segunda-feira, 6 de abril de 2009

Saber Viver - Lições de uma longa vida, de Pompeu Lustosa de Aquino Cantarelli

TRECHO:
PREFÁCIO
O autor deste livro, nosso estimado Pompeu Lustosa de Aquino Cantarelli, foi alvo de
merecida homenagem prestada pelos companheiros da Filial do Racionalismo Cristão de São
Paulo em comemoração ao seu aniversário, transcorrido em 31 de agosto de 1994, quando
completou noventa anos!
Linda e admirável idade! Façamos por seguir as pegadas dessa existência.
Essas palavras, entre aspas, são de Antonio Cottas, referindo-se a um grande amigo de
Pompeu Cantarelli, Dr. Joaquim Crispiniano Coelho Brandão, quando este completou, em 30
de agosto de 1975, cem anos de idade! O elogio de Antonio Cottas ao então centenário Dr.
Coelho Brandão cabe agora, com inteira justiça, ao nosso querido nonagenário Pompeu
Cantarelli. Estimulado pelas palavras de Antonio Cottas, que sempre foi seu maior amigo e
incentivador, nosso venerando companheiro há de prolongar por muito tempo ainda sua
existência física, para alegria de seus familiares, de seus amigos, dos militantes da Casa
Racionalista Cristã de São Paulo e dos racionalistas cristãos em geral. Disso temos certeza, tal
a disposição física e a fortaleza de ânimo desse jovem aos noventa anos, sempre ativo, lúcido
e disposto no exercício de suas funções de Diretor-Secretário da Filial de São Paulo.
Este prefácio, focalizando a personalidade de Pompeu Cantarelli, foi concebido, diga-se,
a bem da verdade, à revelia do autor do livro, por conhecermos sua índole avessa, por natural
modéstia, a homenagens e elogios. Sentimo-nos, porém, no dever de fazê-lo, levando em
conta que os exemplos edificantes precisam ser registrados e assinalados, para que sirvam de
modelo e de estímulo à geração presente e aos vindouros, seus e nossos continuadores, e
estes, seguindo as pegadas dessa existência dedicada à família, aos bons costumes e à Causa
racionalista cristã, aprendam, mais que uma lição, uma filosofia de vida.
* * *
Às vinte e três horas do dia 31 de agosto de 1904, no sítio Santa Maria, que dista apenas
um quilômetro da cidade de Parnamirim, na época denominada Leopoldina, Estado de
Pernambuco, nascia uma criança a quem deram o nome de Pompeu, em homenagem ao avô
paterno, que se chamava Pompeu Cantarelli, sendo os pais do menino Antônio Lustosa
Cantarelli e Ascendina Aquino. Desde garoto encarava a vida com seriedade e sensatez,
motivo por que era chamado de menino-homem. Ainda bem jovem tornou-se livre-pensador,
amigo da verdade, da justiça e da razão.1
Eis aí, em rápidas palavras, um retrato significativo da meninice e da juventude de
Pompeu Cantarelli.
Em 1920, transferiu-se para a vizinha cidade de Cabrobó e, em 1924, com vinte anos de
idade, estava residindo no Recife. Aí viveu quatro anos trabalhando na Drogaria e Farmácia
Conceição e, depois, na Farmácia dos Pobres. À noite, estudava, após o expediente de
trabalho, que se estendia até as vinte horas.
Em sua estada na capital pernambucana, freqüentava a casa do ex-governador do Estado,
Dr. Manuel Pereira Borba, e a do então deputado federal Dr. Agamenom Magalhães, que
1 Extraído do folheto impresso por ocasião da homenagem prestada no aniversário do autor.
posteriormente viria a ser também governador. Nesse período, travou conhecimento, ainda,
com vários chefes políticos do sertão.
Desejando conhecer as plagas mais ao sul do país, chegou, em janeiro de 1929, a São
Paulo. Dois meses depois, ingressava na Farmácia do Hospital Militar da Força Pública do
Estado (hoje Polícia Militar), como civil contratado. Em janeiro de 1930, tirou o título de
oficial de farmácia, mediante exames de habilitação, sendo, dois anos depois, militarizado
com a graduação de sargento-ajudante. Tendo servido essa instituição durante vinte e cinco
anos, passou, em 1954, para a reserva, no posto de capitão.
Já em 1929, ano de sua chegada a São Paulo, Pompeu Cantarelli passou a freqüentar a
teosofia, tornando-se também vegetariano, por indução dessa sociedade espiritualista e
filosófica.
Casou-se em 1934 com dona Alzira de Vecchia. Desse consórcio nasceram três filhas:
Guiomar, Ascendina (ambas falecidas) e Amália, casada com o Dr. Lecy Ribas Camargo.
Em 1937, conheceu o Racionalismo Cristão, desligando-se, conseqüentemente, da
Sociedade Teosófica e passando a freqüentar as sessões públicas de limpeza psíquica da Casa
Racionalista Cristã de São Paulo, que na época funcionava na Rua Francisca Júlia, Alto de
Santana. Em 1954, aposentado na Polícia Militar, pôde inscrever-se como militante da
Doutrina, na Filial de São Paulo.
O ano de 1955 também marcou a vida do autor. Foi quando conheceu o Presidente
Perpétuo do Racionalismo Cristão, Antonio do Nascimento Cottas, de quem se tornou amigo
e pessoa de sua confiança.
Conhecedor do Racionalismo Cristão há quase sessenta anos e militante há mais de
quarenta, Pompeu Cantarelli integrou-se de corpo e alma nessa Doutrina. Uma vez inscrito na
militância do Racionalismo Cristão, distinguiu-se sempre pela constância e pela assiduidade,
comparecendo às sessões públicas de limpeza psíquica e às sessões particulares.
