segunda-feira, 18 de maio de 2009

Adonai: Novela Iniciática do Colégio dos Magos, de Jorge Adoum

TRECHO:
Capítulo I


Líbano



O que é o Líbano?
Seguramente, querido leitor, me responderás que é um país montanhoso da Ásia Menor, famoso por seus cedros, e limitado a Oeste pelo Mediterrâneo, ao Sul pela Palestina, ao Norte pelo território dos Alanitos, a Leste pela Síria. Tem uma superfície de 10.860 quilômetros quadrados, ocupada por 1.000.000 de habitantes, cuja capital é Beirute. Porém, o magnífico e eterno Líbano não se define com um critério geográfico; não são suficientes dados sobre situação e território, quando se trata de definir o lugar mais formoso do mundo, tão celebrado pela Sagrada Escritura.
O Líbano não desapareceu, como crêem alguns, com os profetas Davi e Salomão, nem é somente o nome de uma montanha e um país. É uma palavra poética que encerra, em suas letras, um suave murmúrio. Líbano é um sentimento na alma, um desejo no coração e um pensamento na mente. Seu céu é límpido e o borbulhar das suas águas cristalinas são uma alusão à eternidade e uma fonte de amor, beleza e inspiração. Seus vetustos e nodosos picos nos inclinam ao respeito; suas Campinas verdes nos falam de mocidade, alegria e prazer.
O cedro – emblema da eternidade – é uma decoração, um adorno colocado pela Natureza no seio do Líbano, cuja majestade o poder dissolvente dos séculos não ousou atacar. No inverno chora e suas lágrimas são transformadas em perfumadas pérolas, com que se ataviam e ornam os campos do Líbano.
A Primavera, essa deusa invisível, como a pintou o maravilhoso árabe Gibran Kalil Gibran, percorre o mundo com a velocidade de um caminheiro, mas ao chegar ao Líbano se detém, para descansar e se entreter com os deuses que perambulam por aquela magnífica região. Esquece, então, sua viagem e permanece ali quase até o fim do verão; porém quando sente a carícia do vento úmido do outono, desperta do doce e pacífico devaneio que lhe inspirou o Líbano e recomeça sua interrompida viagem. Ao afastar-se, cada vez mais, olha de quando em vez para trás, como uma namorada que deixou o seu amado.
O verão no Líbano sacia os corpos famintos com seus frutos – únicos restos da terra prometida – e o outono embriaga as almas com o vinho do amor. Em suas noites, as brisas reproduzem os cânticos de Salomão e os acordes da cítara de Davi, aos ouvidos dos namorados e poetas, pois o Líbano é a pátria do amor e da poesia.
Raia o dia, que dissipa do coração a melancólica poesia da noite, restituindo à vida sua vivacidade e alegria, como o sorriso da mulher amada.
O Líbano e o mar são dois namorados que vêem passar os séculos, brincando e se acariciando, despreocupados e felizes. O mar impele do horizonte as ondas para mesclar a prata da sua espuma com o ouro das areias do Líbano, cobrindo assim, com seu manto prateado, a cabeleira áurea de seu namorado, num amoroso amplexo. Suas ondas, em seu fluxo, o abraçam e no refluxo – dolorosa ausência para os que se amam – estreita seus pés como última carícia e final protesto.
O Líbano é a inspiração de poetas, músicos e pintores, é o paraíso perdido, no mundo.

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