domingo, 8 de junho de 2008

O Mundo dos Espíritos – Segundo o que lá foi ouvido e visto, de Emanuel Swedenborg

O ESTADO DO HOMEM APÓS A MORTE (O QUE É O MUNDO DOS ESPIRITOS)

O mundo dos espíritos não é nem o Céu nem o Inferno, mas um lugar e um estado intermediário entre um e outro; para lá o homem é enviado após a morte. Em seguida, depois de lá passar algum tempo, ele é elevado ao Céu ou conduzido ao Inferno, conforme a vida que levou na Terra.
Portanto, o mundo dos espíritos não é apenas um lugar, mas também o estado intermediário do homem após a morte. Porque o homem que aí se encontra não esta nem no Céu nem no Inferno. O estado celeste de um homem é a união do bem c da verdade, c o estado infernal, a união da maldade e da falsidade. Quando o bem está unido à verdade, o espírito é conduzida ao Céu, pois essa união é o Céu. Quando a maldade está unida à falsidade, o espírito é rebaixado ao Inferno, porque essa união é o Inferno.
A união ocorre no mundo dos espíritos porque o homem, ao ser para aí conduzido, está num estado intermediário.
A união do entendimento e da vontade é a mesma coisa que a união da verdade e do bem. É preciso explicar o que é a união do entendimento e da vontade, e por que ela é idêntica à união do bem e da verdade.
O homem possui entendimento e vontade. O entendimento recebe a verdade e se constitui a partir dela; a vontade recebe o bem e se constitui através deste. Tudo o que o homem compreende e pensa segundo ü entendimento chama-se verdade; tudo o que ele quer e pensa segundo a vontade chama-se berra. Pelo entendimento, um homem pode pensar e perceber se alguma coisa é verdadeira e boa, enquanto pela vontade ele decide se crê na verdade e se fará o bem.
Quando o homem quer, segundo sua vontade, ele faz o bem. O bem e a verdade estão tanto no entendimento como na vontade, pois o homem não é apertas entendimento ou vontade, mas as duas coisas reunidas. Logo, o que está no entendimento e na vontade é a essência do homem, e lhe é apropriado.
O que está apenas no entendimento não lhe pertence inteiramente. É uma aquisição da memória, um conhecimento que o homem pode expor e discutir quando se encontra rodeado por outras pessoas, um conhecimento, enfim, que ele pode traduzir em afetos e gestos, mas que não é ele mesmo.
Essa capacidade de pensar segundo o entendimento, independentemente da vontade, foi dada ao homem para este pudesse aprimorar-se. E por meio da verdade que corrigimos nossos defeitos, e a verdade, como disse, pertence ao entendimento. De fato, não é a vontade que modifica o homem, pois es te nasce no mal e só deseja o bem à- si mesmo, alegrando-se com as desgraças que sucedem aos outros.
O homem deseja apropriar-se dos bens alheios, das honras, das riquezas; quanto mais possui, maior é sua alegria.
Para que essa vontade possa ser corrigida e aprimorada, foi dada ao homem a compreensão da verdade e, a partir dela, a possibilidade de dominar as más inclinações. Pelo entendimento, o homem pode conceber, discutir e praticar a verdade, mas não chegará a ela, pela vontade, se não souber amá-la
Quando pelo entendimento o homem aprende as coisas que pertencem a sua fé e, pela vontade, aquelas que pertencem ao seu amor, então a sua fé e o seu amor se unem como o entendimento e a vontade.
Quando a verdade e o bem se unem, quando o homem deseja a verdade e a seguir a realiza, então ele está no Céu, porque o Céu é a união do bem e da verdade. Ao contrário, quando a falsidade se une à maldade, o homem está no Inferno, porque o Inferno é a união da falsidade e da maldade.
No entanto, enquanto a verdade e o bem não se unirem, o homem permanecerá num estado intermediário, que é o mundo dos espíritos.
Descontadas as poucas exceções, todo homem possui algum conhecimento da verdade e, de acordo com esse conhecimento, pode agir ou imobilizar-se ou, ainda, ir contra a verdade em razão de seu amor pela maldade e de sua fé nas coisas falsas. Para que receba o Céu ou o Inferno, o homem é conduzido logo após a morte ao mundo dos espíritos, onde o bem se unirá com a verdade se o Céu lhe estiver reservado, ou o mal se unirá à falsidade se merecer o Inferno.
Ninguém entra no Céu ou é sentenciado ao Inferno, se tiver à mente dividida, isto é, se compreender de uma maneira c desejar de outra, pois não se pode querer senão aquilo que se compreende e não sé pode compreender senão aquilo que se deseja.
No Céu, aquele que desejar o bem compreenderá a verdade; no Inferno, aquele que desejar o mal compreenderá a falsidade. No mundo dos espíritos, entre os bons, a falsidade desaparece e lhes é dada à verdade, que se harmoniza com seu bem; entre os maus, é a verdade que desaparece e lhes é dada, em troca, a falsidade, que se harmoniza com sua maldade. O que acabo de dizer é um retrato fiel do mundo dos espíritos. No mundo dos espíritos podem-se ver multidões de homens; porque todos primeiro vão para lá, onde são examinados e preparados. O tempo que aí permanecerem não é fixo; alguns, logo após chegarem, são elevados ao Céu ou rebaixados ao Inferno; outros esperam algumas semanas, ou mesmo vários anos, porém não mais de trinta anos. A duração de sua estada depende da correspondência, ou não-correspondência, cio interior do homem com seu exterior.
