sábado, 6 de outubro de 2007

David Copperfield - Charles Dickens

Publicado por fases entre Maio de 1849 e Novembro de 1850, "David Copperfield" é a grande obra de Charles Dickens, pelo menos é aquela que o autor mais tempo dedicou, não se cansando de afirmar ser esta a sua obra preferida.
Publicado numa altura em que Dickens era já um escritor consagrado, "David Copperfield" narra a história de um menino, orfão de pai, que vive com a sua mãe e uma criada que o mimam com carinho e atenção e que, de repente, vê a sua vida levar uma volta de 360º quando a mãe casa com um homem mais velho. No entanto não é só o surgimento desse homem que vai alterar o seu quotidiano, esse homem, austero e crente que as crianças deviam ser educadas num ambiente austero e muito rígido, acaba por convidar a sua irmã para ir viver com eles e é a partir daí que a vida de David se torna um autêntico pesadelo, sempre com o consentimento da mãe, completamente "amordaçada" pelo marido, vivendo num clima de medo e submissão não só ao esposo como e principalmente à irmã deste. Assim, oprimido, espancado e aprisionado, David tenta superar esses traumas através da leitura compulsiva dos velhos livros do seu pai, tornando-se então conhecedor de dezenas de histórias que, posteriormente, lhe vão permitir uma relativa distinção junto dos seus colegas num colégio interno onde acaba por ser internado, ou antes aprisionado.
É uma obra muito vasta que, pessoalmente, divido em três partes:
-1ª Parte: A infância difícil e traumática de David (referida no parágrafo anterior);
-2ª Parte: inicia-se quando David Copperfield é acolhido (adoptado) pela sua tia-avó paterna;
-3ª Parte, é a narração da vida adulta, profissional e os amores de David.
Como podem constatar, esta é uma obra que abrange quase toda a existência de David Copperfield e, em simultâneo, uma época da sociedade londrina que permite a Dickens efectuar várias análises.
Da história prefiro não contar mais. Não gosto, nas minhas opiniões, de aprofundar muito o enredo, porque simplesmente considero que ao faze-lo posso estar a desmotivar o leitor a ler a obra, gosto antes de dar umas luzes, ou como gosto de dizer, de "picar" o leitor.
Assim sendo, passo à análise da obra.
Como já afirmei, Dickens considerava esta a sua obra preferida e a razão é porque esta obra foi baseada na sua vida, ou seja, é um enredo escrito com base nele próprio e na sua família, uma autobiografia.
Dickens foi um mestre na arte narrativa e na forma sublime como criou tantos personagens, sabendo-lhe dar vida e imortalidade. Em "David Copperfield", Dickens cria uma série de personagens que, dadas as suas características marcantes, ficam na memória de quem lê o livro. Para além de David Copperfield, temos o simpático e cortês Mr. Micawber (claramente baseada no pai de Dickens) que com a sua mulher, serão protagonistas de momentos deliciosos; o falso e arrogante Huriah Heep, personagem odiosa (representa os agiotas tão em voga naquela época); a bondosa Mrs. Peggoty, a ama de David que o acompanhará desde sempre; a velha tia de David, das personagens mais importantes; Mr. Murdstone e sua maléfica irmã; a bela Emily, primeiro amor de Copperfield, Agnes; Dora; e muitos outros.
Obra escrita, segundo o próprio Dickens, para ser emocionalmente sentida, é impossível não se fazer análises à narrativa de Dickens.
Primeiro é que esta obra reflecte a infância de Dickens, que oriundo de uma família modesta, vê-se obrigado, ainda em criança, a trabalhar numa fábrica de betume depois do seu pai ter sido preso por dívidas. Acaba por completar os estudos mínimos e emprega-se num escritório de advogados, sendo sensivelmente nessa época que se inicia no mundo do jornalismo, até que aos 26 anos o sucesso surge de rompante devido à publicação do seu primeiro livro "The Pickwick papers", engraçado que todo este percurso está, de um modo geral, bem representado na obra. Redimindo-se de tantas misérias, Dickens dedica a sua vida à escrita, tecendo frequentemente, nos seus romances, críticas mordazes aos ricos e poderosos, aliando nas suas narrativas um tom idealista e sentimental, descrevendo as vidas difíceis e miseráveis dos pobres e oprimidos, tentando assim comover e sensibilizar aqueles que o liam. Neste livro ele fá-lo e este livro é um espelho desse percurso.
Ler Dickens é fácil e agradável. Este livro, embora volumoso, narra não só uma história tocante, como também dá-nos uma imagem nítida da época e de uma sociedade há muito desaparecida. Uma sociedade vitoriana cheia de vícios e misérias, mas também com muitas virtudes. No entanto e embora seja um deleite ler este livro, julgo que ele contém alguns momentos com pouco interesse. Existem partes muito monótonas que trazem pouco ao desenvolvimento da história, dá a clara sensação que Dickens queria escrever mais, parecendo até que não se queria separar da história, que não a queria terminar. Também fiquei algo decepcionado como Dickens trata os austeros Mr. e Mrs. Murdstone.
Um excelente romance, aqui e ali com motivos de pouco interesse, mas que não chegam para não o considerar como um clássico da literatura universal. Uma história comovente que tem o condão de enternecer e de nos envolver num manto de solidariedade.

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