sábado, 23 de maio de 2009

Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - SEXTO ANO - 1863

TRECHO:
ESTUDO SOBRE OS POSSESSOS DE MORZINE.
As causas da obsessão e os meios de combatê-la.
(Segundo artigo)
Em nosso precedente artigo (1-(1) Ver dezembro de 1862.), expusemos a maneira pela
qual se exerce a ação dos Espíritos sobre o homem, ação por assim dizer material. Sua
causa está inteiramente no perispírito, princípio não só de todos os fenômenos espíritas
propriamente ditos, mas de uma multidão de efeitos morais, fisiológicos e patológicos,
incompreendidos antes do conhecimento deste agente, do qual a descoberta, podendo-se
exprimir assim, abrirá horizontes novos à ciência, quando esta quiser reconhecer a existência
do mundo invisível.
O perispírito, como se viu, desempenha um papel importante em todos os fenômenos
da vida; é a fonte de uma multidão de afecções das quais o escalpelo procura em vão
a causa na alteração dos órgãos, e contra a qual a terapêutica é impotente. Pela sua expansão,
se explicam ainda as reações de indivíduo a indivíduo, as atrações e as repulsões
instintivas, a ação magnética, etc. No Espírito livre, quer dizer, desencarnado, substitui
o corpo material; é o agente sensitivo, o órgão com a ajuda do qual ele age. Pela natureza
fluídica e expansão do perispírito, o Espírito alcança o indivíduo sobre o qual quer
agir, o cerca, o envolve, o penetra e o magnetiza. O homem, vivendo no meio do mundo
invisível, está incessantemente submetido a essas influências, como às da atmosfera que
respira, e essa influência se traduz por efeitos morais e fisiológicos, dos quais não se dá
conta, e que atribui, freqüentemente, a causas inteiramente contrárias. Esta influência
difere naturalmente, segundo as qualidades boas ou más do Espírito, assim como explicamos
no nosso precedente artigo. Este é bom e benevolente, a influência, ou querendose,
a impressão, é agradável, salutar: é como as carícias de uma terna mãe que enlaça
seu filho nos braços; se for mau e malevolente, ela é dura, penosa, ansiosa e, às vezes,
malfazeja: ela não abraça, oprime. Vivemos nesse oceano fluídico, incessantemente
expostos às correntes contrárias, que atraímos, que repelimos, ou às quais nos entregamos,
conforme as nossas qualidades pessoais, mas no meio das quais os homens
conservam sempre seu livre arbítrio, atributo essencial de sua natureza, em virtude do
qual pode sempre escolher o seu caminho.
Isto, como se vê, é completamente independente da faculdade medianímica tal como
é concebida vulgarmente. A ação do mundo invisível, estando na ordem das coisas
naturais, se exerce sobre o homem, abstração feita de todo conhecimento espírita; a ela
se está submetido como se o está à influência da eletricidade atmosférica, sem saber a
física, como estar doente, sem saber a medicina. Ora, do mesmo modo que a física nos
ensina a causa de certos fenômenos, e a medicina a causa de certas doenças, o estudo
da ciência espírita nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do
mundo invisível, e nos explica o que, sem ela, nos parecia inexplicável. A mediunidade é
o meio direto de observação ~ que se nos permita esta comparação - é o instrumento de
laboratório pelo qual a ação do mundo invisível se traduz de maneira patente; e, pela facilidade
que nos dá de repetir as experiências, nos permite estudar o modo e as nuanças
dessa ação; foi do estudo e das observações que nasceu a ciência espírita.
Todo indivíduo que sofre, de um modo qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso
mesmo, médium; mas é pela mediunidade efetiva, consciente e facultativa, que se
chega a constatar
a existência do mundo invisível, e pela diversidade das manifestações obtidas ou
provocadas, que se pôde esclarecer sobre a qualidade dos seres que a compõem, e sobre
o papel que eles desempenham na Natureza; o médium fez pelo mundo invisível o
que o microscópio fez pelo mundo dos infinitamente pequenos.
É, pois, uma nova força, um novo poder, uma nova lei, em uma palavra, que nos é
revelada. É verdadeiramente inconcebível que a incredulidade lhe repila mesmo a idéia,
porque essa idéia supõe, em nós, uma alma, um princípio inteligente sobrevivendo ao
corpo. Se se tratasse da descoberta de uma substância material e ininteligente, aceitá-laiam
sem dificuldade; mas uma ação inteligente fora do homem, é para eles da superstição.
