Durante dois anos, e segundo o próprio Eça, decidiram ”farpear até à morte a alimária pesada e temerosa”, no auge da juventude, das suas capacidades e cientes do seu já importante papel no meio intelectual, não cessaram de escrever textos irónicos e alegres sobre o estado de Portugal.
Esses textos, levados e tomados por uma campanha alegre, pretendiam mostrar o quão ridículo era o comportamento de certos sectores, assim como servir a justiça e a verdade, demolindo a acerba, má educação, má formação e interesses instalados.
Honestamente desconheço se esses irónicos textos tiveram algum impacto ou algum papel preponderante, ou mesmo se os alvos escolhidos se sentiram, no entanto o que sei é que esta campanha alegre é um riquíssimo fresco da sociedade portuguesa da 2ª metade do século XIX, servindo para o actual leitor se aperceber o estado do país e, curioso, constatar as imensas semelhanças entre essa sociedade e a actual, ou seja, não se aprende rigorosamente nada.
Eça de Queirós resolveu publicar essas farpas vinte anos depois. E fê-lo porque o seu camarada Ortigão publicou a sua obra “Farpas”, incentivando Eça a fazê-lo também, pois e segundo Ortigão, umas complementavam as outras.
E é assim, numa intrépida alegria, num riso que peleja contra a Tolice e a ignorância, que Eça desata a “bater” nos males da douta e fastidiosa sociedade portuguesa, cheia de bem e tradições falsas de cavalheirismo bacoco e manhoso.
Dividido em dois volumes, pelo menos a edição que possuo, o primeiro volume tem 34 “farpas” e o segundo possui 35.
De toda esta parafernália de textos cáusticos, poderia aqui destacar uns tantos que assentam como uma luva na nossa podre sociedade, no entanto não o farei porque e embora sejam crónicas soltas, todas elas têm uma lógica e uma interligação que faz com que esta ”Campanha Alegre” seja um género de edifício em que cada farpa significa um tijolo.
Alguns dirão que alguns destes textos carecem de actualidade. É um facto! Mas para se perceber do porquê do actual estado do país, seria bom as pessoas se debruçarem sobre o passado e deixarem, de uma vez por todas, a imbecilidade e obtusismo que graça em todos os sectores da vida portuguesa, pois e acreditem, até ler sobre o estado do exército português de 1871 tem interesse.
Porém, se estiver a borrifar para a História, se se interessar apenas pelo dia de hoje, então esqueça esta obra, pois é uma tremenda perca de tempo e qualquer joguito de futebol ou uma qualquer novela com actores fanhosos, é muito mais interessante.
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