Pensa-se que William Shakespeare escreveu, ou pelo menos iniciou a escrita desta obra em 1591, no entanto a 1ª edição do drama apenas surgiu em 1597, o que denota um extremo cuidado do Mestre com a composição da mesma.
Porém, a história dos amores entre Romeu e Julieta era já muito popular no tempo de Shakespeare. Mesmo antes de o dramaturgo a ter escrito, já ela era conhecida pelo público, logo e ao contrário do que muitos pensam, não foi Shakespeare o verdadeiro autor do trama, este apenas a agarrou para lhe dar uma dimensão fantástica e levá-la à galeria das obras imortais.
Oficialmente a história, ou pelo menos a sua base, teve início em 1535, quando um fidalgo veneziano cria uma pequena narração intitulada: “Julieta, história novamente encontrada de dois amantes nobres...”, no entanto já em 1476 havia surgido uma outra história de um contista italiano, Masucio de Salerno, em que narra acontecimentos muito semelhantes aos de Romeu e Julieta.
Mas o que interessa nesta opinião não é afirmar que não foi Shakespeare o criador deste drama, o que interessa e o que é importante sublinhar e ressalvar, é que foi William Shakespeare, com o seu génio, que lhe deu a alma, a emoção, a paixão, o carácter e o poder dos personagens, criando uma história, um romance intemporal que coloca Romeu e Julieta na base da mais linda história de amor de todos os tempos.
Nesta tragédia, dominada por duas família que se odeiam mortalmente e em que os filhos únicos dos chefes dessas famílias estão destinadas a odiar-se um ao outro, no entanto acabam por se apaixonar um pelo outro e dessa paixão nasce um sentimento tão forte, tão violento, que para sempre ficará nos anais da História.
É difícil afirmar o que mais me maravilhou. Se o perfeito jogo de diálogos poéticos, se o simples mas perfeito trama, se a maravilhosa personalidade dos personagens (a Ama está sublime) ou se o modo rebuscado, romanceado e exagerado como os diálogos estão construídos.
É impossível não nos sentirmos comovidos com as situações, com o imenso e platónico amor que sentem dois seres separados pelo muro do ódio familiar, destinados por isso, a viverem fugidos ou a unirem-se pela morte, pois este é talvez o único caso onde a morte tem o condão de unir e não separar.
Um Romeu sonhador, sensível, de pensamentos nobres. Em contrapartida, uma Julieta apaixonada. Impulsiva, ousada que, dadas as condicionantes da época, fazem deste drama algo de genial, pois a forma como ele se desenvolve, a forma como as personagens que com ele interagem está, simplesmente genial.
Queria também deixar aqui uma nota sobre a edição que li, edição do Jornal de Notícias e traduzida pelo Dr. Domingos Ramos. Segundo o tradutor, esta é a primeira tradução para o português da 1ª edição, da edição original de 1597. As diversas traduções têm seguido a edição de Steevens e Malone do Séc. XIX a qual não prima pela exactidão, ou seguem a de 1599 de Thomas Creede e que serviu de modelo às edições de 1609 e 1623. Portanto é importante realçar o valor desta edição.
Por fim pretendia abordar a questão da veracidade da real existência de Romeu e Julieta e das suas famílias.
Sempre ouvi dizer que Romeu e Julieta haviam existido na realidade, apontando-se a sua existência durante o séc. XIV. No entanto e nesta edição tudo isto é desmentido com base em estudos históricos.
Realmente existe em Verona um túmulo que é atribuído a Julieta, porém este túmulo compõe-se duma simples pedra mármore, sem inscrições, sem data, ornatos nem emblemas. As famílias Montecchio e Capuleto parecem de facto ter existido, mas e enquanto dos Montecchio sabe-se que eram de Veronaa, dos Capuletos nem se tem a certeza da sua existência, pensando-se sem que este era o nome dado aos chapéus que usavam os membros do partido gibelino e, mesmo assim, apenas existem registos do nome Capuleto em Cremona, nunca em Verona. Assim, a história de Romeu e Julieta foi elevada a lenda pelos próprios veroneses, podendo ser considerada, com toda a certeza como muito duvidosa.
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