Se, da observação dos fatos que se produzem pela mediunidade, se remonta aos
fatos gerais, pode-se, pela semelhança dos efeitos, concluir pela semelhança das causas;
ora, é constatando a analogia dos fenômenos de Morzine com os que a mediunidade nos
coloca, todos os dias, sob os nossos olhos, que a participação de Espíritos malfazejos
nos parece evidente nessa circunstância, e ela não o será menos para aqueles que tiverem
meditado sobre os numerosos casos isolados, narrados na Revista Espírita. Toda a
diferença está no caráter epidêmico da afecção; mas a história reporta mais de um fato
semelhante, entre os quais figuram aquele das religiosas de Loudun, dos convulsionários
de Saint-Médard, dos calvinistas de Cévènes e dos possessos do tempo do Cristo; estes
últimos, sobretudo, têm uma analogia marcante com os de Morzine; e uma coisa digna de
nota é que, por toda a parte onde esses fenômenos se produziram, a idéia de que eram
devidos a Espíritos foi o pensamento dominante e como intuitivo nos que deles estavam
afetados.
Querendo-se bem se reportar ao nosso primeiro artigo, da teoria da obsessão contida
em O Livro dos Médiuns, e aos fatos relatados na Revista, ver-se-á que a ação dos
maus Espíritos, sobre os indivíduos dos quais se apoderam, apresenta nuanças extremamente
variadas de intensidade e de duração, segundo o grau de malignidade e de perversidade
dos Espíritos, e também segundo o estado moral da pessoa que lhes dá um
acesso mais ou menos fácil. Esta ação, freqüentemente, não é senão temporária e acidental,
mais maliciosa e desagradável do que perigosa, como no fato que relatamos no
nosso precedente artigo. O fato seguinte pertence a essa categoria.
O Sr. Indermühle, de Berna, membro da Sociedade Espírita de Paris, nos contou
que, em sua propriedade de Zimmerwald, seu caseiro, homem de uma força hercúlea,
sentiu-se uma noite agarrado por um indivíduo que o sacudia vigorosamente. Era um pesadelo,
dir-se-á; não, porque esse homem estava tão bem desperto que se levantou e
lutou algum tempo contra aquele que o oprimia; quando se sentiu livre, pegou seu sabre
pendurado ao lado de seu leito, e se pôs a golpear na sombra, sem nada atingir. Acendeu
sua vela, procurou por toda a parte e não encontrou ninguém; a porta estava perfeitamente
fechada. Apenas tornou a deitar-se, o jardineiro, que estava no quarto ao lado, se pôs a
pedir socorro, se debatendo, e gritando que o estrangulavam . O caseiro correu para a
casa de seu vizinho, mas, como em sua casa, não se encontrou ninguém. Um servente
que dormia no mesmo prédio, ouvira todo esse barulho. Todas essas pessoas assustadas
vieram, no dia seguinte, dar conta ao Sr. Indermühle do que se passara. Este, depois de
estar informado de todos os detalhes e estar assegurado de que nenhum estranho havia
se introduzido nos quartos, foi tanto mais levado a crer numa ação má de algum Espírito
que, depois de algum tempo de manifestações físicas inequívocas e de diversas naturezas,
se produziam em sua própria casa. Tranqüilizou seus criados e disse-lhes para observarem
com cuidado o que se passasse, se semelhante coisa se renovasse. Como ele
é médium, assim como a sua mulher, evocou o Espírito perturbador, que concordou com
o fato e se excusou dizendo: "Eu queria vos falar, porque sou infeliz e tenho necessidade
de vossas preces; há muito tempo faço tudo o que posso para chamar a vossa atenção;
bate em sua casa; vos peguei mesmo pela orelha (o Sr, Indermühle se lembrou da coisa):
nada ali fez. Então pensei que fazendo a cena da noite última vos lembraria de me chamar;
vós o fizestes, estou contente; mas vos asseguro que não tinha nenhuma má intenção.
Prometei-me chamar-me algumas vezes e orar por mim. "O Sr. Indermühle lhe fez
uma enérgica reprimenda, renovou a entrevista, fez-lhe repreensão, que escutou com
prazer, orou por ele, disse ao seu pessoal para fazê-lo também, o que lhe fizeram, pessoas
piedosas que são, e desde então tudo ficou em ordem.
