segunda-feira, 30 de junho de 2008

Clã do Urso das Cavernas (O) - Jean M. Auel


Este é um dos melhores livros que li até à data. Para além da história cheia de pormenores e excelentemente bem narrada por Jean Auel, a mesma é enriquecida por toda uma arquitectura fortemente alicerçada em factos Históricos e Geológicos reais.

Jean M. Auel aquando da preparação deste notável romance histórico, efectuou vários e apurados estudos da época retractada - chegando mesmo a acampar durante uma noite num abrigo construído "à moda" pré-histórica e em condições extremamente duras - assim como acerca dos homínideos caracterizados: Homem de Cro-Magnon e Homem de Neanderthal.

Há 25.000 anos o planeta Terra era um "local" ainda em construção, habitado aqui e ali por estranhos animais que viviam sobretudo da caça. Uma época algo perdida na História, mas uma época onde se sabe que o Homem começa a ter alguma "atitude" artística e religiosa.

Algures no continente asiático, um violento abalo sísmico devasta todo um acampamento de uma tribo de Cro-Magnon, no entanto e por se encontrar fora do espaço da aldeia, acaba por sobreviver a esse forte abalo uma menina de uns 5 anos (Ayla), que se vê, de um momento para o outro, sozinha num mundo assustador e inóspito.

Obrigada a vaguear pelas frias estepes asiáticas, acaba por ser vencida pelo cansaço, soçobrando, destinada, quiça, a servir de alimento para terríveis felinos.

É encontrada então por um grupo de viajantes Neanderthalenses que, com pena daquele frágil ser, a acabam por adoptar, nascendo aí toda uma história que irá pôr em foco as diferenças entre essas duas raças e sobretudo uma curiosa comparação e estudo entre as mesmas.

É um texto imponente onde é evidente o porquê do fim do Homem de Neanderthal. Extremamente atractivo ao nível das peripécias narradas, é também ele constantemente salpicado por factos sórdidos de cariz sexual, revelando, como é compreensível, uma bestialidade insana, mesmo grotesca.

Brilhantemente adaptado ao cinema em 1986 por Michael Chapman e tendo como principal actriz a bela Daryl Hannah, este é um livro riquíssimo ao nível Histórico e deveras aliciante e excitante na forma como o enredo é construído.

Altamente recomendado.

A Gênese - OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO, de Allan Kardec

Introdução
Esta nova obra é mais um passo dado ao terreno das
conseqüências e das aplicações do Espiritismo. Conforme
seu título o indica, tem ela por objeto o estudo dos três pontos
até agora diversamente interpretados e comentados: a
Gênese, os milagres e as predições, em suas relações com
as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos
espíritas.
Dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o
Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ação
simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais,
que se tornam naturalmente inexplicáveis, desde que
se abstraia de um deles, do mesmo modo que a formação da
água seria inexplicável, se se abstraísse de um dos seus
elementos constituintes: o oxigênio e o hidrogênio.
Demonstrando a existência do mundo espiritual e suas
relações com o mundo material, o Espiritismo fornece a chaÀ
PRIMEIRA EDIÇÃO PUBLICADA
EM JANEIRO DE 1868
ve para a explicação de uma imensidade de fenômenos incompreendidos
e considerados, em virtude mesmo dessa circunstância,
inadmissíveis, por parte de uma certa classe de
pensadores. Abundam nas Escrituras esses fatos e, por desconhecerem
a lei que os rege, é que os comentadores, nos
dois campos opostos, girando sempre dentro do mesmo círculo
de idéias, fazendo, uns, abstração dos dados positivos
da ciência, desprezando, outros, o princípio espiritual, não
conseguiram chegar a uma solução racional.
Essa solução se encontra na ação recíproca do Espírito
e da matéria. É exato que ela tira à maioria de tais fatos o
caráter de sobrenaturais. Porém, que é o que vale mais: admiti-
los como resultado das leis da Natureza, ou repeli-los? A
rejeição pura e simples acarreta a da base mesma do edifício,
ao passo que, admitidos a esse título, a admissão, apenas
suprimindo os acessórios, deixa intacta a base. Tal a
razão por que o Espiritismo conduz tantas pessoas à crença
em verdades que elas antes consideravam meras utopias.
Esta obra é, pois, como já o dissemos, um complemento
das aplicações do Espiritismo, de um ponto de vista
especial. Os materiais se achavam prontos, ou, pelo menos,
elaborados desde longo tempo; mas, ainda não chegara o
momento de serem publicados. Era preciso, primeiramente,
que as idéias destinadas a lhes servirem de base houvessem
atingido a maturidade e, além disso, também se fazia
mister levar em conta a oportunidade das circunstâncias. O
Espiritismo não encerra mistérios, nem teorias secretas; tudo
nele tem que estar patente, a fim de que todos o possam
julgar com conhecimento de causa. Cada coisa, entretanto,
tem que vir a seu tempo, para vir com segurança. Uma solu-
ção dada precipitadamente, primeiro que a elucidação completa
da questão, seria antes causa de atraso do que de avanço.
Na de que aqui se trata, a importância do assunto nos
impunha o dever de evitar qualquer precipitação.
Antes de entrarmos em matéria, pareceu-nos necessário
definir claramente os papéis respectivos dos Espíritos e
dos homens na elaboração da nova doutrina. Essas considerações
preliminares, que a escoimam de toda idéia de misticismo,
fazem objeto do primeiro capítulo, intitulado: Caracteres
da revelação espírita. Pedimos séria atenção para esse
ponto, porque, de certo modo, está aí o nó da questão.
Sem embargo da parte que toca à atividade humana na
elaboração desta doutrina, a iniciativa da obra pertence aos
Espíritos, porém não a constitui a opinião pessoal de nenhum
deles. Ela é, e não pode deixar de ser, a resultante do ensino
coletivo e concorde por eles dado. Somente sob tal condição
se lhe pode chamar doutrina dos Espíritos. Doutra forma,
não seria mais do que a doutrina de um Espírito e apenas
teria o valor de uma opinião pessoal.
Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter
essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência,
donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido
a consagração do controle da generalidade não pode ser
considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será
uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo
assumir a responsabilidade.
Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos,
passada, ao demais, pelo critério da lógica, é que constitui a
força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade.
Para que ela mudasse, fora mister que a universalidade dos
Espíritos mudasse de opinião e viesse um dia dizer o contrário
do que dissera. Pois que ela tem sua fonte de origem no
ensino dos Espíritos, para que sucumbisse seria necessário
que os Espíritos deixassem de existir. É também o que fará
que prevaleça sobre todos os sistemas pessoais, cujas raízes
não se encontram por toda parte, como com ela se dá.
O Livro dos Espíritos só teve consolidado o seu crédito,
por ser a expressão de um pensamento coletivo, geral. Em
abril de1867, completou o seu primeiro período decenal. Nesse
intervalo, os princípios fundamentais, cujas bases ele assentara,
foram sucessivamente completados e desenvolvidos,
por virtude da progressividade do ensino dos Espíritos. Nenhum,
porém, recebeu desmentido da experiência; todos, sem
exceção, permaneceram de pé, mais vivazes do que nunca,
enquanto que, de todas as idéias contraditórias que alguns
tentaram opor-lhe, nenhuma prevaleceu, precisamente porque,
de todos os lados, era ensinado o contrário. Este o resultado
característico que podemos proclamar sem vaidade,
pois que jamais nos atribuímos o mérito de tal fato.
Os mesmos escrúpulos havendo presidido à redação das
nossas outras obras, pudemos, com toda verdade, dizê-las:
segundo o Espiritismo, porque estávamos certo da conformidade
delas com o ensino geral dos Espíritos. O mesmo
sucede com esta, que podemos, por motivos semelhantes,
apresentar como complemento das que a precederam, com
exceção, todavia, de algumas teorias ainda hipotéticas, que
tivemos o cuidado de indicar como tais e que devem ser consideradas
simples opiniões pessoais, enquanto não forem
confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre
a doutrina a responsabilidade delas.1
Aliás, os leitores assíduos da Revue hão tido ensejo de
notar, sem dúvida, em forma de esboços, a maioria das idéias
desenvolvidas aqui nesta obra, conforme o fizemos, com relação
às anteriores. A Revue, muita vez, representa para
nós um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos
homens e dos Espíritos sobre alguns princípios, antes de os
admitir como partes constitutivas da doutrina.
1 Nota da Editora: Ao leitor cabe, pois, durante a leitura desta obra,
distinguir a parte apresentada como complementar da Doutrina,
daquela que o próprio Autor considera hipotética e pessoalmente
dele.

