Até à pouco tempo atrás, pensava que o Santo Graal se tratava de uma taça em madeira onde supostamente Jesus Cristo havia bebido na última ceia que efectuou com os seus apóstolos. Assim e julgando ser mais um mito do que propriamente um dado histórico, nunca dei muita importância a esse facto, sem ser quando lia algo sobre a idade média e a constante e quase obcecante busca pelo Graal.
Após ler o famosíssimo “Codigo Da Vincai” fiquei deveras surpreendido com as revelações que o autor fazia. Servindo-se duma história policial, Dan Brown começava por fazer referências a quadros de Leonardo Da Vincai, da simbologia contida nas obras, para acabar por nos conduzir a todo um mistério mais intricado que punha em causa a própria igreja católica e toda a filosofia/crença que esta defende. Nesse mesmo livro, o autor acabava por dar referência de uns 3 livros que, segundo ele, estariam na génese de todo o trama do livro.
Independentemente de ter gostado ou não do livro, o certo é que esse assunto sobressaiu na minha mente. A minha curiosidade ficou espicaçada e decidi que tinha que saber mais sobre o assunto, queria saber se realmente Leonardo Da Vincai sabia “demais” e se tinha deixado mesmo aquelas mensagens nos seus quadros. Queria saber o que seriam aquelas organizações que Brown refere, se o Santo Graal era, ou não, o que ele sugeria e, mais importante, queria saber até onde poderia ter ido a hipocrisia da igreja católica.
Efectuei então uma busca por bibliografia sobre os temas abordados, busca essa que me levou a um texto bastante curioso “Protocolos dos Sábios de Sião” e um outro livro ”Segredo dos Templários”, que me parecia ser um complemento daquele que, desde logo, me pareceu ser o mais completo, aquele que Brown foca e, neste momento, não tenho dúvida em afirmar que foi neste que Brown se inspirou para escrever o seu policial.
”O Sangue de Cristo e o Santo Graal” é um livro que segundo os autores (Michael Baigent, Henry Lincoln, Richard Leigh) surgiu um pouco por acaso. Tudo começou em 1969 quando um dos autores comprou um pequeno livro de bolso, onde factos históricos, mistérios e conjecturas se misturavam entre si. Nesse texto, intitulado “O tesouro maldito”, fazia-se referência a um tesouro, encontrado por acaso em 1890 por um padre em Rennes-le-Château. E é através deste facto, ao princípio um facto curioso, que o autor começa uma pequena investigação que, pouco depois e devido a algumas descobertas interessantes, o obrigam a iniciar uma investigação mais séria. Tudo isto em 1970.
E é num simples livro de bolso que foi parar às mãos de um especialista em História, que se inicia uma investigação que irá demorar mais de 10 anos!
Uma investigação que teve direitos a primeiras páginas e a reacções tempestuosas das mais variadas personagens políticas e religiosas, que fizeram de tudo para tentar desacreditar as conclusões dos autores.
E se esta foi uma investigação histórica e científica, porquê todas essas reacções contra o livro? Seria o livro um perigo para a sociedade? Teria ele revelações que colocariam em causa todo um sistema político ou social? Desmascaria certas convenções? Certamente! As teorias deste livro, teorias essas assentes em provas fundamentadas, são simplesmente demolidoras para a igreja católica.
Em 1885, em Renens-le-Château, o padre dessa aldeia, Bérenger Saunière, aquando das obras na sua pequena e pobre igreja, fez uma descoberta de algo que se encontrava enterrado naquela igreja. Este facto é indesmentível, pois nessa altura ele pede para ser recebido no Vaticano e após o seu regresso, a sua vida muda por completo, começando então a levar uma vida de opulência que os fracos rendimentos de um simples padre eram impossíveis de sustentar. Reconstruiu a sua igreja, mandou fazer um palacete que nunca chegou a habitar (Vila Bethânia) e inclusivamente mandou construir uma torre dando-lhe o nome de Torre Magdala. Sabe-se também do poder que demonstrava possuir sobre o Bispo da localidade e do medo e respeito que o Vaticano demonstrava ter por ele. Saunière veio a falecer em 1917, altura em que os seus gastos atingiram o equivalente a vários milhões de libras. De onde veio essa inexplicável riqueza? Que tesouro é que ele descobriu a ponto de o próprio Vaticano lhe prestar vassalagem?