Infelizmente, nem todos são de manejo tão fácil; este não era mau; mas os há cuja
ação é tenaz, permanente, e pode mesmo ter conseqüências deploráveis para a saúde do
indivíduo, diremos mais: para suas faculdades intelectuais, se o Espírito chega a subjugar
sua vítima ao ponto de neutralizar seu livre arbítrio, e de constrangê-la a dizer e a fazer
extravagâncias. Tal é o caso da loucura obsessional, muito diferente em suas causas,
senão em seus efeitos, da loucura patológica.
Vimos, em nossa viagem, o jovem obsidiado do qual falei na revista de janeiro de
1861, sob o título de O Espírito batedor de l'Aube, e obtivemos da boca do pai e de testemunhas
oculares a confirmação de todos os fatos. Esse jovem tem presentemente dezesseis
anos; é vigoroso, grande, perfeitamente constituído, e, no entanto, se queixa de males
do estômago e de fraqueza nos membros, o que, diz ele, o impede de trabalhar. Ao
vê-lo se crê facilmente que a preguiça é sua principal doença, o que não tira nada à realidade
dos fenômenos que se produziram há cinco anos, e que lembram, em muitos aspectos,
os de Bergzabern (Revista: maio, junho e julho de 1858). Assim não ocorre com a sua
saúde moral; sendo criança era muito inteligente e aprendia na escola com facilidade;
desde então suas faculdades enfraqueceram sensivelmente. É bom acrescentar que isso
não foi senão depois de pouco que ele e seus pais conheceram o Espiritismo, e ainda por
ouvir dizer, e muito superficialmente, porque jamais leram; antes, jamais dele tinham ouvido
falar; não se poderia, pois, nisso ver uma causa provocadora. Os fenômenos materiais
quase cessaram, ou pelo menos são mais raros hoje, mas o estado moral é o mesmo,
o que é tanto mais deplorável para os pais que vivem de seu trabalho. Conhece-se a influência
da prece em semelhante caso; mas como não se pode nada esperar do menino
sob esse aspecto, seria preciso o concurso dos pais; eles estão bem persuadidos de que
seu filho está sob uma má influência oculta, mas sua crença não vai muito além, e sua fé
religiosa é das mais fracas. Dissemos ao pai que seria preciso orar, mas orar seriamente
e com fervor. "É que já me foi dito, respondeu; orei algumas vezes, mas isto nada fez. Se
soubesse que orando de uma boa vez durante vinte e quatro horas, e que isto terminasse,
eu o faria bem ainda." Vê-se por aí de que maneira pode-se ser secundado nessa circunstância
por aqueles que disso são os mais interessados.
Eis a contrapartida desse fato, e uma prova da eficácia da prece, quando ela é feita
com o coração e não com os lábios.
Uma jovem, contrariada em suas inclinações, fora unida com um homem com o qual
ela não podia simpatizar. O desgosto que ela nisso concebeu, levou-a a uma alteração
em suas faculdades mentais; sob o império de uma idéia fixa, perdeu a razão, e foi obrigada
a ser isolada. Essa senhora jamais ouvira falar do Espiritismo; se ela dele tivesse se
ocupado, não haveria faltado de dizer que os Espíritos lhe haviam virado a cabe-3 mal
provinha, pois, de uma causa moral acidental toda pessoal, e, em semelhante caso, concebe-
se que os remédios comuns não poderiam ter nenhum recurso; como não havia nenhuma
obsessão aparente, poder-se-ia duvidar igualmente da eficácia da prece.
Um membro da Sociedade Espírita de Paris, amigo da família, acreditou dever interrogar
sobre seu assunto um Espírito superior, que respondeu: "A idéia fixa dessa senhora,
por sua própria causa, atrai, ao seu redor, uma multidão de Espíritos maus que a envolvem
com o seu fluido, mantendo-a em suas idéias, e impedindo que cheguem a ela as
boas influências. Os Espíritos dessa natureza pululam sempre nos meios semelhantes ao
que ela se encontra, e são, freqüentemente, um obstáculo à cura dos enfermos. No entanto,
podeis curá-la, mas é preciso para isso uma força moral capaz de vencer a resistência,
e essa força não é dada a um só. Que cinco ou seis Espíritas sinceros se reúnam
todos os dias, durante alguns instantes, e peçam com fervor a Deus e aos bons Espíritos
para assisti-la; que vossa ardente prece seja, ao mesmo tempo, uma magnetização mental;
não tendes, para isto, necessidade de estar junto dela, ao contrário; pelo pensamento
podeis levar sobre ela uma corrente fluídica salutar, cuja força estará em razão de vossa
intenção e aumentada pelo número; por esse meio, podereis neutralizar o mau fluido que
a envolve. Fazei isto; tende fé e confiança em Deus, e esperai."