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Zoomii

O conceito deste site resume-se facilmente: trata-se da tentativa de reproduzir online a sensação que temos ao percorrer uma livraria real. Com uma navegação super intuitiva (basta arrastar o rato para percorrermos a estante e utilizar o scroll para fazer zoom in ou zoom out), o Zoomii baseia os livros apresentados em dados da Amazon, reproduzindo com exactidão a escala que corresponde ao tamanho real dos livros. Podem ver mais sobre o funcionamento do site neste vídeo. Obrigado à Mary pela dica.


PS: Quando puderem passem pelo blog Os Livros de Sofia. Mais blogs sobre livros são sempre bem-vindos!

Breve olhar sobre a História da Literatura Juvenil IV

O nascimento de alguns clássicos...

«Uma nova fase de criação inicia-se a partir de 1850 e prossegue até cerca de 1900,marcada por duas regras: a criação verbal (Alice no País das Maravilhas em Inglaterra) por um lado, e por outro, o interesse dos escritores pela dialéctica interior dos heróis, aliado à noção de estruturas estereotipadas movimentando-se em torno do Bem e do Mal. Consequentemente, muitas vezes há lugar a um maniqueísmo decorrente da ausência de estimulação da imaginação ou de olhar crítico sobre a sociedade. É contra esta tendência que nascem as obras de Collodi (Pinóquio), Lewis Carroll (Alice no País das Maravilhas), Mark Twain (Huckleberry Finn). Para o leitor criança, é a descoberta de um mundo, é um convite para conhecer o que ignora. O escritor torna-se um escritor-criador.»
p.28
Laurence Simon, idem

Os Clássicos referidos no texto nascem das rupturas que alguns escritores operam com o moralismo, o didactismo e o maniqueísmo que imperam na literatura com protagonistas infantis, ou destinadas a crianças e jovens. O escritor-criador é aquele que pensa comportamentos, que lhes dá vida, que cria ambientes, que ultrapassa os limites da lógica causal ou espacio-temporal, que recupera o mágico e o fantástico, que faz dialogar o quotidiano e a imaginação. Em suma, esta ruptura não é mais que uma libertação criativa relativamente ao cânone. Essa libertação conferiu a estes textos tal identidade e unicidade que persistem até hoje no imaginário colectivo de crianças e adultos. Os outros, que respondiam a fórmulas, desapareceram no filtro do tempo.

domingo, 29 de junho de 2008

LANÇAMENTO DIGITAL SOURCE - Robert Louis Stevenson - Onde Passar a Noite? (conto)


Título: ONDE PASSAR A NOITE? (Conto)
Autor: Robert Louis Stevenson
Gênero: Conto

Foi há muito tempo, em Novembro de 1456. A neve caía sobre Paris com uma rigorosa e implacável persistência; de onde em onde o vento fazia uma sortida e derramava-a em vertiginosos remoinhos; depois voltava uma trégua e os flocos punham-se a cair uns atrás dos outros no negrume da noite, silenciosos, tortuosos, intermináveis. Os pobres que contemplavam a neve, olhando-a por debaixo das sobrancelhas humedecidas, pareciam perguntar-se a si mesmos de onde é que tudo aquilo viria...

Paulo Leminski - Caprichos & Relaxos

Título: Caprichos & Relaxos
Autor: Paulo Leminski
Gênero: Poemas
Editora: Brasiliense

Esse livro de poemas é uma maravilha, porque os poemas do Leminski são muito sintéticos, muito concisos, muito rápidos, muito inspirados. Ele é um sujeito gozado. É um personagem muito único, no panorama da curtição de literatura no Brasil. Eu acho um barato. Leminski tem um clima/ mistura de concretismo com beatnik. Que é muito legal. "Verdura" é um sonho. É genial. É um haikai da formação cultural brasileira. Deve ser instigante para os poetas do Brasil o aparecimento desses novos poetas todos. Leminski é um dos mais incríveis que apareceram. - CAETANO VELOSO

Das primeiras invencionices ao Catatau, da poesia destabocada e lírica (mas sempre construída, sabida, de fabbro, de fazedor) ao verso verde-verdura da canção trovadoresco-popular, o Leminski vem , chovendo no endomingado piquenique sobre a erva em que se converteu a neoacadêmica poesia brasileira de hoje, dividida entre institucionalizadas marginalidades plácidas e escoteiros orfeônicos, de medalinha e braçadeira. E é bom que chova mesmo, com pedra e pau-a-pique. Evoé Leminski!

LANÇAMENTO DIGITAL SOURCE - Rosacruz AMORC - INTRODUÇÃO À SIMBOLOGIA


Título: INTRODUÇÃO À SIMBOLOGIA
Autor: ROSACRUZ – AMORC
Gênero: Esoterismo - Rosacruz
Editora: Grande Loja do Brasil

Obra sobre SÍMBOLOS, de grande importância no assunto para todos aqueles que estão trilhando a senda Rosacruz do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal. Algumas afirmações básicas, como as que fazemos a seguir, são suficientes para dar uma idéia da relevância do tema e do valor do conteúdo deste livro para os Fratres e Sorores. Vemos, portanto, que os símbolos cumprem diversas finalidades psicológicas essenciais na nossa vida em geral e, em particular, no nosso desenvolvimento como místicos na Senda Rosacruz.

O candomblé e o tempo: concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras, de Reginaldo Prandi

[Texto em publicação no número 47 (outubro de 2001) da
Revista Brasileira de Ciências Sociais — RBCS]



