Ando às voltas com a escolha dos livros para uma comunidade de leitores que se vai realizar em Montemor-o-Novo, no próximo ano lectivo, se tudo correr pelo melhor.
A Célia apostou no projecto, e estamos muito ansiosas para o ver em marcha. O risco é grande, como acontece sempre que falamos de adolescentes, mas contamos preparar o terreno para que a participação na comunidade não seja uma desilusão. Algumas alunas são frequentadoras e leitoras da Biblioteca Municipal, pelo que acreditamos que estarão interessadas em participar no clube. E antes de lhe darmos início, retomarei os ateliers nas escolas, de modo a que os alunos me conheçam e reconheçam.
Bom, mas os livros...
Tenho muitas ideias e livros a propôr. A lista provisória, que ainda não enviei, conta com vinte e dois livros. Destes, pelo menos um terço não costuma figurar nas prateleiras destinadas à adolescência. Estou por isso muito expectante. Apesar do sentido de humor mordaz de alguns livros, da abordagem negra de outros, ou ainda da diversidade de géneros (entre ficção e não ficção), receio que os participantes se desinteressem a cada falha de linearidade. Não estou certa se as várias linhas de leitura de alguns destes livros serão suficientes para que se estabeleçam empatias com os mais jovens.
Por outro lado, acredito que não podemos baixar constantemente o nível de exigência relativamente à leitura, ou a qualquer outra forma de manifestação artística ou de pensamento, só porque tememos que o nosso público não perceba. Esta atitude sempre me pareceu paternalista e conservadora. Para além disso, os exemplos que nos rodeiam não me demovem desta convicção. Há quarenta anos as pessoas, muitas com a quarta classe, seguiam atentamente as peças de teatro gravadas para a RTP. Claro que não tinham grandes opções, mas esta programação não lhes desagradava. Mal comparado, porque devemos nós considerar que o adolescente só consegue ler reflexos estilizados do seu quotidiano ou mistérios fantasiosos, numa escrita repetitiva e simplificada?
É evidente que não podemos esperar que adolescentes que nunca conseguiram acabar um livro, tenham estímulo para ler o Drácula. Nem que seja pelo número de páginas e pelo tamanho da letra. Mas, com esse jovem, o nosso primeiro passo é convencê-lo de que consegue ler um livro até ao fim. Já me aconteceu isso, quando moderei as comunidades do projecto Quem disse que não gostamos de ler?, na Amadora. O aluno conseguiu ler Uma argola no umbigo, e ficou muito feliz com isso. A partir daqui, seria mais fácil desafiá-lo a escolher, ou apresentar-lhe outras hipóteses. Daí o risco que desejo correr. Darei conta, se o projecto se concretizar, dos sucessos e fracassos por que vou passar.
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