Quando os homens entram no mundo dos espíritos, são separados em grupos pelo Senhor: os maus são imediatamente introduzidos na sociedade infernal, da qual aliás já eram membros em razão das más inclinações que desenvolveram na Terra; os bons, por outro lado, são imediatamente introduzidos na sociedade celeste, da qual também já eram membros em razão do amor, da caridade e da fé que possuíam na Terra.
Apesar disso, todos aqueles que eram amigos ou se conheciam na Terra, novamente se encontram e conversam entre si, o quanto queiram, principalmente esposas e maridos, e também irmãos e irmãs. Vi um pai conversando com seus seis filhos após havê-los reconhecido, e muitos outros tratavam com parentes e amigos; porém, como possuíssem mentalidades diferentes em razão da experiência que traziam da Terra, eles se separaram algum tempo depois.
Aqueles que, após sua estada no mundo dos espíritos, são elevados ao Céu ou rebaixados ao Inferno, não mais se vêem ou se reconhecem, exceto quando possuem a mesma mentalidade, que provém cio idêntico amor que os domina. Se os homens falam no mundo dos espíritos, porém não no Céu ou no Inferno, é porque durante sua estada nesse lugar, seu estado é muito semelhante ao terreno, portanto instável, enquanto que, logo depois, seu estado torna-se constante e semelhante ao amor que os domina, a partir do qual, aliás, eles se reconhecem. A semelhança aproxima, a diferença separa.
O mundo dos espíritos, enquanto estado intermediário entre o Céu e o Inferno, é também, como se pode inferir, um lugar intermediário, tendo abaixo o Inferno e acima o Céu. O Inferno está fechado ao mundo dos espíritos; contudo, buracos e fendas lhe servem ele abertura e também enormes abismos, que são guardados para que ninguém saia sem permissão, o que apenas acontece em caso de extrema necessidade.
O Céu também está fechado ao mundo dos espíritos, mas um caminho estreito permite que se ascenda até uma pequena entrada constantemente guardada. Essas são as saídas e as entradas que a Palavra Sagrada denomina portas do Inferno e do Céu.
O mundo dos espíritos tem o aspecto de um vale entre montanhas e rochas, onde se percebem alguns declives e elevações. As portas que conduzem às sociedades celestes são visíveis apenas aos que estão preparados para o Céu, ficando invisíveis para os demais. Existe uma só entrada c um só caminho que conduz ao Céu, mas à medida que o espírito ascende, multiplicam as veredas e as portas. As portas que conduzem ao Inferno, por outro lado, são apenas visíveis àqueles que devem passar por elas; quando elas se abrem, aparecem antros sombrios, como que cobertos de fuligem, que mergulham obliquamente num abismo provido de numerosas portas. Desses antros exalam vapores nauseabundos e fétidos, dos quais os bons espíritos fogem com aversão, enquanto os maus espíritos buscam-nos e aspiram-nos com prazer.
Todo aquele que, na Terra, sentiu prazer na maldade, depois da morte sentirá prazer aspirando o fedor que corresponde a esse mal. Pode-se comparar os maus espíritos aos pássaros e aos animais carnívoros, tais como corvo, o lobo e os porcos, que, ao perceberem algum fedor, correm em busca da matéria putrefata ou do excremento que o produziu. Eu ouvi um desses espíritos emitir gritos lancinantes, como se torturado interiormente, quando foi atingido por um sopro que emanava cio Céu, mas que depende permaneceu tranqüilo e feliz ao aspirar uma exalação que provinha do Inferno.
Também em cada homem existem duas portas: uma se abre para o Inferno e deixa entrar a maldade e a falsidade; a outra se abre para o Céu e deixa entrar o bem e a verdade. A porta do Inferno permanece aberta nos espíritos que são malignos e falsos. Estes recebem a luz do Céu através de minúsculas fendas, pois sem esse influxo não poderiam pensar, raciocinar e falar. A porta do Céu, por outro lado, permanece sempre aberta naqueles que só desejam o bem e a verdade.
Conseqüentemente, são dois os caminhos que conduzem à compreensão racional: o caminho superior ou interno, através do qual passam o bem e a verdade que emanam do Senhor; e o caminho inferior ou externo, através do qual passam o mal e a falsidade gerados no Inferno. A compreensão racional é o centro aonde ambos os caminhos vão dar.
Quanto mais luz celeste penetra no homem, maior é a sua compreensão. Na ausência dessa luz, o homem apenas aparenta ser racional, sem o ser verdadeiramente. Estas coisas estão sendo ditas para demonstrar qual é a correspondência do homem com o Céu e com o Inferno.
A compreensão racional, em seu período de formação, corresponde ao mundo dos espíritos. O que está acima desse nível de compreensão corresponde ao Céu, o que está abaixo corresponde ao Inferno. Aqueles que estão sendo preparados para o Céu olham nessa direção, continuamente, enquanto os demais olham para baixo, na direção do Inferno que lhes está destinado.
Quem olha para cima vê o Senhor, porque Ele é o centro para onde se voltam todas as coisas do Céu. Quem olha para baixo, vira as costas ao Senhor e olha o centro oposto, que atrai todas as coisas do Inferno.
Gostaria de esclarecer que, neste Capítulo e nos seguintes, sempre que eu empregar a palavra espírito, estarei me referindo aos habitantes do mundo dos espíritos, e não aos anjos, que são os habitantes do Céu.


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