Todos nós temos aqueles livros que consideramos especiais. Uns pela construção narrativa, outros pela história, outros ainda pela mensagem que nos transmitem ou pelo que ensinam, mensagens e ensinamentos esses que podem alterar toda uma filosofia de vida, um modo de pensar, uma forma de olhar o mundo que nos rodeia ou outra percepção da História.
Como toda a gente, tenho eu também na memória algumas obras que tiveram o condão de me proporcionarem algumas das sensações/percepções acima mencionadas. Obras que recomendo sempre que posso, tentando contudo explicar esse fascínio ou, pelo menos, onde e porquê considero essa obra especial.
Posto isto, apenas espero que no fim desta opinião tenham compaixão de mim e não me crucifiquem, pois muitos irão certamente dizer "cobras" e "lagartos" desta opinião e especialmente da pontuação que atribuo.
A legião de fãs do "Cem anos de solidão" são mais do que as mães. Há 2, 3 anos li este famoso livro e sinceramente não gostei. No entanto algo ficou a moer cá dentro. Fiquei deveras incomodado comigo mesmo pelo facto de tanta gente adorar este livro e eu não ter gostado, assim, resolvi relê-lo esperando vir a entender a beleza e magia que tantos apregoam.
A história em si é extremamente confusa e surrealista. Entrar no mundo de Macondo é difícil dada a imensa irrealidade de tudo o que a rodeia.
Uma vila no meio de nada é cenário para a história de uma família que se confunde com a origem da própria vila. Numa aura mágica, num tempo indefinido e, ao mesmo tempo longínquo, Macondo está praticamente fechada ao exterior, sendo apenas um grupo de ciganos que faz uma pequena e frágil ligação a esse mundo exterior. É neste pedaço de terra, quase uma terra de ninguém, onde vive a família Buendía, figura central da história. Uma estranha família que tem o faculdade de gerar pessoas com algum dom estranho e todos eles com um caminho tortuoso pela frente, caminho esse que tem um ponto em comum: a solidão.
Nesse família existe uma estranha e curiosa particularidade que é, talvez, a imagem de marca do romance: todos têm os nomes iguais, ou seja, os netos herdam os nomes dos avôs/avós, existindo assim um cruzamento confuso de personagens onde facilmente perdemos a noção de quem é quem.
Curioso também verificar que Garcia Marquez menciona várias vezes personagens que já faleceram, parecendo-nos assim que todos eles são imortais (penso até que é propositado), e que todos eles têm um pedaço de um outro e um pedaço de todos.
Como elo familiar em quase toda a história, surge a matriarca (Úrsula) que vê nascer e morrer praticamente todas as gerações.
É uma história que combina diversos elementos: os problemas sociais e políticos, o progresso inexorável, a vida quotidiana, a história de um povo, a morte, o amor, o sobrenatural, o humor e o incesto. Nessa combinação, é realmente um livro espantoso, porque consegue associar todos estes elementos de uma forma magistral, mas e ao colocar a realidade numa categoria onírica, num mundo absurdo onde a lógica é propositadamente deixada de parte, fez com que não conseguisse apreciar a obra e nem compreende-la na sua natureza, ou seja, não compreendo o porquê de esta ser considerada uma obra-prima da literatura.
De todo o romance, gostei essencialmente da parte final onde Marquez demonstra o seu jeito para a escrita, mas o resto do livro foi-me penoso ler, dadas as inúmeras vezes que me perdi no vasto rol de personagens e no vasto rol de acontecimentos absurdos, embora admita que a personagem de Melquiades é um perfume que Marquez nos oferece de princípio ao fim.
Resumindo e concluindo: Um romance que não me agradou e nem me proporcionou momentos de lazer. Um mundo surrealista, onde o passado se mistura com o presente de uma forma quimérica, parecendo que estamos numa outra dimensão. Uma imensa galeria de personagens com nomes idênticos que aumentam ainda mais a confusão e onde a trajectória do destino se repete geração após geração. De notar também, confesso, não ser este o género literário predilecto.
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