sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Estrela Distante

Autor: Roberto Bolaño
Título Original: Estrella Distante (1996)
Editora: Editorial Teorema
Páginas: 156
ISBN: 9789726958000
Tradutor: Jorge Fallorca

Sinopse
O narrador viu pela primeira vez aquele homem, em 1971, ou 1972, quando Allende era ainda presidente do Chile. Então, fazia-se chamar Ruiz-Tagle e deslizava com a distância e a cautela de um gato pelos ateliers literários da Universidade de Concepción. Escrevia poemas também distantes e cautelosos, seduzia as mulheres, despertava nos homens uma indefinível desconfiança. Voltou a vê-lo depois do Golpe, época em que até os poetas jovens de dezoito anos, como eles se viram de repente mergulhados numa repentina e sangrenta maturidade. Mas nessa ocasião, o narrador - que conta a história desde o limite entre o fascínio e a necessidade de saber, ou de fazer saber - , ainda ignorava que aquele aviador, Wieder, militar de carreira que escrevia com fumo versículos da Bíblia com um avião da Segunda Guerra Mundial, e Ruiz-Tagle, o péssimo aprendiz de poeta, eram uma e a mesma pessoa. Versículos que os prisioneiros nos estádios liam, e que já não leriam as irmãs Garmendia, duas das poetas que tinha seduzido e feito desaparecer.
E assim, num percurso pelas muitas bifurcações dos caminhos da história, das mitologias e das literaturas da nossa época, é-nos contada a fábula nada exemplar de um impostor (mas não somos todos impostores nalgum momento das nossas vidas?), de um homem de muitos nomes, sem outra moral a não ser a estética (mas não é esta a aspiração de qualquer artista?), dandy do horror, assassino e fotógrafo do medo, artista bárbaro que levava as suas criações até às ultimas e letais consequências.

Opinião
Ouvi falar pela primeira vez de Roberto Bolaño através numa entrevista do autor português João Tordo, que considerava o chileno um das suas grandes influências literárias. De facto, quem já leu os livros de ambos pode confirmar algumas semelhanças na forma de contar as histórias, mas corro o risco de ser injusto para o autor português, até porque, como sabem, gostei bastante dos seus livros. Além disso, não pude deixar de sentir todo o seu entusiasmo pelo lançamento das suas obras em Portugal, quer “Detectives Selvagens” (que depois da leitura deste passa a ser de compra obrigatória), quer do “2666”, livro monumental que, com as suas 1300 páginas, certamente me irá ocupar o resto do ano. Ou seja, o nome de Bolaño estava em toda a parte e a minha curiosidade era enorme, por isso não descansaria sem ler nenhuma obra dele.

Optei por ler o livro mais curto, mais como um aperitivo à sua escrita e posso dizer que degustei com um imenso prazer; fiquei com a sensação de me saber a pouco e quero repetir brevemente. A história de “Estrela Distante” gira à volta de uma personagem que suscita um fascínio, quase obsessão, e ao mesmo tempo um enorme ódio, no narrador. Carlos Wieder é um militar que escreve no céu, com um avião da Segunda Guerra Mundial, versículos da Bíblia, e que quando jovem, era Ruiz-Tagle, um medíocre e bastante discreto aprendiz de poesia, estudante de Literatura, com uma relação especial com as mulheres, principalmente com umas irmãs gémeas pelas quais o narrador estava profundamente apaixonado.

Seguimos o rasto do poeta-militar, através da curiosidade do narrador que vai construindo a vida de Ruiz-Tagle, mostrando um homem com múltiplas personalidades e vidas nem sempre belas como os poemas que escrevia no céu.

O livro é profundamente belo, é um romance mascarado de policial, muito político, debruça-se muito sobre as atrocidades do regime de Pinochet, tem passagens fabulosas de cortar a respiração, com descrições muito cinematográficas, percebendo-se que naquela obra nada está a mais nem a menos: o autor vai directo ao que pretende dizer, sem rodeios. Um autor a revisitar brevemente, que nos transmite a verdadeira paixão e o prazer pela literatura.

9/10 - Excelente

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