Quando William Blake (1757-1827) morreu, a opinião geral era de que ele, embora brilhante, fosse louco. O veredito de Wordsworth era: “não há dúvidas de que esse pobre homem era louco, mas há algo na loucura dele que me interessa mais que a sanidade de Lord Byron e Sir Walter Scott”. Essa mesma opinião era compartilhada por Ruskin, que achou seu estilo “doente e selvagem”, mas sua mente “brilhante e arguta”.
Na presente edição a Iluminuras escolheu duas obras-primas do “Visionário Apocalíptico”: O Matrimônio do Céu e do Inferno e O Livro de Thel.
O Matrimônio do Céu e do Inferno consiste numa seqüência de aforismos paradoxais, nos quais Blake estuda a moralidade convencional, proclamando que o homem não se reduz à dualidade alma=bem e corpo=mal, mas que o “homem não tem um corpo distinto da sua alma... energia é a substância vital e vem do corpo...”.
Blake relembra Milton afirmando que este era “... um verdadeiro poeta alinhado com o demônio, sem o saber...”. Ainda no Matrimônio, Blake passa por uma série de encontros com anjos e profetas e termina com uma evocação do Anjo tornado Demônio “... que é seu amigo particular; nós muitas vezes lemos a Bíblia em seu sentido infernal e diabólico...”.
O Livro de Thel apresenta a jovem Thel lamentando a transitoriedade e a mutabilidade às margens do rio de Adona; respondem-lhe o lírio, a nuvem, o verme e a terra que lhe asseguram que quem ama o humilde aprecia mesmo o mais desprezível. Esta sabedoria relativamente convencional é desafiada no momento em que Thel visita a casa de Clay, vê os leitos dos mortos e ouve “uma voz de tristeza” sussurrar um protesto caracteristicamente blanqueano contra a hipocrisia e a repressão.
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