segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A Árvore da Vida - Um Estudo sobre Magia, de Israel Regardie

INTRODUÇÃO
Em virtude da bastante difundida ignorância a respeito da soberana natureza da Teurgia
Divina e a despeito de freqüentes referências quase em toda parte ao assunto magia, permitiuse
que ao longo dos séculos se desenvolvesse uma total incompreensão. São poucos hoje os
que parecem ter sequer a mais vaga idéia do que constituiu o elevado objetivo de um sistema
considerado pelos sábios da Antigüidade a Arte Real e a Alta Magia. E por ter existido
quantitativamente ainda menos pessoas preparadas para defender até o fim a filosofia da magia
e disseminar seus verdadeiros princípios entre aqueles julgados dignos de recebê-los, o campo
de batalha tomado pelas reputações destroçadas de seus Magos foi cedido aos charlatães.
Esses, ai de nós, fizeram bom uso de sua oportunidade de esbulho indiscriminadamente, a tal
ponto que a própria palavra magia se tornou agora sinônimo de tudo que é desprezível, sendo
concebida como algo repulsivo.
Durante muitos séculos na Europa autorizou-se esse incorreto estado de coisas, que se
manteve até em torno de meados do século passado, quando Éliphas Lévi, um escritor dotado
de certa facilidade de expressão e talento para a síntese e a exposição, se empenhou em
devolver à magia sua antiga reputação grandiosa. Até que ponto teriam seus esforços obtido
êxito ou não caso não tivessem sido sucedidos e estimulados pelo advento do movimento
teosófico em 1875 em associação com a discussão aberta do oculto e de temas místicos que a
partir de então se seguiram, é extremamente difícil dizer. E mesmo assim, não foram coroados
de muito êxito, pois apesar de quase oitenta longos anos de atenção e discussão aberta da
filosofia e prática esotéricas em vários de seus ramos, não é possível descobrir no Catálogo da
Sala de Leitura do Museu britânico uma única obra de magia que tente apresentar uma
exegese lúcida, clara e precisa, desembaraçada do emprego exagerado de símbolos e figuras
de linguagem. Oitenta anos de estudo do oculto e nem sequer uma obra séria sobre magia!
Por algum tempo tornou-se conhecido em vários lugares que este escritor era um
estudioso de magia. Conseqüentemente indagações acerca da natureza da magia seriam amiúde
endereçadas a ele. Com o passar do tempo tais indagações tornaram-se tão numerosas e tão
abismal a ignorância involuntária sobre o assunto contida em todas elas que parece ser a hora
exata para tornar disponível a esse público uma exposição sintética e definitiva. Visto que
nenhuma outra pessoa tentou executar essa tarefa de tremenda importância, recai sobre este
escritor essa difícil tarefa. Ele não se propõe limitar-se mediante observações plausíveis acerca
da incomunicabilidade de segredos ocultos. Tampouco mencionará a impossibilidade de
transmitir a vera natureza dos mistérios da Antigüidade, como alguns autores recentes fizeram.
Embora tudo isso seja verdadeiro, não obstante há de comunicável na magia o suficiente. A
despeito de centenas de páginas com o fito de elucidar, é preciso também dirigir a esses
escritores a severa acusação de terem realizado muito para confirmar a opinião pública na já
firme crença de que a magia era ambígua, obscura e uma tolice. Dificilmente poder-se-ia
sustentar uma concepção mais errônea do que essa, pois a magia, que me permitam insistir, é
lúcida. É definida e precisa. Não há fórmulas vagas ou dubiedades compreendidas dentro da
esfera de sua exatidão; tudo é claro e concebido para o experimento prático. O sistema da
magia é absolutamente científico, e cada uma de suas partes é passível de verificação e prova
sob demonstração. A árvore da vida é publicado, admito, com uma certa hesitação, com o
único objetivo de preencher essa lacuna existente. Este escritor deseja tornar inteligível e
compreensível para o indivíduo leigo, inteligente e comum, para o aprendiz dos Mistérios e
aqueles versados no saber de outros sistemas místicos e filosofias os princípios radicais a partir
dos quais a formidável estrutura imponente da magia é construída. Com uma exceção, não
conhecida ou adequada ao público em geral, infelizmente, essa tarefa necessária jamais foi
realizada anteriormente.
A freqüência de longas citações provenientes de escritos de autoridades em magia que
o autor aqui inseriu se explica de modo bastante simples, devendo-se apenas ao desejo de
demonstrar que os mais amplos pontos essenciais desta exposição não são o resultado de
qualquer invencionice do autor, estando, pelo contrário, firmemente enraizados na sabedoria da
Antigüidade. É desnecessário que se apontem para o autor expressões rudes, possíveis
interpretações equivocadas de fatos ou teorias e pecados de omissão e cometimento. Em razão
disso ele se desculpa humildemente, devendo ser perdoado em função de sua juventude e
inexperiência. Que seus esforços incitem outra pessoa mais sábia, dotada de melhores recursos
para escrever e detentora de um conhecimento mais profundo da matéria e seus correlatos de
modo a produzir uma melhor formulação da magia. Este escritor estará dentre os primeiros que
aclamarão essa realização com boas-vindas e louvores.
É também necessário registrar a atitude cortês dos senhores Methuen & Co. que
deram a permissão para reproduzir as ilustrações dos quatro deuses egípcios de Os deuses dos
egípcios, de Sir E. A. Wallis Budge.
Israel Regardie
Londres, agosto de 1932.

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