Tema central do século XX, particularmente da primeira metade, o fascismo (como o nazismo) continua na ordem do dia, dadas as tendências manifestadas em algumas sociedades europeias de aceitação de organizações de extrema-direita, racistas e xenófobas. E, curiosamente, com alguns pontos de coincidência nos processos que permitiram a ascensão e instalação dessa direita totalitária há pouco mais de cem anos – em Itália, na Alemanha, mas igualmente noutros países.
Esta obra de Manuel Loff, resultado em livro de uma investigação de doutoramento, não é obviamente de leitura para a maioria das pessoas. Mas poderá ser de muita utilidade, no entanto diminuída pela não inclusão de um índice remissivo, que para um texto de 900 páginas seria de grande utilidade. E mais quando as referências se entrecruzam, ao longo da obra, envolvendo nomes, datas e fontes.
Sobre as fontes e personagens da obra é o próprio autor quem alerta que se trata de um território de análise tão amplo e diversificado, e talvez ambíguo, “quanto o da mentalidade política das elites pode conduzir o investigador a admitir como fontes documentais passíveis de uma análise relevante uma lista infindável de objectos”.
Explica o autor que o tema central do trabalho é o salazarismo e o franquismo, não Portugal e os portugueses, o mesmo acontecendo com Espanha e o franquismo. Tal como prefere a referência ao salazarismo num sentido mais amplo do que o de Estado Novo, explicando que este traduz uma auto-designação adoptada pelos dirigentes do regime, em que a dimensão ideológica se secundariza face à dimensão sistémica e formal.
Uma curiosa verificação pelo investigador é a de que as cartas dirigidas a Salazar por Theotónio Pereira, enquanto embaixador em Madrid, eram sistematicamente amputadas, na transcrição para a série documental do Ministério dos Negócios Estrangeiros. E porquê? Não molestar a figura, o comportamento político e a postura pretensamente neutralista assumida por Franco durante a II Guerra Mundial. E como o faziam? Pasme-se: por omissão pura e simples, ou pela transformação da linguagem e da própria mensagem. Admirava-se alguém da censura que devastava a Imprensa?
Muito interessante o aclaramento do pretenso neutralismo português no conflito, quando Manuel Loff levou um alto responsável inglês a admitir que a prosseguirem as tomadas de posição de Salazar, tal poderia ser “o primeiro passo para a destruição da aliança anglo-portuguesa” e para o “desaparecimento do império português”. No mesmo sentido vai o relato do conflito entre o embaixador português em Londres, Armindo Monteiro – pró-Aliados –, e o Presidente do Conselho. Acabou afastado do cargo e nunca voltou a ter qualquer cargo governamental.
Para que a História não seja branqueada…
Esta obra de Manuel Loff, resultado em livro de uma investigação de doutoramento, não é obviamente de leitura para a maioria das pessoas. Mas poderá ser de muita utilidade, no entanto diminuída pela não inclusão de um índice remissivo, que para um texto de 900 páginas seria de grande utilidade. E mais quando as referências se entrecruzam, ao longo da obra, envolvendo nomes, datas e fontes.
Sobre as fontes e personagens da obra é o próprio autor quem alerta que se trata de um território de análise tão amplo e diversificado, e talvez ambíguo, “quanto o da mentalidade política das elites pode conduzir o investigador a admitir como fontes documentais passíveis de uma análise relevante uma lista infindável de objectos”.
Explica o autor que o tema central do trabalho é o salazarismo e o franquismo, não Portugal e os portugueses, o mesmo acontecendo com Espanha e o franquismo. Tal como prefere a referência ao salazarismo num sentido mais amplo do que o de Estado Novo, explicando que este traduz uma auto-designação adoptada pelos dirigentes do regime, em que a dimensão ideológica se secundariza face à dimensão sistémica e formal.
Uma curiosa verificação pelo investigador é a de que as cartas dirigidas a Salazar por Theotónio Pereira, enquanto embaixador em Madrid, eram sistematicamente amputadas, na transcrição para a série documental do Ministério dos Negócios Estrangeiros. E porquê? Não molestar a figura, o comportamento político e a postura pretensamente neutralista assumida por Franco durante a II Guerra Mundial. E como o faziam? Pasme-se: por omissão pura e simples, ou pela transformação da linguagem e da própria mensagem. Admirava-se alguém da censura que devastava a Imprensa?
Muito interessante o aclaramento do pretenso neutralismo português no conflito, quando Manuel Loff levou um alto responsável inglês a admitir que a prosseguirem as tomadas de posição de Salazar, tal poderia ser “o primeiro passo para a destruição da aliança anglo-portuguesa” e para o “desaparecimento do império português”. No mesmo sentido vai o relato do conflito entre o embaixador português em Londres, Armindo Monteiro – pró-Aliados –, e o Presidente do Conselho. Acabou afastado do cargo e nunca voltou a ter qualquer cargo governamental.
Para que a História não seja branqueada…
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Manuel Loff
“O nosso século é fascista!”, O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945)
Campo das Letras, 36€
Manuel Loff
“O nosso século é fascista!”, O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945)
Campo das Letras, 36€
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