Certa vez, o Bodhisattva havia nascido no reino de Dipavati e era um
Brahmacârin chamado Mânava. Ele recebera ensinamentos de seu mestre e costumava
olhar as constelações no céu. Vendo-as ou ouvindo-as, ele havia compreendido todos os
livros que tratavam de diagramas e de adivinhação. Ele se comportava de maneira sincera
e honrava a devoção filial. Todas as pessoas instruídas do reino o louvavam. Seu mestre
lhe disse: “Sua sabedoria está completa e seus conhecimentos são suficientes. Por que
você não toma a resolução de viajar para que o ensinamento e a conversão tenham
início?”. Ele respondeu: “Estou em uma situação de muita pobreza e desprovido de toda
riqueza. Como não tenho meios de pagar as bondades do senhor, não ousava retirar-me.
(Contudo) minha mãe adoeceu gravemente e não posso tratá-la com remédios. Irei
mendigar e me colocarei sob as ordens de alguém a fim de poder arcar com os custos dos
remédios”. Havendo seu mestre aprovado integralmente, ele se prosternou e se retirou.
Ao percorrer todos os reinos vizinhos, ele viu quinhentos brahmanes que,
reunidos em uma sala de conferência, ali haviam colocado um trono elevado, bem como
uma bela mulher e cento e cinqüenta peças de prata. Eles haviam acordado que, àquele
que se sentasse no trono elevado, todas as pessoas instruídas viriam reunidas para
colocar-lhe perguntas constrangedoras. Se ele expressasse pontos de vista hábeis e uma
sabedoria profunda, a mulher e o dinheiro lhe seriam dados em recompensa. O
Bodhisattva se aproximou para observar e percebeu que a ciência deles era pouco sólida
e, quando se lhes colocava alguma objeção, sua dialética chegava ao fim. Assim, ele disse
àqueles instruídos: “Também eu sou filho de brahmane. Poderia tomar parte na
discussão?”. Todos assentiram, e ele subiu ao trono elevado. As objeções que lhe
colocaram as pessoas instruídas eram superficiais, mas suas respostas foram de uma
sabedoria profunda. As questões eram mesquinhas, mas suas explicações, muito
adequadas. As pessoas instruídas disseram: “Está aí um homem cuja sabedoria é elevada
e a inteligência, penetrante. Ele é digno de ser considerado como um mestre”. Todos
desceram e se prosternaram pondo a face contra o chão. Mas, quando o Bodhisattva se
retirou, eles disseram: “Ainda que esse homem seja um sábio, é somente um estrangeiro.
Não se deve conceder-lhe uma moça de nosso país. Que lhe seja dada uma maior
quantidade de dinheiro!”. Quando eles fizeram essa proposta, o Bodhisattva respondeu:
“Aquele cuja sabedoria é elevada possui a virtude profunda. Eu desejo a doutrina do não
desejo. Esse é o único desejo que tem valor. Quando pela sabedoria se transmite a
inteligência de um homem ao outro, a conversão, que acompanha cada pessoa como a
própria sombra, não cessa jamais. Não é isso que poderíamos chamar de uma excelente
posteridade? Vocês, no entanto, querem obstruir a fonte da sabedoria e cortar o caule da
virtude. Não é isso que podemos chamar de supressão da progenitura?”1. Quando
terminou de falar, ele se retirou. Os brahmanes ficaram vermelhos de vergonha e
cobertos de confusão.
A mulher disse: “Este homem superior é meu senhor”. Ela arregaçou sua roupa e
começou a seguir os passos dele. Percorreu diversos reinos – suas forças se esgotaram,
seus pés adquiriam úlceras – e parou, cansada, à beira do caminho. Ela havia então
chegado ao reino de Dipavati. O rei desse país se chamava Tche-cheng. Enquanto
percorria o reino para inspecionar o território, percebeu aquela mulher que chegava ao
fim de suas forças. Ele perguntou-lhe quem era ela e o que fazia à margem do caminho. A
mulher contou tudo o que lhe havia acontecido. O rei louvou a resolução dela, teve
grande piedade e lhe deu a seguinte ordem: “Venha comigo a meu palácio. Eu a tratarei
como minha filha”. A mulher respondeu: “Poderia eu comer, sem merecer, o alimento
que me seria dado por um homem pertencente a outra família que não a minha? Desejo
que o senhor me ordene algum trabalho e então eu o seguiria, ó grande rei!”. O rei lhe
disse: “Você colherá flores belas que servirão para a decoração que determinei seja
preparada”. A mulher, solícita, consentiu e voltou com o rei ao palácio. Todos os dias, ela
colhia belas flores para suprir as necessidades do rei.
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