John Steinbeck foi um escritor que escreveu sobretudo sobre a sua região: Califórnia. Aquele que fez da Califórnia a principal dos seus romances.
A acção do romance passa-se em pleno Oeste norte americano no início do séc. XX.
Tendo conhecimento que o governo estaria a oferecer terras para quem se quisesse estabelecer na Califórnia, Joseph Wayne abandona a casa paterna e empreende a viagem rumo ao seu sonho. Ao chegar, escolhe alguns hectares de que lhe parecem ricos, registando-as posteriormente em seu nome.
É já quando se está a estabelecer, que recebe uma carta dos seus irmãos, informando-o da morte do seu pai, notícia essa que o entristece mas que o faz tomar consciência de uma nova era que se inicia.
Acontece que nessas suas terras, existia uma grande e velha árvore que Joseph tomou como mais do que uma simples árvore, tomou-a como um ser vivo, pensante, algo que tinha sobre ele um poder especial, algo que incorporava o poder paternal, ao fim e ao cabo, o seu próprio pai.
Neste romance, que classifico como um romance estranho, Steinbeck cria um personagem central. Joseph Wayne, homem que apenas tem olhos para a terra, mas um homem com um carácter forte que, ás tantas, sobre ele alguém afirma: ”um novo Jesus do oeste”.
No entanto este romance é um romance sobre o meio físico e social. Social porque nos narra a organização típica de uma família do velho Oeste: Um rancho que agrupa toda uma extensa família, chefiada pela figura patriarcal, preocupada essencialmente com a sus subsistência, com a terra e com a criação do gado. Físico, porque Steinbeck situa muito bem o romance: Califórnia selvagem, entre o mar e o deserto.
Mas este romance tem alguns pormenores que deixam perceber que Steinbeck escreveu-o com um sentido muito mais amplo do que aquele que tenho visto referido. Um romance sobre o amor à terra e à vida? Não! Este é um livro mais profundo, não necessariamente mais belo por isso, mas tem mensagens que ultrapassam a de uma simples e mera história.
Se não repare-se:
O personagem principal e aquele que é a essência de todo o livro, chama-se Joseph Wayne. Joseph é um nome de origem hebraica que significa Deus Acrescenta. Curioso!
Curioso também a enorme semelhança física entre Joseph e Abraão, semelhança impressionante quando se sabe que, na Bíblia, Abraão deixa a casa do seu pai e parte para uma nova terra, a terra prometida. Em “A Um Deus Desconhecido”, Joseph parte em, busca da terra prometida: o Oeste. Mas não é apenas esta a única semelhança. Ao longo do livro é notória a semelhança desta obra com acontecimentos do Velho Testamento.
Logo, este romance tem uma fortíssima componente religiosa e, curioso, é a forma como Steinbeck, propositadamente, mistura a crença católica com actos de puro paganismo.
Joseph é um homem que ama essencialmente a terra, toda a natureza. Personifica numa velha e viçosa árvore a figura do seu próprio pai, do seu Deus. A essa árvore entrega oferendas, presta-lhe culto, cumpre assim uma espécie de rito pagão.
O certo é que toda essa relação entre a crença católica e pagã tem um fim abrupto, fim esse que irá desencadear toda uma série de acontecimentos extraordinários e inesperados que porão fim ao próprio livro.
E a chuva que tem um papel tão importante?
A queda da chuva que penetra na terra mãe gerando vida, faz-nos lembrar aquelas estatuetas do Paleolítico que personificavam a fertilidade...
Em suma: este romance é uma alusão clara a vários episódios bíblicos. Joseph Wayne age como um deus, ele é a terra, a chuva, a vida, toda a natureza.
É um romance algo angustiante porque desde o princípio nos apercebemos que o trajecto da acção é omissa de certezas e poucas esperanças. É um romance que não deve ser lido apenas para estar entretido. Penso que é um livro que deve ser lido com muita atenção e com algum tempo para analisar o que foi lido, pois existem muitas mensagens que se podem extrair.
Pessoalmente gostei mas não o considero uma obra do nível das “Vinhas da Ira”, sobretudo devido à própria acção e ao ritmo que Steinbeck imprime.
A analogia de Joseph com Abraão e as constantes metáforas bíblicas, dizem-me pouco, e para além de me dizerem pouco, existem diálogos estranhos, com pouco sentido, algo maçudos que, quanto a mim, acrescentam pouco ao livro.
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