É assim que com este, aparente, pequeno mistério, os investigadores iniciam os seus estudos e, partindo de Rennes-le-Château, lar ancestral de Bertrand de Blanchefort, quarto grão-mestre dos Templários, os autores iniciam uma viagem tão espantosa quanto polémica. De início não tinham nada em mente, apenas um novelo que tinham curiosidade de desenrolar, estando eles muito longe de imaginarem o que aquilo ia dar.
Não pretendo aqui dissertar sobre os mistérios abordados no livro. Iria levar muito tempo e retiraria o interesse do livro, mas toda esta investigação leva-nos a conhecer de perto os Templários e o porquê da sua formação. As lutas e altos interesses políticos subjacentes à ordem. O Priorado de Sião, cuja acção foi, demonstradamente essencial, continuando ainda hoje a existir. O profundo mistério do Santo Graal. O que realmente foi (é) o Santo Graal? Será que os Templários ou o Priorado de Sião possuíram alguma vez esse Santo Graal? Qual o papel dos Cátaros e quem foram eles? O lendário Templo de Jerusalém, onde supostamente o Santo Graal esteve escondido e onde os Templários tiveram a sua primeira sede, vindo do templo o nome da Ordem. Que dinastia é essa dos Merovíngios que o Priorado de Sião continua a idolatrar? Que papel foi o de Jesus Cristo ou o porquê da suposta crucificação quando ele, comprovadamente, descendia de uma linhagem real? Qual o papel de Maria Madalena? Muitos desconhecem que também ela era de linhagem real. Teria sido Jesus Cristo casado com Maria Madalena? Teriam tido descendência?
Foi no concílio de Niceia, em 325 d.C., que foi decidido que Jesus era um deus e não um profeta mortal, foi aí estabelecida a data da páscoa e sabe-se que é por essas alturas que a Bíblia é composta através de alguns evangelhos cuidadosamente seleccionados, sendo os outros textos que falavam de Cristo, abolidos e, nalguns casos destruídos. É então nessa altura que Jesus assume o estatuto que hoje goza, todos esses textos foram desde então alvos de sucessivas correcções e omissões, sendo actualmente um produto de editores e escritores do século IV. E os envagelhos apócrifos , descobertos aqui e ali, que descrevem situações completamente opostas às narradas na Bíblia?
Enfim, não quero aqui expressar a minha opinião pessoal sobre este fabuloso mistério, nem pretendo levantar muito o véu., apenas pretendo transmitir a enorme sensação que esta obra me proporcionou. Através de factos históricos, somos confrontados com toda uma teia muito intensa e extensa, que foi elaborada com um sentido muito simples e claro.
Um livro que deve ser lido (estudado) com um espírito aberto, pois põe em causa convicções e crenças que estão, há muito, enraizadas na nossa cultura, na nossa sociedade, na própria forma de ser e de pensar das sociedades ocidentais, pondo mesmo em causa a própria fé de cada um e mina por completo, as estruturas da religião católica.
Este livro não uma “teoria da conspiração”. É uma obra histórica, escrupulosamente estudada, documentada e pensada. Ao autores sabiam o que podiam estar a criar, fizeram-no em consciência, apenas pretendem dar a conhecer ao mundo o que descobriram, que a História que sempre nos contaram, se calhar, não foi bem assim.
Se quiser ir mais além do que Dan Brown descreve em “O Código Da Vincai”, aconselho a ler este livro.
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