I
Diferentes sociedades e culturas têm concepções próprias do tempo, do transcurso da vida, dos fatos acontecidos e da história. Em sociedades de cultura mítica, também chamadas sem-história, que não conhecem a escrita, o tempo é circular e se acredita que a vida é uma eterna repetição do que já aconteceu num passado remoto narrado pelo mito. As religiões afro-brasileiras, constituídas a partir de tradições africanas trazidas pelos escravos, cultivam até hoje uma noção de tempo que é muito diferente do “nosso” tempo, o tempo do Ocidente e do capitalismo (Fabian, 1985). A noção de tempo, por se ligar à noção de vida e morte e às concepções sobre o mundo em que vivemos e o outro mundo, é essencial na constituição da religião.
Muitos dos conceitos básicos que dão sustentação à organização da religião dos orixás em termos de autoridade religiosa e hierarquia sacerdotal dependem do conceito de experiência de vida, aprendizado e saber, intimamente decorrentes da noção de tempo ou a ela associados. Assim, muitos aspectos das religiões afro-brasileiras podem ser melhor compreendidos quando se consideram as noções básicas de origem africana que os fundamentam. Da mesma maneira se pode ampliar o conhecimento sobre valores e modos de agir observáveis entre os seguidores dessas religiões quando consideramos a herança africana original em oposição a concepções ocidentais com que a religião africana teve e tem de se confrontar no Brasil, sobretudo nas situações em que concepções de diferentes origens culturais se opõem e provocam ou propiciam mudanças naquilo que os próprios religiosos acreditam ser a tradição afro-brasileira, seja ela doutrinária, seja ritual. As noções de tempo, saber, aprendizagem e autoridade, que são as bases do poder sacerdotal no candomblé, de caráter iniciático, podem ser lidas em uma mesma chave, capaz de dar conta das contradições em que uma religião que é parte constitutiva de uma cultura mítica, isto é a-histórica, se envolve ao se reconstituir como religião numa sociedade de cultura predominantemente ocidental, na América, onde tempo e saber têm outros significados.
O candomblé de que trata o presente texto é a religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos iorubás, ou nagôs, com influências de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários. O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, congregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de candomblé, predominando em cada nação tradições da cidades ou região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã (Silveira, 2000; Lima, 1984). Esse candomblé baiano, que proliferou por todo o Brasil, tem sua contrapartida em Pernambuco, onde é denominado xangô, sendo a nação egba sua principal manifestação, e no Rio Grande do Sul, onde é chamado batuque, com sua nação oió-ijexá (Prandi, 1991). Outra variante iorubá, esta fortemente influenciada pela religião dos voduns daomeanos, é o tambor-de-mina nagô do Maranhão. Além dos candomblés iorubás, há os de origem banta, especialmente os denominados candomblés angola e congo, e aqueles de origem marcadamente fom, como o jeje-mahim baiano e o jeje-daomeano do tambor-de-mina maranhense.
Foram principalmente os candomblés baianos das nações queto (iorubá) e angola (banto) que mais se propagaram pelo Brasil, podendo hoje ser encontrados em toda parte. O primeiro veio a se constituir numa espécie de modelo para o conjunto das religiões dos orixás, e seus ritos, panteão e mitologia são hoje praticamente predominantes. O candomblé angola, embora tenha adotado os orixás, que são divindades nagôs, e absorvido muito das concepções e ritos de origem iorubá, desempenhou papel fundamental na constituição da umbanda, no início do século XX, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Hoje, todas essas religiões e nações congregam adeptos que seguem ritos distintos, mas que se identificam, nos mais diversos pontos do País, como pertencentes a uma mesma população religiosa, o chamado povo-de-santo, que compartilha crenças, práticas rituais e visões de mundo, que incluem concepções da vida e da morte. Terreiros localizados nas mais diferentes regiões e cidades interligam-se através de teias de linhagens, origens e influências que remetem a ascendências que convergem, na maioria dos casos, para a Bahia, e que daí apontam, no casos das nações iorubás, para antigas e, às vezes, lendárias, cidades hoje situadas na Nigéria e no Benim.
A idéia que norteia o presente trabalho é refazer inicialmente essa trajetória, religando a África dos orixás aos terreiros de candomblé de nações iorubás, que podem hoje ser encontrados na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Distrito Federal e outros estados, para, num segundo momento, procurar entender como e por quê as antigas heranças religiosas vão sofrendo mudanças e adaptações no contexto das transformações socio-culturais que modelam o Brasil atual. Embora o texto presente esteja focado na observação do candomblé iorubá, para o qual podemos contar com uma etnografia que permite estabelecer comparações entre o que se observou na África e o que se observa no Brasil, é fato que muitas das conclusões podem ser, em maior ou menor grau, aproximadas para o conjunto das religiões afro-brasileiras, quando não extravasadas para além do universo estritamente religioso, em outras dimensões da cultura popular brasileira.


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Comunidades de Jovens Leitores: estratégias

Está prevista para 3ª feira a 1ª sessão de uma Comunidade de Jovens Leitores, a decorrer na Biblioteca Municipal do Sobral de Monte Agraço. A escolha do período para a sua realização foi ponderada por mim e pela Alexandra (responsável da Biblioteca). A escolha das férias grandes pareceu-nos um desafio, mas simultaneamente pensámos no tempo livre de muitos adolescentes, durante estes três meses, e no interesse dos pais em verem os seus filhos ocupados. A iniciativa foi divulgada através da rádio local e de informações para as escolas, antes do término do ano lectivo.
Ainda não sabemos se contaremos com o número suficiente de participantes para que possamos levar a cabo a Comunidade.
Voltamos à eterna questão:
Como motivar adolescentes a participarem numa Comunidade de Leitores? Se nos tentarmos imaginar com 13 ou 14 anos, talvez consigamos perceber que uma Comunidade de Leitores não será o programa de eleição dos jovens, independentemente do seu gosto pela leitura. O que os poderá levar, então, à Biblioteca?
um amigo que vá;
o moderador;
a participação de algum funcionário da Biblioteca com quem o adolescente mantém uma relação próxima;
a imposição dos pais.
Vale a pena continuar a tentar? O que pode trazer uma Comunidade de Leitores aos seus participantes?
A minha experiência diz-me que o convívio entre pares é muito importante para alterar a relação social com o livro. A partilha de momentos lúdicos com os livros e a biblioteca como pano de fundo podem criar laços entre participantes bem como entre participantes e moderador. O mais difícil nas Comunidades é conseguir concretizá-las. A margem de sucesso é sempre baixa, já que de 10 adolescentes, o normal é que dois ou três se tornem fiéis. De qualquer forma, se pensarmos na Comunidade como um projecto de continuidade, esses três serão elementos seguros na angariação de novos participantes. Depois da comunidade Inventam-se Leitores, em Montemor-o-Novo, o nosso blog vai-se mantendo como plataforma de diálogo, e continuamos a contar com três jovens que vão dando notícias, não deixando morrer o contacto e o entusiasmo.
Mas sem começo, nada feito. E, para isso, não temos soluções nem estratégias infalíveis.

Perfumista (O) - Joaquim Mestre

O Perfumista tem como pano de fundo a 1ª Guerra Mundial e a Pneumática que devastou milhares de vidas na Península Ibérica após 1918.

Tem também como pano de fundo a arte de perfumista, criador das mais variantes aromas que enlouquecem homens e mulheres. Um artificie que tem tanto de antigo como de misterioso.

Toda a acção passa-se no Alentejo, num Portugal rural, supersticioso, pouco desenvolvido e ainda agarrado aos ideais monárquicos.

Numa determinada região alentejana, um homem apaixona-se por uma mulher. Em busca de uma vida melhor, este homem emigra para a grande cidade no sentido de aprender uma profissão que muito tem a ver com ele: Perfumista.

Anos depois regressa á vila e aí desposa essa mulher ficando ambos a viver, na companhia da mãe dela, numa grande casa onde aí montam um negócio de perfumista que lhes irá trazer fama.

Pouco tempo depois este homem é incorporado no corpo expedicionário português e é enviado a combater em França, na terríveis trincheiras.

Por essa altura surge, tal como um furacão, a Pneumática que arrasa milhares de famílias, ao mesmo tempo que o Corpo Expedicionário é arrasado em La Lys.

Gostei muito deste romance.

É um romance onírico, cheio de magia que se assemelham ao mundo mágico de Marquez. É inegável a semelhança de estilo de Marquez (esta vila faz lembrar a aldeia dos Buéndia), notando-se também fortes semelhanças com o estilo de Saramago não faltando, na história, um descendente de Baltazar Sete-Sóis.

Foi um livro que me deu muito prazer ler. A história é terna, dura e tomada por aromas díspares que se soltam página a página, palavra a palavra.

Considero este livro um dos excelentes livros da nossa literatura dos últimos anos.

