terça-feira, 3 de junho de 2008

LANÇAMENTO DIGITAL SOURCE - Paulo Leminski - Catatau


Título: CATATAU
Autor: Paulo Leminski
Gênero: Literatura Brasileira
Editora: Travessa dos Editores
Publicado originalmente em 1975, 'Catatau passou a ser cultuado como uma espécie de 'Finnegans Wake' (obra mais radical do escritor irlandês James Joyce) da língua portuguesa. O livro tornou-se referência obrigatória na experimentação literária brasileira e, ao mesmo tempo, difícil de ser encontrado. A segunda edição, revisada pelo próprio Leminski pouco antes de morrer, apareceu somente em 1989 lançada pela Editora Sulina numa pequena tiragem. Agora, com a proximidade das comemorações dos 30 anos da obra, a Travessa dos Editores coloca nas livrarias uma nova e impecável publicação de ''Catatau''. O principal mérito da edição, crítica e anotada, está em apresentar um texto coligido a partir da comparação das três versões existentes: os originais datilografados por Leminski, a primeira e segunda edições. A delicada tarefa foi realizada por um grupo de pesquisadoras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná dentro de preceitos acadêmicos. Paulo Leminski nomeava a obra de ''romance-idéia''. Isso porque praticamente todo o sentido da obra está em sua experimentação com a linguagem literária, uma ''idéia-narrativa''. Em ''Catatau'' não existe uma história a ser narrada, existe uma ousada aventura de linguagem a ser experimentada. O enredo de ''Catatau'' é simples. Acompanhando as invasões holandesas no Brasil, no século 15, o filósofo René Descartes (1596 - 1650) aporta em praias brasileiras para exercitar a máxima ''penso, logo existo''. No meio da floresta tropical, com uma luneta na mão e um cachimbo de ''cannabis'' (presente dos escravos africanos) na outra, Descartes começa a estudar a paisagem. Do lugar onde se encontra, Descartes espera por um oficial holandês chamado Artyschewsky, alguém que pode explicar o que é o Brasil. Artyschewsky aparece somente na última página do livro, bêbado como um gambá, incapaz de explicar qualquer coisa. A história é essa. Não há mais fatos ou acontecimentos lineares. Há apenas uma longa viagem que trafega entre duas vertentes. Uma seria a viagem da substituição de todo o pensamento racional, do \'\'penso, logo existo\'\', pela subversão do pensamento dos trópicos, o \'\'penso, logo deliro\'\'. A outra, a que merece maior atenção, é justamente a viagem através da linguagem literária: a utilização da palavra como um pincel capaz de criar desenhos nunca vistos, formas propulsionadas pela imaginação. O grande jogo estabelecido em \'\'Catatau\'\' está no autor criar um personagem que sucessivamente interfere na narrativa: Occam. Trata-se de uma espécie de monstro que surge no interior do texto e passa a fazer parte dele independente da vontade do narrador. Occam, chamado de \'\'monstro-semiótico\'\' pelo autor, opera na função de separar lógica e realidade como coisas distintas. Traduzindo de maneira crua, Occam seria uma entidade que nasce, no meio da massa, no momento em que padeiro está amassando o pão. Um ser que nascendo no meio de um processo criativo, interfere na criação como criatura da irrealidade, não da lógica. Leminski passou oito anos debruçado sobre o \'\'Catatau\'\'. Em suas anotações deixou registrado que o livro é \'\'o fracasso da lógica cartesiana branca no calor\'\', bem como \'\'o fracasso do leitor em entendê-lo\'\'. E que pretendia oferecer novas informações ao leitor e para atingir esse objetivo tinha que frustrar expectativas. Em sua definição, a melhor informação seria aquela provocada pela expectativa frustrada: \'\'No Catatau, a expectativa é sempre frustrada. O leitor sabe o que deve esperar: rompe-se a lógica, as passagens de frase para frase são regidas por leis outras que não as normas da sintaxe discursivas normal. (...) Dentro do livro, o leitor perde a mania de procurar coisas claras. Então, aquelas que são claras por si mesmas tornam-se escuras no seu entendimento.\'\' Em \'\'Catatau\'\' o inesperado torna-se norma. A experimentação torna-se regra. Pode ser considerado como difícil leitura, de hermético entendimento. Mas pode também ser lido de maneira simples: a radical aventura de um homem pelo mundo das palavras, pelo universo da linguagem.

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