recomendado pelo Plano Naciona de Leitura para o pré-escolar (ler em voz alta/ contar/ dramatizar)
Mia Couto incorre no universo infantil com «O gato e o escuro». Esta história narra a aventura de um gatinho amarelo que se delicia em contrariar os conselhos da sua mãe, e ultrapassa a fronteira da luz.
O escuro atrai o pequeno gato como atrai todas as crianças, já que no escuro não se vêem os objectos com nitidez, mas apenas sombras e contornos diluídos em proporções diferentes daquelas a que estamos habituados e identificamos como o mundo real. Este escuro encerra todo esse mistério e Mia Couto faz deslizar a semântica ao mesmo ritmo dos passos do gato, culminando num novo universo de sonho. A mãe do gato, que representa até ali a responsabilidade e o castigo, transforma-se numa mãe segura, omnisciente, e surpreendente.
O momento em que a narrativa foge ao caminho tradicional acontece quando o gatinho conhece o escuro. Neste momento, a representação da curiosidade, o consequente castigo para a desobediência, a lição que se aprende…, dispersam-se na descoberta da animização do escuro, e na sua infelicidade. Desdramatiza-se o medo do breu com a tristeza que o escuro sente por não ver outras cores, nem sequer as outras o aceitarem entre elas. A mãe acolhe o escuro, acarinha-o, deixando o seu filho de estar no centro da sua atenção. Neste segundo momento, o gatinho como a criança, fica espantado por não ser a figura mais importante para a sua mãe, principalmente quando esta convida o escuro para ser seu filho. A consciência de que não se é único, nem todo poderoso, e principalmente que se está constantemente a ser surpreendido pelo mundo e pelos outros, mesmo os que mais gostam de nós, será talvez uma das principais teses que podemos reter da narrativa.
Na linha da escrita do autor, também nesta história encontramos inúmeros neologismos (pirilampiscar; tiquetaquear; noitidão), e uma apropriação de palavras de outros campos lexicais («Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos.»). O eco poético está muito presente na expressividade que confere ao texto, correndo no entanto o risco de se perder o sentido essencial da narrativa. As ilustrações de Danuta Wojciechowska dialogam com o texto, representando o gatinho e o escuro nos vários momentos da acção. As tonalidades quentes obedecem à gradação da história: da luz para a escuridão, sem nunca deixarem de ter marcas de alegria (até nos contornos das personagens). A gata mãe, o gato Pintalgato e o escuro aparecem sempre em movimento, diluindo-se e fundindo-se numa união que corresponde ao final da história. A narrativa fecha-se, à imagem do universo de Mia Couto, deixando soltas as pontas da veracidade. O mistério deixa o leitor expectante, e leva-o a decidir-se quanto ao final que melhor corresponde ao seu desejo.
O escuro atrai o pequeno gato como atrai todas as crianças, já que no escuro não se vêem os objectos com nitidez, mas apenas sombras e contornos diluídos em proporções diferentes daquelas a que estamos habituados e identificamos como o mundo real. Este escuro encerra todo esse mistério e Mia Couto faz deslizar a semântica ao mesmo ritmo dos passos do gato, culminando num novo universo de sonho. A mãe do gato, que representa até ali a responsabilidade e o castigo, transforma-se numa mãe segura, omnisciente, e surpreendente.
O momento em que a narrativa foge ao caminho tradicional acontece quando o gatinho conhece o escuro. Neste momento, a representação da curiosidade, o consequente castigo para a desobediência, a lição que se aprende…, dispersam-se na descoberta da animização do escuro, e na sua infelicidade. Desdramatiza-se o medo do breu com a tristeza que o escuro sente por não ver outras cores, nem sequer as outras o aceitarem entre elas. A mãe acolhe o escuro, acarinha-o, deixando o seu filho de estar no centro da sua atenção. Neste segundo momento, o gatinho como a criança, fica espantado por não ser a figura mais importante para a sua mãe, principalmente quando esta convida o escuro para ser seu filho. A consciência de que não se é único, nem todo poderoso, e principalmente que se está constantemente a ser surpreendido pelo mundo e pelos outros, mesmo os que mais gostam de nós, será talvez uma das principais teses que podemos reter da narrativa.
Na linha da escrita do autor, também nesta história encontramos inúmeros neologismos (pirilampiscar; tiquetaquear; noitidão), e uma apropriação de palavras de outros campos lexicais («Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos.»). O eco poético está muito presente na expressividade que confere ao texto, correndo no entanto o risco de se perder o sentido essencial da narrativa. As ilustrações de Danuta Wojciechowska dialogam com o texto, representando o gatinho e o escuro nos vários momentos da acção. As tonalidades quentes obedecem à gradação da história: da luz para a escuridão, sem nunca deixarem de ter marcas de alegria (até nos contornos das personagens). A gata mãe, o gato Pintalgato e o escuro aparecem sempre em movimento, diluindo-se e fundindo-se numa união que corresponde ao final da história. A narrativa fecha-se, à imagem do universo de Mia Couto, deixando soltas as pontas da veracidade. O mistério deixa o leitor expectante, e leva-o a decidir-se quanto ao final que melhor corresponde ao seu desejo.
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