Agustina para crianças


Habituámo-nos a ver Agustina Bessa-Luís como uma autora séria e para adultos.  mas a conhecida escritora surpreende ao escrever um conto para os mais novos. Desta vez, as aventuras fantásticas de um personagem que nos recorda Zé do Telhado.
No centro da história encontramos o Barcelinhos que, devido à sua figura, era conhecido pelo Dourado. 
Como o Robin dos Bosques português, a história e os feitos do protagonista estão envoltos em muito mistério a desvendar na leitura. 
__________
Agustina Bessa-Luís
O Dourado
Minutos de Leitura, 13,90€

Os clássicos para os mais novos

Uma colecção especialmente dedicada a trazer os autores clássicos para os leitores mais jovens e que conta já com seis títulos disponíveis.
Uma edição muito cuidada no tratamento do texto e nas ilustrações bem conseguidas.
Uma forma inteligente e agradável de descobrir Almeida Garrett, Fernando Pessoa, Victor Hugo ou Robert Louis Stevenson.  E ainda duas histórias sem época (ou de todas as épocas): A Bela e o Monstro e Ali Babá e os 40 Ladrões.
__________
Almeida Garrett, Falar Verdade a Mentir
Fernando Pessoa, Poesia de Fernando Pessoa para Todos
Vitor Hugo, Os Miseráveis
Robert Louis Stevenson, A Ilha do Tesouro
Porto Editora, 14,50€/cada

Vergílio Ferreira, íntimo

Para os apreciadores de Vergílio Ferreira, esta é uma obra indispensável. Um diário que escreveu entre os 26 e os 32 anos (entre 1944 e 1949) em que o autor faz reflexões sobre filosofia, literatura, acontecimentos do seu dia a dia, entre muitos  outros assuntos.
O diário é também uma forma de conhecer o autor na intimidade de escritos que não deveriam ser para ver a luz do dia.
Trata ainda de um período que foi crucial na formação do autor e em que fez leituras estão na base da sua obra.
__________
Vergílio Ferreira
Diário Inédito
Bertrand Editora, 15,95€

Leitura e... muito mais


Livros como estes dão uma motivação extra a novos leitores uma vez que não se limitam a ter uma história para contar e boas ilustrações.
Fazem um verdadeiro <<4>>: juntam autocolantes, figuras para colorir e ainda actividades que podem ser desenvolvidas na sequência da leitura.
Para já, estão disponíveis dois títulos nesta colecção: um sobre as cidades dos arco-íris e outro, como lengalengas.
__________
Vera Santos Silva/Fedra Santos (ilustrações)
As Sete Cidades do Arco-Íris
Márcia Trabulo/Fedra Santos (ilustrações)
Arre Burrinho! Vamos Lengalengar...
Esfera do Caos, 11,10€

Comunicação e Sociedade: a revista

Fruto da colaboração com a Universidade do Minho a Campo das Letras vai dando corpo a um interessante projecto de revista de reflexão e investigação, neste caso concreto, na área da comunicação e dos media.  A Comunicação e Sociedade já nos habituou a ser uma referência em Portugal e os seus números 9/10 e 12 comprovam-no.
Na revista 9/10, dois temas fortes: por um lado, o ciberjornalismo e, por outro, os 10 anos de jornalismo online em Portugal.
na edição 12, três temas em torno da tecnologia: pensar a técnica hoje, figurações tecnológicas e o papel da palavra na era da imagem.
__________
Revista Comunicação e Sociedade
(Direcção de Moisés de Lemos Martins)
Campo das Letras, 12€/cada

Anuário de Comunicação 2007

Uma obra que faltava no panorama editorial português: um anuário que reuna, num mesmo volume, a essência do estudo e da investigação que importa fazer em Portugal.
Aqui se reúnem mais de 20 textos de reflexão e pesquisa em duas grandes partes: <> e <media e a comunicação>>.
Para as organizadoras da obra, a diversidade e profundidade das abordagens evidenciam <>.
_______
Helena Sousa/Sandra Marinho (org.)
Anuário Internacional de Comunicação Lusófona 2007. Os Media no Espaço Lusófono
Campo das Letras, 

Juntar pais e filhos

Um conjunto considerável de boas ideias para, em contexto familiar, proporcionar mais e melhores momentos entre pais e respectivos filhos. 
Uma obra que inclui sugestões de actividades, viagens, festas, jogos, entre muitas outras.
Numa época em que muitos pais se queixam que não têm tempo para estarem com os filhos, esta parece ser uma obra que será uma preciosa ajuda. Pelo menos, podem começar pelo livro e, depois, fazerem o que lhes apetecer para prolongarem os momentos tão especiais.
________
Patrícia Luz Pinto
É Bom Estarmos Juntos
Oficina do Livro, 10€

Um dia na vida de...


Uma colecção com livros de Emma Helbrough que permite reviver um dia na vida de personagens conhecidos. Até ao momento, podemos mostrar um dia de um pirata e um dia de Faraó.
São o obras que , ao mesmo tempo, assumem um papel lúdico e didáctico.   Excelente para os mais novos em fase de descoberta de novos conhecimentos.
__________
Emma Helbrough
Um Dia na Vida de um Pirata
Um dia na Vida de um Faraó
Campo das Letras, 10,50€/cada

Da história de Portugal para os mais pequenos

A história de Portugal como pano de fundo de uma interessante colecção dedicada aos mais pequenos: Vanda Furtado Marques (com ilustrações de Susana Silva ) retomam dois episódios marcantes da nossa história: o milagre das rosas da rainha Santa e o amor de D. Pedro por Inês de Castro.
Uma forma diferente (com belíssimas ilustrações) de contar histórias. Disso mesmo é testemunha a recomendação do programa Casa da Leitura da Fundação Gulbenkian.
__________
Vanda Furtado Marques/Susana Silva (ilustrações)
O Milagre de Isabel e Dinis
O Amor de Pedro e Inês
Quetzal Editores, 14,50€/cada

