segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Monteiro Lobato responde carta de leitora...

Depois da visita ao Museu da Língua Portuguesa, chegamos ao AMCHAM por volta das 13h30. O almoço foi completamente esquecido em prol da vontade de ouvir Regina Zilberman, Laura Sandroni e Marisa Lajolo, as mestras em Literatura daquela tarde. Confesso que o panorama histórico da nossa Literatura Infantil a partir dos anos 70 traçado por Laura Sandroni e a fala de Regina Zilberman – que em virtude do atraso de seu vôo, chegou e saiu como num “susto” – sobre o ensino médio e a formação do leitor pareceram menores diante do impacto da apresentação que Marisa Lajolo fez de uma carta-resposta de Monteiro Lobato a uma pequena leitora. A missiva apresentada ganhou aplausos já no início. É fruto da pesquisa que Lajolo desenvolve na UNICAMP, examinando cartas entre crianças e autores desde Monteiro Lobato até Pedro Bandeira. A pesquisadora afirmou que Lobato – assim como Lewis Carroll - respondia cartas de seus leitores e ia a escolas, mostrando que esta era uma prática antiga para conquistar leitores. Ela não havia presenciado a fala de Ana Maria Machado no dia anterior. Foi preciso explicar a ela o motivo de tal manifestação de apoio do público, que viu na atenção prestada por Lobato o carinho que pareceu não mais existir entre a imortal e seus fãs com pouca erudição. Marisa Lajolo e Monteiro Lobato foram aplaudidos entusiasticamente.
A pesquisadora apontou vários detalhes da carta (clique sobre a imagem acima para uma melhor visualização): desde a forma como se escrevia o ano (com três algarismos), passando pelo detalhe da data em si, mostrando que o autor, mesmo ocupadíssimo com a questão do petróleo, arranjou tempo e atenção para responder a missiva de uma criança encantada com o seu Sítio. Numa leitura mais atenta, percebe-se que Lobato entra na fantasia do seu universo. Fala da língua alemã referindo-se a um título germânico que ele havia traduzido (Barão de Munchausen) e ainda dá um pito nos editores, reclamando do atraso na publicação do novo livro. Ainda dá dicas sobre os bastidores da criação. Tudo isso – e mais – nas entrelinhas daquele datiloscrito (datilografia corrigida à mão). Uma aula de história e de respeito ao leitor. Ao final, mais aplausos. O espectro negativo que baixou na tarde anterior se dissipou por completo na carta de Lobato, nas palavras de Lajolo. Almocei deliciosos bolinhos fantasiosos de Tia Anastácia. Pausa para o cafezinho. Suspiros. That’s all, folks!

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