O teste final para saber se uma história é boa ou não é levá-la a uma roda de ouvintes e contá-la para o grupo. Normalmente as crianças do projeto Roedores de Livros são agraciadas com nossas descobertas literárias. Algumas histórias dispersam, outras exigem a concentração que só uma leitura individual pode oferecer. Muitas, encantam. Neste final de ano, com o projeto em recesso, tive que apresentar nossa última descoberta a dois grupos distintos, formados por adultos e adolescentes. O resultado foi o mesmo: espanto, arrepios (mesmo!!!), curiosidade e, por fim, o livro circulando de mão em mão como um troféu. Era um exemplar de SETE OSSOS E UMA MALDIÇÃO (Rosa Amanda Strausz, Rocco).
Ele chegou em casa na sexta à noite, um dia sugestivo para um livro de terror. Este gênero mexe com a garotada. Sempre querem uma história assim. Tenho visto muitos meninos e meninas nas livrarias folheando os livros da série Goosebumps e comentando uns com os outros: “- Cara, essa história é sinistra... mó legal”. Bem, eu ainda não li nada da série. Tenho até uma edição de Como matar um monstro na nossa caixa de “próximas leituras”. Irado mesmo, sinistro pra caramba e capaz de arrepiar os cabelos de crianças, jovens e adultos é o livro de Rosa Amanda Strausz. São 11 contos com fantasmas, espíritos, vozes e barulhos misteriosos, crianças e adolescentes. O realismo fantástico impera e assusta. Dá aquele friozinho na barriga de quando o automóvel encontra uma ladeira subitamente. É um texto em que a autora usa da inteligência para conquistar o leitor. Não precisa derramar sangue. Não derrama. Abusa de finais abruptos e surpreendentes, mas antes, nos leva por cemitérios, casarões abandonados, ruas desertas e tantos outros cenários que fazem nossa imaginação tremer um pouquinho a cada linha. Mas acredite: a leitura é por demais prazerosa.
O primeiro conto já é um clássico. Chama-se Crianças à venda. Tratar aqui. Uma mãe resolve vender seus filhos para escapar da miséria em que vivem. Um a um seus filhos são vendidos. Tião, Francineide, Ronivon e Fabiojunio. Mas a filha mais velha – preterida pelos compradores - desconfia que algo muito estranho esteja acontecendo... Outro conto - Devolva minha aliança – fala sobre meninos que brincam no cemitério de uma pequena cidade. Mais sustos e surpresas. Para as meninas, o conto Dentes tão brancos deve impressionar. Nossa Júlia, de 10 anos, que adora arrancar seus dentes de leite sozinha, assim que eles começam a amolecer, ouviu essa história de amor com uma atenção... O conto que dá título ao livro já começa a intrigar pelo que mostra na belíssima capa do exemplar: uma foto do rosto de uma boneca espanhola com um olhar e um sorriso que despistam o tema. O primeiro parágrafo convida o leitor para mais um mistério: “Se não fosse pelos pesadelos que vinha tendo nos últimos dias, Clara não acreditaria na orientação recebida da tia. Mas eles não falhavam. Toda noite, uma mulher surgia no meio de seus sonhos e sussurrava: “Meus ossos.” Não conseguia ver o rosto da mulher, nem mesmo suas roupas. Só uma silhueta ameaçadora. E apavorante. Invariavelmente, acordava ensopada de suor frio”. Daí em diante, o texto conduz o leitor para mais uma história com final surpreendente.
Sete Ossos e uma Maldição é, ao meu ver, obrigatório numa biblioteca infanto-juvenil. Primeiro, porque não lembro de ter gostado tanto de contos de terror desde minhas primeiras leituras de Edgar Allan Poe. Em segundo lugar, por ele ter passado com louvor no teste da leitura
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