Capas XXII


sábado, 28 de junho de 2008

Ciclo de Pilatos

Há, na literatura apócrifa, um ciclo chamado de Pilatos, com vários textos que falam da
descida de Cristo ao Inferno, da Ressurreição e dos fatos ocorridos na vida de Pilatos,
Herodes e Tibério depois da Crucificação. Todos foram escritos durante os séculos I e II,
mas podem ter sofrido acréscimo e mutilações.
RETRATO DE JESUS
CARTA DE LENTULUS PUBLIUS AO IMPERADOR TIBÉRIO CÉSAR.
Eis aqui, enfim, a resposta que com tanta ansiedade esperáveis. Ultimamente apareceu
na Judéia um homem de estranho poder, cujo verdadeiro nome é Jesus Cristo, mas a quem
o povo chama "O Grande Profeta" e, seus discípulos, "O Filho de Deus". Diariamente
contam-se dele grandes prodígios: ressuscita os mortos, cura todas as enfermidades e traz
assombrada toda Jerusalém com a sua extraordinária doutrina.
É um homem alto e de majestosa aparência; sua face, ao mesmo tempo severa e doce,
inspira respeito e amor a quem a vê. Seu cabelo é da cor do vinho e desce ondulado sobre
os ombros; é dividido ao meio, ao estilo nazareno. Sua fronte, pura e altiva, sua cútis pálida
e límpida; a boca e o nariz são perfeitos; a barba é abundante e da mesma cor dos cabelos;
as mãos, finas e compridas; os braços, de uma graça encantadora; os olhos azuis, plácidos e
brilhantes.
É grave, comedido e sóbrio em seus discursos. Repreendendo e condenando, é terrível;
instruindo e exortando, sua palavra é doce e acariciadora. Ninguém o viu rir, mas muitos o
têm visto chorar. Caminha com os pés descalços e a cabeça descoberta. Vendo-o à
distância, há quem o despreze, mas em sua presença não há quem não estremeça com
profundo respeito.
Quantos se acercam dele, dizem haver recebido enormes benefícios, mas há quem o
acuse de ser um perigo para Vossa Majestade, porque afirma publicamente que os reis e os
escravos são todos iguais perante Deus.
RETRATO DO SALVADOR
Tinha Jesus um rosto belíssimo e vivo; o cabelo era alourado, não muito volumoso e
ligeiramente ondulado; sobrancelhas negras e ligeiramente arqueadas. Seus olhos, da cor
de azeitona, brilhavam com uma expressão admirável. Seu nariz era reto, barba loura, não
muito comprida, os cabelos eram bem longos, pois nenhuma navalha num mão de homem
algum jamais tocaram-lhe a cabeça, à exceção de sua Mãe, na infância. Mantinha o
pescoço algo inclinado, de sorte que não apresentava ar de arrogância. De tez clara, seu
rosto não era redondo nem comprido, mas mais comprido que largo e ligeiramente corado,
como as faces de sua Mãe. A seriedade, a prudência e a serenidade irmanavam-se e
resplandeciam em seu semblante. Em uma palavra, era de todo parecido com sua Mãe.
CARTA DE PÔNCIO PILATOS AO IMPERADOR ROMANO
Pôncio Pilatos saúda o Imperador Tibério César.
Jesus Cristo, que te apresentei explicitamente nos meus últimos relatórios foi,
finalmente, entregue a um duro suplício a pedido do povo, cujas instigações segui por medo
e contra minha vontade. Um homem piedoso e austero como esse, não existiu nem existirá
jamais em época alguma. Mas a verdade é que houve um estranho empenho do povo para
conseguir a crucificação deste embaixador da Verdade, além de uma conspiração de todos
os escribas, chefes e anciãos, malgrado os avisos dos seus profetas, ou, como nós dizemos,
as sibilas. E enquanto estava dependurado na cruz apareceram sinais que sobrepujavam as
forças naturais e que pressagiavam, segundo o entendimento dos filósofos, a destruição de
todo o mundo. Seus discípulos ainda vivem e não desdizem o Mestre nem suas obras e nem
a pureza de sua vida; e continuam ainda fazendo muito bem em seu nome. Portanto, se não
fosse pelo temor de uma possível revolta entre o povo que já estava quase enfurecido,
talvez aquele insigne varão ainda pudesse estar entre os vivos. Atribui, pois, mais ao meu
senso de fidelidade para contigo do que ao meu próprio capricho, o fato de não haver
resistido com todas as minhas forças para que o sangue de um justo, isento de toda culpa,
mas vítima da malícia humana, fosse perversamente vendido e sofresse toda a paixão.
Aliás, como dizem os intérpretes de suas escritas, poupá-lo redundaria em sua própria
ruína. Adeus. O quinto dia das calendas de abril.

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sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Cultura pesa...

Pois é, gente. A Cultura pesa no bolso e nos ombros. Pelo menos foi esta a nossa constatação na manhã do último sábado, 21 de junho, diante de mais um encontro do projeto. É que enfim compramos as duas primeiras estantes oficialmente nossas!!! Êba. Bem, apesar do desconto do marceneiro, pesou no bolso. Como diria um conhecido nosso, ser voluntário significa alguns reais a menos na conta todo mês. Fazemos o possível e, às vezes, o impossível, para mantermos o projeto com o carinho e a qualidade que acreditamos merecer. Desde que saímos da Pró gente, os livros ficaram guardados em maravilhosas caixas de papelão de uma conhecida marca de cosméticos. Os caras capricham no papelão e no perfume (hehehe). Mas desde a semana passada, nossa sala no Centro Comunitário da Criança ganhou duas estantes de madeira de demolição. E é aí que a cultura também pesa. Pesou nos ombros do Tino e do Célio que buscaram nossos objetos do desejo na marcenaria, colocaram no carro, transportaram até a sede do projeto e desembarcaram-nas na sala de leitura. Ufa!!! Eu e Edna cansamos só de ver aquela ação. Enquanto isso...
... as crianças recebiam com alegria exuberante uma penca de livros que a Mariana Massarani doou para o projeto. O colorido contagiante de suas ilustrações e as histórias sempre maravilhosas que elas contam não paravam nos olhos dos nossos meninos e meninas. Foram todos para as tocas dos pequenos roedores. Valeu, Mariana. Muito obrigada!!! Quando quiser e puder, dê uma volta por aqui. A turma aguarda a sua visita.
Eu aproveitei a deixa e li para as crianças O CASO DAS BANANAS. Foi um furdunço. Todo mundo ligado nos links que ligavam uma página à outra, tanto na rima do texto do Milton Celio quanto na dica que a Mariana Massarani deixava em suas ilustrações. Fiquei cercada de meninos curiosos. Nota 10 para o livro. Fez cócegas na imaginação dos Roedores de Livros. Por fim, tive que atender à Edna (foto abaixo), estudante universitária que veio conhecer o projeto e nos entrevistar para um trabalho da faculdade.
Depois de ver nossos machos roedores esbaforidos, limpamos os livros e ocupamos as estantes com o que temos de mais precioso: livros. Foi mais um sonho realizado. Queremos mais. Mais livros e a possibilidade de abrirmos a biblioteca durante a semana com atividades para as crianças das escolas da redondeza e seus familiares. Por enquanto, os livros encontram a fantasia das crianças do projeto e do Centro Comunitário da Criança. Enfim, a Cultura pesa, mas temos ombros largos e uma força maior que músculos: a solidariedade e o amor pelas crianças. Este foi um sábado ainda mais feliz. Voltamos para casa com um sorriso estampado no rosto, ordendo as orelhas. Hatuna Matata!!!

Palavras, batatas, ilustrações e coca zero.

Nas poucas vezes que consigo escapar das asas de Brasília e pousar noutra cidade dedico um tempo para visitar os sebos. ADORO SEBOS. Sou capaz de passar um dia inteiro entre pilhas de livros, traças e troças. Não foi diferente na viagem que fizemos ao Rio de Janeiro em maio último. O centro da Cidade Maravilhosa (na região próxima ao Real Gabinete Português de Leitura) é um paraíso para quem deseja se perder nos sebos. Registrei por aqui a deliciosa incursão num sebo do Flamengo em 2007. Este ano, o destaque ficou por conta do magistral achado que fiz na Academia do Saber. O tesouro chama-se O Livro para Crianças no Brasil. Publicado pela Câmara Brasileira do Livros em 1994 (!!!) serviu de portifólio para a 46ª Feira do Livro de Frankfurt (que naquela ocasião homenageava o Brasil). Tem um formato (30cm x 23cm) e conteúdo que enchem os olhos de qualquer apaixonado por Literatura Infantil. Exibe uma capa dura com o título em relevo, coberta por uma sobrecapa com um recorte de ilustração do Cântico dos Cânticos de Ângela Lago e com outra ilustração de Eliardo França. Mas o forte ainda é o conteúdo.
Com a organização de Elizabeth Serra, Luiz Raul Machado e Claudia de Miranda, a edição é trilíngue (inglês, alemão e português) e exibe 130 páginas com textos de Laura Sandroni, Nelly Novaes Coelho, Maria Antonieta Cunha, Edmir Perrotti, Ezequiel Teodoro da Silva. Depois dessa viagem na história da nossa literatura, entram os personagens principais: 36 escritores e 24 ilustradores são reverenciados nas páginas seguintes. Uma página para cada, e duas obras citadas de cada homenageado com imagens da primeira edição de clássicos da nossa literatura, muitos, esgotados nas editoras. Há ainda uma reverência justa à obra de Monteiro Lobato. No final, outra preciosidade: nomes e endereços desta seleção de autores e ilustradores. São justamente homenageados todos aqueles que você certamente lembra agora e alguns que eu - reconhecidamente - ignorava até então e, por causa do livro, passei a conhecer como Lino de Albergaria, Eliane Ganem e Werner Zotz. Lembro que este livro foi publicado em 1994 e talentos mais recentes não aparecem. Mas dá para se lambuzar com tanta informação útil tratada com extremo carinho. Imagino que a produção deve ter se exaurido num esforço hercúleo para chegar ao produto final.
Eu nem acreditei quando o livros saltou aos meus olhos no meio de um punhado de gibis na sobeloja da Academia do Saber. Naquela hora, pareceu agradecer por ter encontrado tão apaixonado leitor. Ah, ele ainda não conhecia a Ana Paula. Os dois se apaixonaram no primeiro encontro, horas depois. Este livro é um verdadeiro e imprescindível suporte à memória da nossa Literatura Infantil, assim como o Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. Deveria sofrer uma atualização pelo menos a cada década e servir de suporte para que os mais jovens pudessem ter a curiosidade em descobrir tantos bons livros nos sebos deste Brasil. Para isso, contamos com o excelente site Estante Virtual.
Coroei aquela descoberta com um almoço delicioso nas proximidades da rua do ouvidor. Foi difícil almoçar pois o livro não saía da mesa. Enfim, degustei palavras, batatas, ilustrações e coca zero. Inesquecível. A estante dos Roedores de Livros ganhou mais um morador ilustre. Hatuna Matata.

