Embora seja um leitor compulsivo de romances históricos, até à data não havia lido nenhum que tivesse como "cenário" o império romano e, o pouco que sei desse Grande Império é devido a programas de História que vão passando nos nossos canais por cabo. Assim e a conselho duma ilustre livriana, lancei-me na aventura de ler "Eu, Cláudio", livro escrito em 1941 por Robert Graves.
"Eu, Cláudio" relata 82 anos da História do Império Romano (41 a.c. a 41 d.c.). Toda a narrativa é nos contada na primeira pessoa por Tibério Cláudio Druso Nero Germânico, filho de Germânico e Antónia, neto de Lívia e por afinidade do imperador Augusto, sobrinho do imperador Tibério e tio de Calígula, outro famoso imperador.
"Cláudio, o gago"; "Cláudio, o idiota"; "Esse Cláudio"; "o pobre tio Cláudio" ou "Cláu, Cláu, Cláudio", é um homem que teve a sorte (já irão perceber porquê) de nascer coxo, gago, surdo de um ouvido e tido por quase todos, desde a sua infância, como sendo um imbecil. Devido a esse facto e embora pertença à família imperial, é colocado de parte e é entregue para que seja educado a Atenodoro que depressa se apercebe na imensa inteligência e perspicácia de Cláudio, dando-lhe então as bases para ele se tornar num minucioso historiador.
E é precisamente nessa perspectiva que Cláudio faz a narração dos acontecimentos que assolaram o império nos anos antes referidos.
Das personagens que vão desfilando, realço especialmente os imperadores Augusto, Tibério e Calígula. Enquanto Augusto se revela um homem com ideias e actos grandiosos, Tibério já se mostra algo fraco, revelando um gosto obsessivo por depravações sexuais. No entanto, o pior de todos e aquele que mais me impressionou é Calígula. Um homem que se julga um Deus. É completamente louco, manda assassinar quem quer e onde quer. Os acontecimentos absurdos e sádicos sucedem-se a um ritmo demente. Lembro-me que chega a nomear o seu cavalo para o cargo de senador, num casamento para o qual havia sido convidado e só por ver o noivo beijar a noiva, decide logo ali casar com ela, o que faz logo no dia seguinte, obrigando o noivo a assistir. Inventa leilões só para ganhar dinheiro, indo ao ponto de levar 20.000 moedas de ouro por uma sandália, não o par, mas uma única sandália. Um período completamente absurdo onde governou pelo terror. Mas a mais marcante talvez seja Lívia, mulher do imperador Augusto, que se revela uma mulher impiedosa, não olhando a meios nem a laços familiares para defender os seus interesses. E é nas descrições desses jogos e conspirações palacianas, que o romance gira, ficando assim com uma ideia clara da política, do interesseirismo que caracterizava o Império Romano.
"Eu, Cláudio" é um livro excepcional que, na minha opinião e embora eu admita não ter conhecimentos sobre a época que me ajudem a avaliar a exactidão Histórica da obra, mas e quanto a mim, peca apenas pelas imensas personagens que nele desfilam, personagens esses que, por vezes, não têm grande relevância na história. Mas é uma obra que nos revela a magnificência desse grandioso império, os jogos de interesse que iam ao ponto de alguém se divorciar só para casar com outro ou o próprio imperador decidir que aquele se divorciaria daquela para ir para outra. Há espaço também para a descrição das guerras com os germânicos, dos espectáculos sangrentos das arenas onde se digladiavam desde escravos, até simples cidadãos; inclusivamente aborda-se, embora de uma forma leve, a vinda do salvador que Calígula julgava ser ele (era da idade de Jesus Cristo).
Um livro apaixonante que se lê com um interesse redobrado, tal o encadeamento de toda a história, ajudando também a escrita fluída e simples que consegue "agarrar" o leitor do princípio ao fim.
Para findar, achei muito interessante a forma hilariante como Cláudio narra certos acontecimentos passados com ele e sobretudo com o louco Calígula. O homem julgava um ser divino e, por causa disso, Cláudio narra factos imensamente hilariantes que me levaram a dar imensa gargalhadas.
E a sorte dele foi mesmo ter nascido cheio de defeitos porque é precisamente por isso e por o terem sempre achado que era um imbecil que consegue passar sempre despercebido, nunca o vêm como um possível inimigo ou adversário, logo, deixam-no sossegado, no seu cantinho, entretido a escrever histórias.
Aconselho!
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