Seis pessoas se devotaram a essa obra de caridade, e não faltaram um único dia, durante
um mês, à missão que tinham aceito. Ao cabo de alguns dias a doente estava sensivelmente
mais calma; quinze dias depois, a melhoria era manifesta, e hoje essa mulher reentrou
em sua casa num estado perfeitamente normal, ignorando ainda, assim como seu
marido, de onde veio a sua cura.
O modo de ação está aqui claramente indicado, e não saberíamos acrescentar nada
de mais preciso à explicação dada pelo Espírito. A prece não tem, pois, só o efeito de
chamar, sobre o paciente , um socorro estranho, mas o de exercer uma ação magnética.
O que não se poderia, pois, pelo magnetismo secundado pela prece! Infelizmente, certos
magnetizadores fazem muito, a exemplo de muitos médicos, abstração do elemento espiritual;
eles não vêem senão a ação mecânica, e se privam assim de um poderoso auxiliar.
Esperamos que os verdadeiros Espíritas verão mais tarde, nesse fato, uma prova a mais
do bem que poderão fazer em semelhante circunstância.
Uma questão de grande importância se apresenta naturalmente aqui: O exercício da
mediunidade pode provocar o desarranjo da saúde e das faculdades mentais?
Há de se notar que esta pergunta, assim formulada, é a que colocam a maioria dos
antagonistas do Espiritismo, ou, por melhor dizer, em lugar de uma pergunta, eles formulam
o princípio em axioma, afirmando que a mediunidade leva à loucura; falamos da loucura
real e não daquela, mais burlesca do que séria, com a qual se gratificam os adeptos.
Conceber-se-ia essa pergunta da parte daquele que cresse na existência dos Espíritos e
na ação que podem exercer, porque, para eles, é alguma coisa de real; mas para aqueles
que nisso não crêem, a pergunta é sem sentido, porque, se nada há, este nada não pode
produzir alguma coisa. Não sendo essa tese sustentável, se entrincheiram sobre os perigos
da superexcitação cerebral que, segundo eles, pode causar unicamente a crença nos
Espíritos. Não retornaremos mais sobre este ponto, já tratado, mas perguntaremos se já
se fez a enumeração de todos os cérebros virados pelo medo do diabo e os horríveis
quadros das torturas do inferno e da condenação eterna, e se é mais prejudicial crer-se
que se tem junto de si Espíritos bons e benevolentes, seus parentes, seus amigos e seu
anjo guardião, do que o demônio.
A pergunta formulada da maneira seguinte é mais racional e mais séria, desde que
se admita a existência e a ação dos Espíritos: O exercício da mediunidade pode provocar
no indivíduo a invasão de maus Espíritos e suas conseqüências?
Jamais dissimulamos os escolhos que se encontram na mediunidade, razão por que
multiplicamos as instruções, a esse respeito, em O Livro dos Médiuns, e não cessamos
de recomendar o estudo preliminar antes de se entregar à prática; também, depois da publicação deste livro, o número de obsidiados diminuiu sensivelmente e notoriamente,
porque ele poupa uma experiência que os novatos não adquirem, freqüentemente, senão
às suas custas. Dizemo-lo ainda, sim, sem experiência, a mediunidade tem inconvenientes
dos quais o menor seria ser mistificado por Espíritos enganadores ou levianos; praticar
o Espiritismo experimental sem estudo, é querer fazer manipulações químicas sem
saber a química.