O Lado Selvagem



Sinopse
Em Abril de 1992, Christopher McCandless abandona um futuro promissor, a civilização, a sua própria identidade, doa os 25 mil dólares que constam do seu saldo bancário e parte em busca de uma experiência genuína que transcenda o materialismo do quotidiano. Rendido ao apelo ancestral e romântico da vastidão selvagem do longínquo Oeste americano, inventa para si mesmo uma nova vida e, sem o saber, dá início a uma aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais. E é com o justo sentido da dimensão trágica deste caso verídico que Jon Krakauer o recupera para criar uma narrativa iluminada, que nos cativa pela sua capacidade única de trazer para a página impressa a força indomável de um espírito rebelde e lírico. Um must para todos os viajantes da estrada e da alma.

«Numa narrativa comovente, Krakauer investiga o mistério da morte de Christopher McCandless.»
Publisher’s Weekly

«Uma homenagem lírica e deslumbrante à odisseia de Christopher McCandless. Uma história comovente.»
Booklist

«Assustador… eloquente… Um drama comovente de solidão humana.»
New York Times

«Uma narrativa forte e cativante.»
Washington Post

«Cativante e trágico… Difícil de parar de ler.»
San Francisco Chronicle

«Um mistério ao mais alto nível.»
Entertainment Weekly



A Minha Opinião
Cheguei à página 75 e desisti… Pode pensar que o livro deve ser “uma seca” ou “muito mau” para eu ter desistido, mas a razão não foi essa. É que não resisti de ir ver o filme, preferi ver as paisagens por onde ele passou e sentiu. E, além disto, a filosofia deste jovem não é do meu género. Era demasiado SELVAGEM, o super-vagabundo como ele próprio se auto-denominava com orgulho. Mas devo dizer que o livro está excelente. É uma espécie de documentário mas com o romance à mistura. A escrita é cativante e fluente, capaz de prender um filósofo que seja verdadeiro amante da liberdade, da natureza e da solidão. Neste livro, explica como descobriram o percurso feito por este jovem; mostra as cartas que este escreveu aos amigos e as frases que este sublinhou nos seus livros e, ainda mais, o autor entrevistou as pessoas que se cruzaram com este jovem. O livro diz muitas coisas interessantes: o relacionamento deste jovem com as pessoas e como as marcou profundamente, e também relata como este sentia na natureza e na solidão. Era assim que ele se sentia VIVO! O filme é mais paisagístico e externo, este jovem aparece em primeiro plano. Para finalizar, devo dizer aos amantes dessa filosofia que leiam primeiro o livro e depois vejam o filme para ver as paisagens e a fotografia do verdadeiro Chris MacCandless que aparece no fim do filme.



O Ritual do Pentagrama Inverso

Este ritual é baseado no ritual do pentagrama cabalístico, porém os quatro demônios dirigentes de Abramelin são utilizados, ao invés dos Arcanjos.
Não deve ser feito despreocupadamente, mas somente por pessoas que já tenham experiência com as referidas entidades, ou hajam adquirido a autoridade espiritual necessária.

Começa-se com a cruz cabalística, e o estabelecimento da árvore da vida:

ATEH
MALKUTH
VE - GEBURAH
VE - GEDULAH
LE - OLAM
VA-ET


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Rafeiro Perfumado


“As saudades que eu tenho do tempo em que a ida ao WC se fazia abrindo a porta com um pontapé e a nossa única preocupação era acertar no buraco do chão, tentando não sulfatar demasiado os sapatos”. É assim que começa um dos seus textos subordinados ao espirituoso título: Mestrado em WC. Através deste, percebemos como serão os outros textos publicados neste “Rafeiro Perfumado” de Jorge Pereira, cuja vida parece que dava mesmo um blog.
O livro da Esfera do Caos é um compêndio de loucas crónicas muito difícil de encontrar na prosa portuguesa. A ficção é alegre e roça, muitas vezes, naquilo que eu gosto de designar de imaginação imaginada. Sem papas na língua ou sapatos de barro, João Pereira diz o que precisa de dizer sem enfadonhos rodeios ou fatigantes descrições. As suas frases são limadas até ao limite, o que torna o texto alegre e nada maçudo. Quem já leu, gostou e recomendou. Há até quem garanta (o Zé Pintas, por exemplo) que a sua vida sexual “melhorou para melhor”. Pena é que, com a compra do livro, não se consiga um ligeiro desconto num pesado IRS que tanto nos atormenta.

__________
Jorge Pereira
Rafeiro Perfumado
Esfera do Caos, 13,97 €

A Viagem de Fernão de Magalhães


Segundo alguns retratos anónimos da época, Fernão de Magalhães (1480-1521) era um entroncado homem de barba rija e curto chapéu. Tinha um olhar sisudo mas ao mesmo tempo decidido e aventureiro. E aventura parece ter sido a sua vida. Muito se fala de Camões e Fernando Pessoa (e ainda bem!), mas pouco se recorda aquele que terá sido o primeiro homem (um português que nasceu lá para as bandas do Porto) que deu a volta ao mundo e o primeiro europeu a navegar no Pacífico.
A vida de Fernão de Magalhães, o início das relações entre Portugal e Timor (1512-1522), a lembrança de Fernão de Magalhães sobre a localização das Molucas e a sua visão do mundo, Duarte de Resende e João de Barros, as armadas ou as correspondências são algumas das matérias encontradas nesta obra da Editorial Presença. “A Viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses” de José Manuel Garcia – um doutorado investigador da História dos Descobrimentos – é um dos muitos livros dedicados à expansão ultramarina.
Apesar de ser uma obra mergulhada numa escrita académica, repleta de anotações e explicações, datas e lugares distintos, esta pode ser classificada como uma narrativa de aprendizagem histórica, um livro de fácil leitura e interpretação mesmo para os menos devotos deste imenso mundo da literatura de viagens.

