Alguns livros carregam uma simplicidade e beleza que até assustam. Não podem ser assim tão bons! Podem, sim!!! Alguns dias são mais ímpares que outros. Plantam em nós uma semente de tristeza ou alegria especial, diferente, inexplicável. Foi num dia desses, ímpar, quase primo, que encontrei O Sapo Está Triste (Texto e ilustrações de Max Velthuijs, tradução de Mônica Stahel, Martins Fontes). Acho que estava com saudade. Um momento de extrema solidão. Daquela solidão que nem amigo, nem pai, nem mãe, conseguem resolver. Aquele nó na garganta. Lágrimas querendo fugir dos olhos sem saber como. Pois foi assim. Encontrei o livro também numa tristeza. Esquecido, ou melhor, espremido no meio de tantos outros, escondido na prateleira. Acho que esperava por mim. Saltou na minha tristeza. Fomos juntos ao café. Nas suas páginas, em frases curtas, diretas, a história de um sapo que estava triste, sem motivo aparente. Vontade de chorar. Uma tristeza aguda, imune aos afagos do ursinho. O amigo rato insiste, insiste, insiste até que... A história termina com o sapo rindo e cercado de amigos. Eu ainda estava no café. Minhas lágrimas não suportaram a força do livro. Derramaram toda a tristeza e embaçaram as lentes dos óculos. Respirei fundo, pedi outro café. Enxuguei a saudade e as lentes. Fui apreciar as ilustrações do autor. O livro é lindo também por seus desenhos. Têm a simplicidade e beleza de uma bela canção tocada num violino. De repente, eu também estava sorrindo. A saudade ficou presa no tempo daquela tarde. Eu, o sapo e seus amigos seguimos para casa onde saltamos vez em quando em busca de novos olhares. Não precisa estar triste para se encantar com suas páginas. Elas encantam por si. Eu é que desencantei da saudade. Ela chega vez em quando. Deixo ela ficar por um tempo, depois ela se vai. Os mais próximos percebem: “o Tino está triste”. Mas assim como no livro, me cerco de cores e amigos (pessoas, livros, discos), choro um pouquinho e volto ao “normal”. Alguns livros carregam uma simplicidade e beleza que até assustam.
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