Há livros que me vêm parar às mãos de uma forma quase surrealista. Muitos deles surgem-me quase vindo do nada e por vezes dou comigo a olhar para livros nas minhas estantes que, juro, não me recordo como apareceram ali.
Neste caso concreto, "A casa dos Budas Ditosos", não foi o caso de não saber como ali foi parar. Sei-o porque me foi oferecido há anos, a questão é que nunca me senti minimamente motivado para o ler dado, não só o estranho e estúpido título, como também porque não aprecio de forma geral literatura erótica e/ou pornográfica.
Mas há uns dias decidi-me a arrumar com este livro e eis a minha opinião:
Erotismo e sexo é algo que agrada a todos, mas que dizer de um relato onde, sob a desculpa de ser verdadeiro, se narra acontecimentos onde o erotismo tem uma presença, digamos... de nome, e o sexo, aliás, a pornografia sem regras é o principal tema do livro, aliás, aquilo é mais uma forma de vilipendiar o sexo. Mas enfim!
O conteúdo do livro é apenas e só as "várias formas de se fazer sexo doentio com homens e mulheres, sem olhar a meios e onde, tudo e mesmo tudo é permitido", contado por uma mulher de 68 anos que, segundo ela, está à beira da morte, resolvendo então contar ao escritor Ubaldo as suas memórias.
Uau! Que interessante! É o ser humano assim tão voyeurista que se interesse por um conto de uma desconhecida só por alegadamente ser erótico?
Mas será este um relato verdadeiro ou um conto retirado da imaginação deste escritor? Se querem saber, não consegui descobrir mas também não me esforcei muito.
Profundamente egocêntrica, pois apenas ela contava, ela vai narrando a sua vida, vida essa onde o sexo ocupava um lugar especial (especial é favor) 24 horas por dia (que pena o dia só ter 24 horas). A mulher até sonhava com sexo. Ganda maluca!
Esta libertina (oh pró Sade cheio de inveja) praticava sexo de todas as maneiras: ela era anal, oral, manual, grupal e mais que tal que aquilo nunca mais acabava, sem falar no incesto que, segundo ela era algo de muito natural. Bem mas aquilo era um forrobodó tão grande que progressivamente nos vai fazendo sentir como uns verdadeiros meninos de coro, não o de Santo Amaro de Oeiras, mas daqueles que julgam os preservativos serem balões para as festas de despedidas de solteiro.
E os tabus? A mulher pensa que os tabus vão sendo violentamente derrubados (esta frase é leve para classificar esse derrube). Essa mulher vive a sua liberdade de uma forma obsessiva, é estéril, logo e num tempo onde as doenças sexuais não eram uma grande preocupação, apenas o prazer físico, o conhecimento do fruto proibido, o êxtase sexual, lhe interessa, no entanto esse interesse e as práticas caem sempre no exagero.
E pouco mais há para dizer. João Ubaldo Ribeiro elabora uma narrativa compulsiva, uma narrativa onde a luxúria se apresenta na primeira página e se despede na última.
Como devem já ter constatado, não gostei do livro.
De erotismo e sensualidade gosto, no entanto este livro não se pode classificar de erótico, pois é um livro doentio onde existem temas que são abordados de ânimo leve com o intuito de chocar. Mas não o consegue, pois essa intenção descamba no ridículo, tal o exagero das situações descritas.
Se tiverem curiosidade em ler sobre uma vida dedicada à devassidão sexual, à luxúria, então força, no entanto também vos digo que entre a literatura erótica existem livros muito bons. Se nem essa curiosidade tiverem, então esqueçam-no, pois não vale um corno.
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