__________
José Manuel Garcia
A Viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses
Editorial Presença, 20 €

O Museu Desaparecido



Este é, sem margem para qualquer dúvida, um exemplo de jornalismo de investigação. O tema não é novo. Aliás, raro é o mês que documentários televisivos do Canal História não ilustrem o flagelo que foi o saque, durante a Segunda Guerra Mundial, de milhares de obras por arte de tropas nazis em território francês.
“O Museu Desaparecido” de Héctor Feliciano é um novo e completo contributo para esclarecer esta triste realidade. Foram oito anos de investigações. Oito anos a analisar documentos inéditos, testemunhos, entrevistas a vítimas, pesquisas em museus públicos e em arquivos privados. Certezas absolutas não existem, mas fala-se em mais de cem mil obras de arte roubadas pelos Nazis. De quadros de Monet a Matisse, passando por Picasso, Cézanne, Degas, Van Gohg e Rembrandt. O objectivo de Hitler era criar, na Áustria (sua terra natal), um museu de arte com o seu próprio nome. Aliás, todos nós já ouvimos falar do “ninho da águia” (kehlstein), uma montanha alemã onde existia um bunker de Hitler com centenas de obras pilhadas aos judeus.
O livro das Publicações Dom Quixote, com quase 400 páginas, aparece dividido em quatro partes. Começa por falar do amor que Hitler tinha pela arte e termina com a recuperação (em Agosto de 1944, dois dias depois da libertação de Paris) de algumas obras. Pelo meio ficam os capítulos dedicados às pilhagens e à venda das obras de arte. Os anexos com documentos históricos e as imagens completam o restante décor desta brilhante obra.

__________
Héctor Feliciano
O Museu Desaparecido
Dom Quixote, 22,14 €

O Acidente


O ano passado, “O Acidente” de Mário Cabral arrebatou o 1.º prémio literário John Passos (promovido pela Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira). Tal como nos remete a completa sinopse, o romance deste açoriano da Terceira trata a história de “uma viúva que se dirige à igreja da Conceição, com o fim de entregar a alguém o último duma colecção de rosários recebidos naquele sistema de cartas anónimas às quais se deve dar sequência. Quando sai do templo, é atropelada de morte”. Cada personagem que assiste ao acidente perspectiva-o de modo diverso, tendo este forte influência nas suas vidas.
Este escritor – que também é pintor - construiu assim uma tela que conjuga muito bem as personagens, a acção, o tempo e o espaço em redor de um acidente, onde muitos julgam terem visto quase tudo. Fortemente realista, esta obra é uma colorida imagem cheia de pixéis e mergulhada numa impressão de acontecimentos entre a ficção e a realidade. Do mesmo autor, recomenda-se também "O Livro das Configurações", um romance publicado em 2001, pela Campo das Letras.

__________
Mário Cabral
O Acidente
Campo das Letras, 14,36 €

Leya segura Lobo Antunes

Depois de tecer duras críticas sobre as confusões que se geraram por causa da Feira do Livro de Lisboa, Lobo Antunes e os responsáveis da Leya chegaram a um entendimento. O autor mantém-se assim na editora D. Quixote, responsável pela publicação de quase todos os seus trabalhos.

«Os argumentos e as promessas do Grupo Leya acalmaram o escritor e este manter-se-á na editora em que publicou quase toda a sua obra. Para dizer sim, teve garantias de que a Dom Quixote voltaria a ter o prestígio dos tempos de Snu Abecasis e que o "lixo literário" desaparecerá da chancela.

"Vou ficar na Dom Quixote." Esta é a decisão final do escritor António Lobo Antunes após seis meses de hesitação entre permanecer na sua editora de há 25 anos ou aceitar uma das várias propostas de editoras e grupos concorrentes nacionais e estrangeiros que, numa perseguição quase diária, lhe têm abalado a paz do local de trabalho para o contratar.

O diferendo que opôs o autor ao Grupo Leya passou mais pelo estado a que chegara a Dom Quixote, diz, do que apenas uma contestação à integração num grupo editorial com uma tão grande dimensão. E obtidas as garantias que desejava - durante um almoço realizado na semana passada - Lobo Antunes decidiu manter-se na sua editora.

O DN publicou a 29 de Dezembro uma entrevista com o escritor na sequência da aquisição da Dom Quixote pela Leya em que este ameaçava deixar de publicar em Portugal caso não fossem aceites as suas condições e desde então este foi um dos tabus que se mantiveram no panorama editorial nacional.

A decisão não foi, no entanto, fácil para o escritor, que garantiu que a sua "hesitação era muito grande quanto à qualidade da editora e ao projecto editorial da Dom Quixote e da Leya". Uma hesitação que não correspondeu a "um momento" mas a "longos momentos" e que se prolongou por quase meio ano em duas vertentes. Por um lado, foram várias as reuniões e encontros que teve a convite dos responsáveis da Leya para evitar a sua partida para outra editora - facto que poderia também provocar uma fuga de vários autores deste grupo editorial. Por outro lado, foram muitas as editoras e grupos que tentaram aproveitar o descontentamento para o ter no catálogo.

A decisão de Lobo Antunes recaiu sobre a Dom Quixote face ao que lhe foi apresentado: "Foram muito claros e agrada-me a promessa de que a Dom Quixote volte a ser a editora de referência que era no tempo da Snu Abecasis, quando as pessoas compravam os seus livros porque tinham essa chancela, como era o meu caso. Estou convicto de que o querem fazer e espero que revitalizem as colecções que ela criou, como os Cadernos de Poesia e os Cadernos Dom Quixote, e que aquilo que eu acho que é o lixo editorial - é necessário publicar porque traz dinheiro - seja feito noutras chancelas do grupo". Para Lobo Antunes, "a Dom Quixote ficaria uma editora literária de qualidade, que não dará os erros de palmatória como aconteceu nos meus livros - nas edições Booket e nas Ne Varietur - e que eu não tolero e quanto aos quais ninguém foi responsabilizado".

Questionado sobre se o Grupo Leya daria cobertura a esses propósitos, Lobo Antunes garantiu que ficou "bem impressionado com o encontro" e que as partes "estavam de acordo com o que cada uma disse".»

Fonte: Diário de Notícias

(As partes em bold são da minha autoria.)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O livro dos médiuns, ou, Guia dos médiuns e dos evocadores: espiritismo experimental, de Allan Kardec

