segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Encontros com o Nagual, de Armando Torres

TRECHO:
Me chamo Armando Torres. Escrevo esse livro em cumprimento de uma tarefa que me foi
encomendada anos atrás.
Em Outubro de 1984 conheci Carlos Castaneda, controvertido antropólogo e escritor sobre temas de
bruxaria. Na época eu era bastante jovem. Em minha busca de respostas havia conhecido diversas
tradições espirituais e anelava encontrar um mestre. Porém desde o princípio, Carlos foi muito claro à
respeito.
"Eu não prometo nada - disse -, eu não sou guru. A liberdade é uma eleição individual e é
responsabilidade de cada um lutar por ela".
Em uma das primeiras práticas que escutei ele atacou durante a idolatria humana que nos induz a
seguir à outros e a esperar que nos dêem as coisas já mastigadas. Disse que isso é efeito de nossa
etapa de rebanho.
"Quem sinceramente deseja penetrar nos ensinamentos do bruxos não necessita de guias. Basta ter
um genuíno interesse e "culhões de aço". E por si mesmo encontrará todo o necessário mediante um
intento inflexível".
Sobre tais premissas desenvolveu-se nossa relação. Portanto, quero deixar claro que não sou
discípulo de Carlos, no sentido formal da palavra. Apenas pratiquei com ele em algumas ocasiões, e
isso bastou para convencer-me de que o verdadeiro caminho do conhecimento consiste em nossa
determinação de ser impecáveis.
O principal motivo pelo qual aceitei difundir parte de minha experiência ao seu lado foi a gratidão.
Carlos foi esplêndido com cada um que teve a fortuna de conhece-lo, já que é a natureza de um
nagual fazer regalos de poder. Estar próximo à ele era carregar-se com seu estímulo e preencher-se
com estórias, conselhos e ensinamentos de todo o tipo, e seria muito egoísta por parte dos que
receberam esses dons, quando ele mesmo, como um verdadeiro guerreiro da liberdade total,
compartilhou até o fim com aqueles que o rodeavam.
Em uma ocasião me disse que ele costumava escrever cada noite fragmentos de sua aprendizagem
junto ao nagual Juan Matus, um velho índio bruxo pertencente à etnia yaqui do norte do México, e de
seu benfeitor Genaro Flores, um poderoso índio mazateco, que formava parte do grupo de
conhecimentos liderado por Don Juan. Acrescentou que escrever era um aspecto muito importante de
sua recapitulação pessoal e que eu devia fazer o mesmo com tudo o que escutara em suas práticas.
"E se me esqueço ?" - perguntei.
"Nesse caso o conhecimento não era para você. Concentra-te naquilo que recordas".
Explicou-me que o sentido desse conselho não era só ajudar-me a guardar uma informação que
podia me ser valiosa no futuro. O importante era que eu adquirisse um certo grau de disciplina, afim
de que pudesse empreender mais adiante verdadeiros exercícios de bruxos.
Descreveu o propósito dos bruxos como "uma empresa suprema: sacar o homem de sua limitação
perceptual para devolver-lhe o domínio sobre seus sentidos e permitir-lhe entrar num caminho de
economia energética".
Carlos insistia em que tudo o que um guerreiro faz deve estar imbuído de um urgente sentido
pragmático. Dito em outros termos, deve estar inflexivelmente orientado para o verdadeiro propósito
do ser humano: a liberdade.
"Um guerreiro não tem tempo à perder, porque o desafio da consciência é total e exige vinte e quatro
horas diárias de alerta máximo".
Em meu relacionamento com ele e com outros homens de conhecimento, fui testemunha de eventos
extraordinários, do ponto de vista da razão. Sem dúvida, para os bruxos, coisas tais como a visão à
distância, saber os sucessos com antecipação ou a viagem por mundos paralelos ao nosso são
experiências normais no desempenho de suas tarefas. Como não somos capazes de verifica-las por
nós mesmos, é inevitável que as tomemos com fantasias ou, no melhor dos casos, como metáforas
próprias de sua linguagem.
O ensinamento dos bruxos é assim, toma-o ou deixe-o. Não se pode raciocina-lo. Não é possível
verifica-lo intelectualmente. A única coisa que nos resta é pô-lo em prática, explorando as
extraordinárias possibilidades de nosso ser.

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