada
deve ser sentida, introjetada nas raízes emocionais do
ser humano. Vivemos sob o primado do Espírito que se ergue em
mais um pilar, o do sentimento, que o eleva para além das exigências
do racionalismo contemporâneo. A fé cega, da era medieval,
deu lugar à fé raciocinada no período racionalista, que é sucedida
agora pela fé vinculada às emoções superiores do Espírito.
Distanciar o ser humano de suas raízes significa estagnação
conhecendo o espiritismo 11
e acomodamento. O crescimento na direção da percepção do
Espírito é possível graças à integração de elementos transcendentes
e vinculados ao amor e a uma prática de vida que possa
tornar o ser humano feliz. Os conhecimentos básicos espíritas
devem levar aos princípios gerais de felicidade, no que diz respeito
ao aperfeiçoamento físico, intelectual, social, emocional e espiritual.
Se eles se encontram distantes, sem uma ligação imediata
(nem imediatista), é porque satisfazem apenas às exigências do
intelecto.
Lembrando a trajetória do Cristo, na defesa intransigente
de suas idéias, impondo-se pela sua própria natureza transcendente,
afirmamos que o Espiritismo se impõe pela força das coisas
e da evolução da humanidade. No desenvolvimento de suas
fases, pode-se notar a existência de processos, sendo o primeiro,
o de consolidar seus princípios doutrinários, delinear seus pontos
principais, estabelecer sua base teórica e buscar comprovação
experimental. Essa fase, embora concluída por Allan Kardec nos
seus poucos anos de profícuo trabalho em consolidar o Espiritismo,
ainda necessita de constante atenção e continuidade. Outros
processos, no entanto, requerem a mesma atenção e determinação
por parte dos espíritos e dos espíritas. Refiro-me em particular,
ao trabalho de verificação da eficácia na aplicação dos princípios
espíritas na vida dos próprios espíritas.
Os objetivos do Espiritismo visam alcançar a transformação
social, mas passam pelo estado de felicidade que deve ser
conseguido naquele que vive segundo seus princípios. Se eles
servem para o todo, necessariamente devem servir para a parte.
O espírita deve ser alguém, não só muito consciente e adaptado
às adversidades da vida, inclusive superando-as, como também
um modelo vivo da eficácia de sua crença. Dizer-se espírita não
basta, necessário é tornar-se espírita, o que lhe exigirá a
conscientização e internalização daqueles princípios e não apenas
o conhecimento deles.
É preciso estar atento ao processo pessoal, isto é, ao que
ocorre consigo próprio, enquanto se proponha o espírita a divulgar
o Espiritismo, ou a praticá-lo de qualquer forma. Para evoluir,
não basta cumprir uma missão no campo da prática espírita. É
preciso crescer como indivíduo nas dimensões: familiar, intelectual,
emocional, sexual, filial, paternal ou maternal, profissional, afetiva,
relacional, religiosa, política, etc. Por esses motivos optamos em
publicar esse trabalho a fim de orientar o leitor quanto ao estudo
da Doutrina Espírita.
Durante muitos anos, realizamos um Curso Básico de Espiritismo,
o qual se espalhou por várias instituições do Movimento
Espírita da Bahia, em que utilizamos um programa de estudos
sintetizado neste trabalho. Para chegar a essa síntese contei com
a ajuda dos amigos Élzio, Hugo, Vasco, Sílzen, Ray e Ana Dórea,
aos quais agradeço sinceramente pela ajuda providencial.

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