Introdução
Todos os dias a experiência nos traz a confirmação de
que as dificuldades e os desenganos, com que muitos topam
na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos princípios
desta ciência e feliz nos sentimos de haver podido comprovar
que o nosso trabalho, feito com o objetivo de precaver
os adeptos contra os escolhos de um noviciado, produziu frutos
e que à leitura desta obra devem muitos o terem logrado
evitá-los.
Natural é, que entre os que se ocupam com o Espiritismo,
o desejo de poderem pôr-se em comunicação com os Espíritos.
Esta obra se destina a lhes achanar o caminho, levando-
os a tirar proveito dos nossos longos e laboriosos
estudos, porquanto muito falsa idéia formaria aquele que pensasse
bastar, para se considerar perito nesta matéria, saber
colocar os dedos sobre uma mesa, a fim de fazê-la mover-se,
ou segurar um lápis, a fim de escrever.
Enganar-se-ia igualmente quem supusesse encontrar
nesta obra uma receita universal e infalível para formar médiuns.
Se bem cada um traga em si o gérmen das qualidades
necessárias para se tornar médium, tais qualidades existem
em graus muito diferentes e o seu desenvolvimento
depende de causas que a ninguém é dado conseguir se ve-
rifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da
música não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos
os que não têm o gênio de alguma dessas artes. Apenas
guiam os que as cultivam, no emprego de suas faculdades
naturais. O mesmo sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo
consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade
mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições
de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o emprego de modo útil,
quando ela exista. Esse, porém, não constitui o fim único a
que nos propusemos.
De par com os médiuns propriamente ditos, há, a crescer
diariamente, uma multidão de pessoas que se ocupam
com as manifestações espíritas. Guiá-las nas suas observações,
assinalar-lhes os obstáculos que podem e hão de necessariamente
encontrar, lidando com uma nova ordem de
coisas, iniciá-las na maneira de confabularem com os Espíritos,
indicar-lhes os meios de conseguirem boas comunicações,
tal o círculo que temos de abranger, sob pena de fazermos
trabalho incompleto. Ninguém, pois, se surpreenda de
encontrar nele instruções que, à primeira vista, pareçam descabidas;
a experiência lhes realçará a utilidade. Quem quer
que o estude cuidadosamente melhor compreenderá depois
os fatos de que venha a ser testemunha; menos estranha lhe
parecerá a linguagem de alguns Espíritos. Como repositório
de instrução prática, portanto, a nossa obra não se destina
exclusivamente aos médiuns, mas a todos os que estejam
em condições de ver e observar os fenômenos espíritas.
Não faltará quem desejara publicássemos um manual
prático muito sucinto, contendo em poucas palavras a indicação
dos processos que se devam empregar para entrar em
comunicação com os Espíritos. Pensarão esses que um livro
desta natureza, dada a possibilidade de se espalhar profu-
samente por módico preço, representaria um poderoso meio
de propaganda, pela multiplicação dos médiuns. Ao nosso
ver, semelhante obra, em vez de útil, seria nociva, ao menos
por enquanto. De muitas dificuldades se mostra inçada a
prática do Espiritismo e nem sempre isenta de inconvenientes
a que só o estudo sério e completo pode obviar. Fora,
pois, de temer que uma indicação muito resumida animasse
experiências levianamente tentadas, das quais viessem os
experimentadores a arrepender-se. Coisas são estas com que
não é conveniente, nem prudente, se brinque e mau serviço
acreditamos que prestaríamos, pondo-as ao alcance do primeiro
estouvado que achasse divertido conversar com os
mortos. Dirigimo-nos aos que vêem no Espiritismo um objetivo
sério, que lhe compreendem toda a gravidade e não fazem
das comunicações com o mundo invisível um passatempo.
Havíamos publicado uma Instrução Prática com o fito
de guiar os médiuns. Essa obra está hoje esgotada e, embora
a tenhamos feito com um fim grave e sério, não a reimprimiremos,
porque ainda não a consideramos bastante completa
para esclarecer acerca de todas as dificuldades que se
possam encontrar. Substituímo-la por esta, em a qual reunimos
todos os dados que uma longa experiência e conscienciosos
estudos nos permitiram colher. Ela contribuirá, pelo
menos assim o esperamos, para imprimir ao Espiritismo o
caráter sério que lhe forma a essência e para evitar que haja
quem nele veja objeto de frívola ocupação e de divertimento.
A essas considerações ainda aditaremos outra, muito
importante: a má impressão que produzem nos novatos as
experiências levianamente feitas e sem conhecimento de causa,
experiências que apresentam o inconveniente de gerar
idéias falsas acerca do mundo dos Espíritos e de dar azo à
zombaria e a uma crítica quase sempre fundada. De tais reu-
niões, os incrédulos raramente saem convertidos e dispostos
a reconhecer que no Espiritismo haja alguma coisa de
sério. Para a opinião errônea de grande número de pessoas,
muito mais do que se pensa têm contribuído a ignorância e a
leviandade de vários médiuns.
Desde alguns anos, o Espiritismo há realizado grandes
progressos: imensos, porém, são os que conseguiu realizar,
a partir do momento em que tomou rumo filosófico, porque
entrou a ser apreciado pela gente instruída. Presentemente,
já não é um espetáculo: é uma doutrina de que não mais
riem os que zombavam das mesas girantes. Esforçando-nos
por levá-lo para esse terreno e por mantê-lo aí, nutrimos a
convicção de que lhe granjeamos mais adeptos úteis, do que
provocando a torto e a direito manifestações que se
prestariam a abusos. Disso temos cotidianamente a prova
em o número dos que se hão tornado espíritas unicamente
pela leitura de O Livro dos Espíritos.
Depois de havermos exposto, nesse livro, a parte filosófica
da ciência espírita, damos nesta obra a parte prática,
para uso dos que queiram ocupar-se com as manifestações,
quer para fazerem pessoalmente, quer para se inteirarem
dos fenômenos que lhes sejam dados observar. Verão, aí, os
óbices com que poderão deparar e terão também um meio de
evitá-los. Estas duas obras, se bem a segunda constitua seguimento
da primeira, são, até certo ponto, independentes
uma da outra. Mas, a quem quer que deseje tratar seriamente
da matéria, diremos que primeiro leia O Livro dos Espíritos,
porque contém princípios básicos, sem os quais algumas
partes deste se tornariam talvez dificilmente compreensíveis.
Importantes alterações para melhor foram introduzidas
nesta segunda edição, muito mais completa do que a primei-
ra. Acrescentando-lhe grande número de notas e instruções
do maior interesse, os Espíritos a corrigiram, com particular
cuidado. Como reviram tudo, aprovando-a, ou modificando-a
à sua vontade, pode dizer-se que ela é, em grande parte,
obra deles, porquanto a intervenção que tiveram não se limitou
aos artigos que trazem assinaturas. São poucos esses
artigos, porque apenas apusemos nomes quando isso nos
pareceu necessário, para assinalar que algumas citações um
tanto extensas provieram deles textualmente. A não ser assim,
houvéramos de citá-los quase que em todas as páginas,
especialmente em seguida a todas as respostas dadas às
perguntas que lhes foram feitas, o que se nos afigurou de
nenhuma utilidade. Os nomes, como se sabe, importam pouco,
em tais assuntos. O essencial é que o conjunto do trabalho
corresponda ao fim que colimamos. O acolhimento dado
à primeira edição, posto que imperfeita, faz-nos esperar que
a presente não encontre menos receptividade.
Como lhe acrescentamos muitas coisas e muitos capítulos
inteiros, suprimimos alguns artigos, que ficariam em duplicata,
entre outros o que tratava da Escala espírita, que já
se encontra em O Livro dos Espíritos. Suprimimos igualmente
do “Vocabulário” o que não se ajustava bem no quadro
desta obra, substituindo vantajosamente o que foi
supresso por coisas mais práticas. Esse vocabulário, além
do mais, não estava completo e tencionamos publicá-lo mais
tarde, em separado, sob o formato de um pequeno dicionário
de filosofia espírita. Conservamos nesta edição apenas
as palavras novas ou especiais, pertinentes aos assuntos
de que nos ocupamos.

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Breve olhar sobre a História da Literatura Juvenil III

A pré-história das sagas fantásticas...

«Em meados do século XIX, os adolescentes tê acesso ao romance histórico e ao romance de aventura com as obras de Walter Scott, Fenimore Cooper, Alexandre Dumas, portadores de um ideal de virilidade transmitido nas escolas. Glorificação do passado nacional, celebração do heroísmo, exaltação da coragem, são os temas deste período e desta literatura de aventuras.»
p.28
Laurence Simon, idem

Atente-se que há uma identificação entre os valores transmitidos pedagogicamente e aqueles protagonizados pelos heróis, o que resulta numa nova apropriação, por parte dos adolescentes, de narrativas que não lhes são exclusivamente destinadas. Esta identificação ainda não é propositada, mas resulta da forte influência do movimento romântico, que atingiu todos os polos das sociedades ocidentais.

Estantes (XIII)

A Fátima Rodrigues enviou-nos fotos da sua linda estante, e em mais detalhe estão os livros que tem em fila de espera para ler... E eu a pensar que a minha já era grande :)
Já agora, aproveitem para visitar o Segredo dos Livros, sempre com boas sugestões de leitura.






Se quiserem enviar as vossas fotos, podem fazê-lo para estantedlivros@gmail.com.