Os exemplos tão numerosos de pessoas obsidiadas e subjugadas da maneira mais
deplorável , sem jamais ouvirem falar do Espiritismo, provam super-abundantemente que
o exercício da mediunidade não tem o privilégio de atrair os maus Espíritos; bem mais, a
experiência prova que é um meio de afastá-los, permitindo reconhecê-los. No entanto,
como os há que rondam ao nosso redor, e pode ocorrer, encontrando uma ocasião de se
manifestarem, que eles a aproveitam, se encontram no médium uma predisposição física
ou moral que o torne acessível à sua influência; ora, essa predisposição prende-se ao
indivíduo e a causas pessoais anteriores, e não é a mediunidade que a faz nascer; podese
dizer que o exercício da mediunidade é uma oportunidade e não uma causa; mas se
alguns indivíduos estão neste caso, vêem-se outros deles que oferecem, aos maus Espíritos,
uma resistência insuperável, e aos quais estes últimos não se dirigem mais. Falamos
de Espíritos realmente maus e malfazejos, os únicos verdadeiramente perigosos, e não
de Espíritos levianos e zombeteiros que se insinuam por toda a parte.
A presunção de se crer invulnerável contra os maus Espíritos foi mais de uma vez
punida de modo cruel, porque não são desafiadas jamais impunemente pelo orgulho; o
orgulho é a porta que lhes dá o acesso mais fácil, porque ninguém oferece menos resistência
do que o orgulhoso quando tomado pelo seu lado fraco. Antes de se dirigir aos Espíritos,
convém, pois, se armar contra o ataque dos maus, como quando se caminha sobre
um terreno onde se teme a mordedura de serpentes. A isto chega-se primeiro pelo
estudo preliminar que indica o caminho e as precauções a tomar, depois pela prece; mas
é preciso bem se compenetrar da verdade, que o único preservativo está em si, em sua
própria força, e jamais em coisas exteriores, e que não há nem talismãs, nem amuletos,
nem palavras sacramentais, nem fórmulas sagradas ou profanas que possam ter a menor
eficácia, se não se possui em si as qualidades necessárias; são, pois, estas qualidades
que é preciso se esforçar em adquirir.
Se se estivesse bem compenetrado do objetivo essencial e sério do Espiritismo, se
se preparasse sempre para o exercício da mediunidade por um apelo fervoroso ao seu
anjo guardião e aos seus Espíritos protetores, se bem se estudasse a si mesmo, esforçando-
se em purificar suas imperfeições, os casos de obsessão mediúnica seriam ainda
mais raros; infelizmente, nela não vêem senão o fato das manifestações; não contentes
com as provas morais que pululam ao seu redor, eles querem a todo preço se darem a
satisfação de se comunicarem eles mesmos com os Espíritos, insistindo no desenvolvimento
de uma faculdade que, freqüentemente, não existe neles, guiados nisso, o mais
freqüentemente, pela curiosidade do que pelo desejo sincero de se melhorar. Disso resulta
que, em lugar de se envolver de uma atmosfera fluídica salutar, de se cobrir com as
asas protetoras de seus anjos guardiães, de procurar domar as suas fraquezas morais,
abrem de par em par a porta aos Espíritos obsessores que talvez os tivessem atormentado
de um outro modo e num outro tempo, mas que aproveitam a ocasião que se lhes oferece.
Que dizer então daqueles que se fazem um divertimento das manifestações e nelas
não vêem senão um assunto de distração ou de curiosidade, e que nelas não procuram
senão os meios de satisfazerem sua ambição, sua cupidez e seus interesses materiais? É
neste sentido que se pode dizer que o exercício da mediunidade pode provocara invasão
de maus Espíritos. Sim, é perigoso divertir-se com essas coisas. Quantas pessoas lêem
O Livro dos Médiuns unicamente para saberem como nelas se prospera, porque a receita
ou o procedimento é a coisa que mais lhes interessa! Quanto ao lado moral da questão, é
o acessório. Não é preciso, pois, imputar ao Espiritismo o que é o fato de sua imprudência.
Retornemos aos possessos de Morzine. O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo,
vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos simultaneamente, e dar, à
obsessão, um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade,
e ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que
grassou na Judéia no tempo do Cristo, e, em nossa opinião, foi uma epidemia semelhante
que causou estragos em Morzine.
É o que procuraremos estabelecer num próximo artigo, onde faremos ressaltar os
caracteres essencialmente obsessionais dessa afecção. Analisaremos os memoriais dos
médicos que a observaram, entre outros o do doutor Constant, assim como os meios curativos
empregados, seja pela medicina, seja pelo recurso dos exorcismos.

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