A partir de l962 passou a ocupar o cargo de Diretor-Tesoureiro da Filial de São Paulo,
por indicação de Antonio Cottas e de acordo com os saudosos amigos Antônio de Ornellas
Flor e Humberto Romanelli, então Presidente e Diretor-Secretário, respectivamente.
Caracterizou-se, no desempenho desse cargo, por sua austeridade e rigor na administração das
finanças e do patrimônio do Racionalismo Cristão.
Com a desencarnação imprevista do inesquecível amigo Humberto Romanelli, em 1982,
assumiu as funções de Diretor-Secretário, também por indicação de Antonio Cottas. Quando
ainda Diretor-Tesoureiro, chegou a acumular as atividades de Diretor-Procurador e
Encarregado de Salão, nas sessões públicas de limpeza psíquica. Acrescente-se que, desde a
época em que conheceu Antonio Cottas, este passou a convidar Pompeu Cantarelli para
auxiliá-lo nas inaugurações de Casas Racionalistas Cristãs em várias partes do Brasil,
nomeando-o também repórter e representante do jornal A Razão nessas solenidades
inaugurativas.
Como jornalista, tornou-se assíduo colaborador desse órgão de comunicação da
Doutrina, constituindo muitas das colaborações boa parte do conteúdo deste livro.
Pompeu Cantarelli e Humberto Romanelli foram dois dos diretores da Filial de São
Paulo de mais destacada atuação com que pôde contar o Presidente Antônio Flor,
principalmente na construção da monumental sede própria do Racionalismo Cristão em São
Paulo. Foi, como se sabe, uma etapa de grandes lutas e sofrimento. Mas que, afinal, valeram a
pena, pois culminaram com o pleno sucesso do empreendimento, concretizado na
inesquecível festa da inauguração do edifício, em 25 de novembro de 1973, presidida por
Antonio Cottas.
Em sua vida relacionada com a Doutrina, uma das maiores alegrias de Pompeu
Cantarelli, segundo ele, foi ter merecido a inteira confiança e a amizade de Antonio Cottas, e
disso o Presidente Perpétuo deu provas cabais durante a construção do novo edifício-sede do
Racionalismo Cristão no bairro de Santana da capital paulista. O autor lembra com saudade as
inaugurações de Casas Racionalistas Cristãs. Antonio Cottas lhe escrevia, então, dizendo:
Você está convocado, em nome da Casa Chefe, para ir a tal lugar, a fim de fazer a
reportagem para o jornal A Razão e organizar a cerimônia inaugurativa.
Tenho em meu arquivo inúmeras cartas que me enviou o Presidente Cottas, e as guardo
como num relicário do grande homem que consolidou o Racionalismo Cristão, confidencia
Pompeu Cantarelli.
É também com saudade que o autor evoca as figuras de Antônio Flor e Humberto
Romanelli, pela grande amizade e o ótimo relacionamento que sempre houve entre eles.
Antônio Flor costumava dizer que Humberto e Pompeu eram os seus braços na Filial de São
Paulo. Mas nunca falava quem era o braço direito...
Na qualidade de amigos de Pompeu Cantarelli, os companheiros das Filiais de Santana e
do Butantã, na capital paulista, tomaram a iniciativa de reunir neste livro sua produção
literária esparsa em artigos no jornal A Razão e, mais recentemente, na revista A Razão, de
Portugal. Sua produção não se limita apenas ao jornalismo. Há diversos trabalhos do autor
fazendo parte de livros editados pelo Racionalismo Cristão. Além do mais, Pompeu
Cantarelli, como é do conhecimento de muitos, é também poeta de generosa inspiração.
Tendo em conta a excelência dos seus escritos, versando variados assuntos, de cunho
moral, educativo e cultural, achamos que deveríamos dar a esses trabalhos uma difusão mais
ampla, com a publicação da presente obra, consignando nesta iniciativa a homenagem afetiva
e sincera dos seus amigos e admiradores.
Homem de cultura e brilhantes dotes de inteligência, teve o nosso Pompeu Cantarelli a
ventura de privar da amizade do “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, Guilherme de Almeida,
conhecido e amado por paulistas e tantos brasileiros mais, pela simpatia irradiante de sua
personalidade e pelo incomparável lirismo que sua alma de artista deixou extravasar em sua
obra poética.
Foi no convívio com esse imortal da Academia Brasileira de Letras que Pompeu
Cantarelli recebeu valiosas lições na arte de versejar, em que, aliás, se tornou exímio, como se
verifica pela leitura de suas castigadas e fluentes estrofes.
Há quase trinta anos, o escriba que está alinhavando este prefácio teve seu primeiro
contato com a poesia do mestre Cantarelli, antes de ter o prazer de conhecê-lo pessoalmente.
Esse primeiro contato deu-se em 1970, em Campinas, interior do Estado de São Paulo, num
modesto barracão nos fundos da residência do Dr. Augusto Gomes, de saudosa memória.
Funcionava ali o Filiado local do Racionalismo Cristão, presidido pelo Dr. Augusto. Foi ele
quem me proporcionou a oportunidade de ler um poema de Pompeu Cantarelli que definia,
em linhas gerais, a Doutrina Racionalista Cristã e sua nobre finalidade. Naquele ano estava
iniciando-me nessa Doutrina, sob a orientação amiga do Dr. Augusto. Assim, esse poema faz
parte das gratas recordações que guardo daqueles dias particularmente felizes da minha vida.
José Alves Martins, Jornalista, São Paulo/1975

Nenhum comentário:

Postar um comentário