Título: Mérope
Autor: Almeida Garret
Gênero: Romance
Retirado do livro:
Tinha dezoito anos quando fiz esta tragédia; foi nos meus últimos tempos de Coimbra, tempos de memória saudosa porque eram todos de inocência e de esperança. Não sei se é por isso que ainda tenho amor a tão imperfeito ensaio, e me não atrevo a queimá-lo, como fiz a tantos versos e a tantas prosas da minha criancice.
Mas parece-me que não, e que só o conservo pela sincera vontade de mostrar como comecei a engatinhar na carreira dramática com as andadeiras clássicas e aristotélicas que a ninguém se tiravam ainda então em Portugal. Romantismo, cá o houve sempre; essa moléstia, se tal é, esse andaço de bexigas, como já lhe ouvi chamar, nunca saiu da nossa Península, Mas a vacina, como a prepararam Goethe e Scott, essa é que não havia; e creio que fui eu que a introduzi, Deus me perdoe se fiz mal. Já começo a desconfiar que sim Vejo tanta bexiga negra e maligna, vejo morrer delas tanto rapaz de esperanças!
Ora! – ninguém morre senão quem tem de morrer. – Morriam a fazer odes pindéricas e sonetos de anos, que é a moléstia mais nojenta, e a morte mais sensabor que há. Ao menos este delírio da febre romântica faz dizer, com muito desvario, muita coisa de espírito sublimidades às vezes.
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