segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Roedores no Museu da Língua Portuguesa

Na manhã da última quinta, 23 de agosto, ainda estávamos em Sampa. A agenda do seminário apresentava naquela manhã a palavra do premiado autor espanhol Xosé Antonio Neira Cruz, o indígena Daniel Munduruku e o professor Luiz Percival Leme Brito. Deste encontro podemos dizer o que os amigos falaram: Xosé emocionou a todos falando sobre os prazeres da intimidade com o livro. Clique nos nomes para ler a cobertura oficial sobre a presença de cada um.
Desculpe aos que esperavam nossas palavras sobre esta manhã imperdível no seminário, mas havia um sonho a ser realizado: conhecer o Museu da Língua Portuguesa. Dizem que todo mulçumano deve ir à cidade de Meca pelo menos uma vez na vida. Depois da nossa visita acho que todo brasileiro deveria ter o direito (e meios para isso) de visitar o Museu da Língua Portuguesa uma vez na vida. Impossível sair de lá sem ter no peito a chama da paixão queimando de tanto orgulho e felicidade de pertencer a esta língua. Sim, pertencer. Penso em português, falo, sinto nesta língua!!!

O museu fica na Estação da Luz (se você estiver de bobeira, pode dar uma esticadinha cultural na Pinacoteca do Estado se São Paulo, que fica ao lado) e abre a partir das 10 da manhã. Eu, por ser professora, entrei de graça. O Tino, por ser músico e jornalista pagou R$ 4,00. Precinho especial para tamanho prazer (aos sábados a visitação é gratuita). Rapidamente subimos para o terceiro piso com um grupo de estudantes do interior de Minas Gerais. Num auditório com um super telão foi projetado um curta falando sobre a importância cultural da Língua para a humanidade. Depois, a parede onde o curta é projetado abre-se convidando-nos a entrar na Praça da Língua, o espaço mais emocionante. Repleto de projeções por todos os cantos (pisos, paredes, tetos) vozes conhecidas declamam os mais belos poemas. A silêncio de uma turma de 100 adolescentes é de impressionar. A escuridão da sala nos deixa mais atento as palavras. Da definição da boneca Emília (leia-se Monteiro Lobato) sobre a vida ser pisca-pisca, passando por Guimarães Rosa dizendo que “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” até o mais emocionante: ouvir Maria Bethânia sussurrar Fernando Pessoa em nossos atentos ouvidos: “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”. A produção de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski emociona do início ao fim. Já pagou o ingresso (incluso as passagens de avião Brasília – São Paulo, o ônibus de Guarulhos ao Itaim e tudo o mais).
Mas não pára por aí: descemos ao segundo piso. Lá, o genial Beco das Palavras (onde brincamos de criar palavras num grande, divertido e interativo jogo virtual), a Grande Galeria (projetando num imenso corredor vários filmes simultaneamente), os pilares com as línguas que deram origem ao nosso português (africanas, indígenas, espanhola, inglesa, francesa...), a linha do tempo... por falar em tempo, não adianta ir com pressa.

Devore tudo d e v a g a r.

Por fim, no primeiro piso, a exposição temporária sobre Clarice Lispector. Podemos ler as palavras da escritora no fundo dos seus olhos. Vários ambientes distintos lembram seus livros, momentos biográficos, trechos de uma entrevista televisiva e a leitura do livro A Hora da Estrela feita por transeuntes exibida em vídeo. Mas o que causa impacto é a sala das gavetas. Segundo a organização, são duas mil delas. Sessenta podem ser abertas e guardam “segredos” sobre Clarice. Correspondências, as várias identidades com datas de nascimento diversas, primeiras edições de livros e outras raridades são um prato cheio para quem tiver tempo de sobra para esmiuçar a vida da escritora. Tem até bancos à disposição dos mais exaustos. Não tínhamos tanto tempo assim. Mas o que vimos foi o suficiente para garantir forças para outra visita, quem sabe, em breve. De lá, metrô até a Paulista e táxi até o Morumbi. A língua Portuguesa nos reservava outras emoções. Vastas. Intensas. Que viagem!!!

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