O primeiro atelier em Oliveira de Azeméis correu muito bem, dentro dos padrões normais. A turma do 7º ano aderiu bem aos desafios propostos, e ficou entusiasmada com vários livros. Houve quem votasse em todos, afirmando que estava curiosa, não se conseguia decidir. Perguntaram se os livros existiam na biblioteca municipal, e mostraram vontade de os ler.
A turma da tarde estava ensombrada por um daqueles alunos perturbadores. Desde muito cedo começou a lamentar-se por estar ali, dizia que preferia ter ido à aula de matemática. Era mal educado, o que se notava logo pela entoação. Pediu para ir à casa de banho e não deixei. Quando se procedeu à primeira votação (dos seis grupos de objectos, imagens e excertos), não votou. O mesmo aconteceu com outro colega que estava sentado na mesma mesa e olhava para mim com um ar profundamente entediado e indiferente. Quando os livros começaram a rodar, nem se dignaram a abri-los. Deixei de lhos levar. E aqui começa o dilema. É ou não suposto motivarmos, ou pelo menos esforçarmo-nos, para motivarmos aqueles que vêem no livro um inimigo? É ou não suposto sermos condescendentes e não aumentarmos o fosso das desigualdades sociais? É. Mas então expliquem-me porque razão uma turma de CEF composta exclusivamente por rapazes aderiu ao atelier, comportando-se segundo as regras básicas da convivência, e este aluno esteve durante 90 minutos a afrontar-me a mim, aos colegas e à professora?
Há, para mim, um limite entre desinteresse e falta de educação. Há limites para a condescendência e para a psicologia. Tentar chegar àquele aluno boicotaria a sessão para o resto da turma e poderia não ter qualquer sucesso. Por isso, o atelier prosseguiu para desgosto do adolescente que continuava a provocação. Houve uns pequenos apitos sonoros (presumivelmente vindos de um telemóvel), houve frases como 'estas folhas nem dão para aquecer os pés...' Os restantes alunos entusiasmaram-se qb, elegeram O rapaz que chutava porcos como o seu preferido, alguns votaram em mais do que um livro e houve até dois alunos (um rapaz e uma rapariga) que ficaram à beira do perfil de viciados em ler.
O que é perturbador é a influência que um único aluno tem sobre um grupo. A mesa onde ele estava inibiu-se de participar, havendo um colega que estava efectivamente curioso, e que no final acabou por preencher o questionário. Na mesa de trás, um colega mais pequeno estava a ser importunado, até à minha intervenção, quando o mudei de lugar, o que me pareceu agradar-lhe. As raparigas oscilavam entre a conivência e o desagrado. Certo é que todos, excepto o líder e outro aluno, participaram. Houve até quem, no final, viesse partilhar comigo as suas preferências de leitura. Fica todavia um amargo de boca, não apenas por não ter conseguido motivar aquele aluno, mas por verificar o poder que este tipo de alunos tem sobre o grupo. Acima de tudo, a educação passa pelo respeito pelos outros e pelo espaço colectivo. Só assim podemos ser respeitados.
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