segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Os Druídas: Sacerdotes–Xamãs dos Celtas, de Alan Impelliceri

Muitas das informações que temos sobre os druidas vieram dos gregos e romanos. Estes ficaram profundamente impressionados, de modo favorável e ao mesmo tempo desfavorável, por seu dramático sacerdócio. Seu próprio e original nome, dru–wid–es, quer dizer "os que vêem mais além", denominação que poderia aludir a visões proféticas, a uma qualidade clarividente, ou à mais antiga "visão xamânica durante o vôo".

Conta-se que o Rei Ailill, da Bretanha, enviou o seu druida Mac Roth para averiguar onde estavam se reunindo os exércitos do Ulster (Irlanda) e que Mac Roth voou sobre eles e observou seus movimentos sobre uma grande área do terreno.
Entretanto, para uma comprovação mais convencional de suas missões, devemos nos referir ao irmão de César e às notícias que deu a seus compatriotas: "Os druidas realizam culto aos seus Deuses, regulam os sacrifícios públicos e privados e editam normas sobre todas as questões religiosas. Muitos jovens vão até eles em busca de instrução. São mantidos com grande honra pelo povo e atuam como juízes praticamente em todos os conflitos, seja entre tribos ou entre indivíduos; quando se comete algum crime, ao ocorrer um assassinato ou ao surgir uma disputa por herança ou fronteira, são eles que opinam sobre o assunto e assinalam a compensação."

Crê-se que a doutrina druida surgiu na Bretanha e, a partir desta, foi introduzida na Gália. Ainda hoje, aqueles que querem fazer um estudo profundo sobre o tema geralmente vão até a Bretanha.
Os druidas estavam dispensados do serviço militar e não pagavam impostos como os outros cidadãos. Naturalmente, esses importantes privilégios eram muito atraentes; muitos se apresentavam voluntariamente para estudar esta ciência, e outros eram enviados por seus pais e familiares.

Dizem que os alunos deviam memorizar um grande número de versos, tanto que alguns levavam até vinte anos de estudos. Uma lição que lhes exigia um verdadeiro esforço de assimilação era a noção de que a alma não perece, mas que, depois da morte, passa a um outro corpo; os druidas pensavam que esse era o melhor incentivo para o valor, porque ensina o homem a não temer a morte. Mantinham longas discussões sobre os corpos celestes e seus movimentos, o tamanho do Universo e da Terra, a constituição física do mundo e o poder e as características dos deuses; os jovens eram instruídos em todas essas matérias.
O grego Diodoro Sículo considerava-os grandes filósofos no que se refere a assuntos de religião, e Plínio escreve que eles eram "adivinhos e físicos", parte de um grupo mais amplo a que denominava "magos".

Os druidas eram versados em todos os estudos e tinham o dom da profecia; eram mestres de feitiçaria e de magia e podiam produzir brumas misteriosas, mudar de aparência e fazer outros encantamentos quando fosse necessário. Também podiam impor o geis, uma espécie de tabu mágico que era, ao mesmo tempo, uma ordem e uma proibição, e não podia ser transgredido sem se incorrer em pena de morte ou em desonra.
Ward Rutherford, em seu livro Los Druidas, adverte que eles não eram sacerdotes ordinários e acredita que a pessoa que os romanos tomaram como um sacerdote seria mesmo um chefe local, que às vezes era considerado Deus–Rei–Sacerdote. Se está certo esse autor e os druidas não eram meros sacerdotes, então estamos diante de uma tradição extraordinária, que perdurou durante vários milênios, de xamãs-sacerdotes-magos, um grupo de homens que vagavam livremente sem que fossem impedidos por quaisquer limites tribais.

Possuíam conhecimentos de Ciência, Matemática, Botânica, Medicina e Astronomia; eram encarregados da nomeação dos reis (o rei velho era, com freqüência, morto ritualmente antes que fosse eleito um novo); faziam sacrifícios rituais; ensinavam oralmente uma doutrina secreta, bem como conhecimentos tradicionais, terminantemente proibidos de serem escritos. Possuíam um poder misterioso que o grego Laércio compara com os magos persas, com os caldeus da Babilônia e da Assíria e com as sementes do hinduísmo.
Rutherford assinala também que o termo "mágico", tal como era usado então, designava um possuidor de sabedoria. Os magos eram conhecidos como os "sábios", e esse aspecto do fenômeno druida é o que falta freqüentemente nas considerações modernas.

Quando Roma conquistou as Gálias, no último século antes de Cristo, o que César temeu foram os druidas e suas influências. Acreditava na possibilidade de fracasso caso esses sábios se unissem contra ele. Em conseqüência, introduziu medidas repressivas, e os druidas foram forçados a fugir para regiões remotas, como Inglaterra, Irlanda e Gales, onde não seriam incomodados.
O modo de vida celta continuou na Irlanda até o século XVI (mesclado com o cristianismo), e existem indícios de que alguns druidas conservaram sua influência ao menos até o século XVII; acredita-se ter São Patrício falado com um deles. Entretanto, por volta do século X, desapareceram para sempre.


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