Burford Castle, Maio de 1364, Philippa of Lencaster percorre os vastos corredores estranhando aquele silêncio. Gelada, vê a sua ama, Maud, passar apressada com algo nas mãos. Resolve segui-la sem saber o que irá encontrar.
É assim que se inicia este romance de Isabel Stilwell que visa a narração da vida de um das mais importantes e amadas rainhas de Portugal. Desde a infância até à sua morte em 1415, Stilwell consegue de facto desenhar um fresco muito interessante da vida de D. Filipa, porém existem falhas que embora possam ser desvalorizadas dada a imensidão do trabalho de investigação, quanto a mim devem ser mencionadas sem que estas diminuam o valor do livro, pois essas falhas não são propriamente de cariz Histórico.
Dividido em duas fases, e ambas assentes na apresentação de árvores geneológicas, a primeira fase dá-nos a conhecer a infância de Philippa of Lencaster, filha primogénita de John of Gaunt, neta do rei Edward III, prima direita do futuro rei Richard III (a sua vida foi retractada por Shakespeare com a pela Richard III) e irmã de outro rei, Henry IV (também retractada por Shakespeare na pela Henry IV e, curiosamente, uma das minhas peças preferidas).
Philippa pertencia assim, em linha directa, à casa real inglesa, crescendo numa corte opulenta do séc. XIV, rodeada de damas, cavaleiros e intrigas, pese embota John of Gaunt, que chefiava o exército inglês que o levava a andar em sucessivas campanhas, fizesse deslocar a família de castelo em castelo, tornando assim a vida dos seus filhos excitante face aos constantes cenários vividos.
Toda essa fase está descrita pela autora que, resta-me, acreditar na sua investigação, pois será importante na evolução do carácter de D. Filipa.
A segunda fase do romance, que é também a maior, começa com a ida de D. Philippa para Portugal onde a espera um casamento de conveniência com o rei D. João I.
A conveniência do casamento está muito bem explicada e historicamente está irrepreensível.
Assim D. Philippa casa com D. João I em 1387, iniciando-se uma nova vida agora denominada D. Filipa de Lencastre, Rainha de Portugal e benfeitora do povo.
As descrições da Inglaterra e Portugal medieval são excelentes. Stilwell consegue de facto transmitir o ambiente da época nas cortes onde as intrigas abundavam.
Muito bem também a descrição da verdadeira e visível faceta de D. Filipa: o seu sentido empreendedor, voluntarioso e determinado. Não é por acaso qe são os seus filhos que iniciam o grande desenvolvimento do país ( a célebre Ínclita Geração). A educação que D. Filipa lhes porpocona, assim como dos contactos que ela estabelece, incentiva a famosa prole em busca de um rumo que mudaria a face da nação e até do mundo.
No livro isso está muito presente e a influência de D. Filipa, a vários níveis, é imensa. Eu acredito que assim foi, pois também é conhecida a imensa consideração que os seus filhos tinham por ela (D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Isabel, D. João e D. Fernando – todos eles extraordinários).
Excelente e valiosas as imagens, algumas delas pintadas na época, que compõem o livro, enriquecendo-o.
Mas o livri não tem só factos positivos.
A meu ver peca por situar a acção apenas nas cortes e o seio de D. Filipa.
Numa época extremamente violenta e recheada de acontecimentos vitais para o futuro da Europa, onde praticamente todas as cortes se guerreavam entre si (quando não era também no seu seio), Stilwell passa completamente ao lado desses conflitos, jamais deixando transparecer grandes climas conflituosos, parecendo sempre que tudo está na paz dos deuses. Repare-se, por exemplo, na célebre revolta dos camponeses que foi um acontecimento importantíssimo na Europa medieval, tem aqui uma breve abordagem e apenas porque a família Lencaster viu o seu castelo atacado, mas nunca Stilweel deixa perceber a importância dessa revolta nem dos terríveis acontecimentos que marcaram aquela época. Para não falar também na batalha de Aljubarrota, pouco antes do casamento de D. Filipa com D. João I, que levou inclusivamente à construção do Mosteiro da Batalha, construção essa que teve a “mão” de D. Filipa.
Mas não se fica por aqui.
Na corte de Portugal, surge-nos um D. João I demasiado banana, que se deixa constantemente vergar pela mulher e, imagine-se, enganar por vários conselheiros. Um rei que foi um dos principais monarcas do país, responsável, entre outras coisas, pelo acordo Luso-britânico que vigora até hoje, pela extraordinária vitória em Aljubarrota e pela tomada de Ceuta, é aqui retractado como um homem que vivia para as caçadas e para a família.
Num ambiente muito “cor-de-rosa”, cheio de amor entre o rei e a rainha, surge-nos D. Nuno Álvares Pereira, o condestável e protector do reino, figura decisiva em Aljubarrota. Mas aqui há enormes contracensos. Se bem que foi verdade que D. Nuno era uma figura muita tida e respeitada pelo rei e que esse o chegou a proibir de agir como um monarca nas terras oferecidas pelo rei, por outro lado descreve o condestável como um homem muito religioso que ouvia três missas por dia. Isso é também verdade, mas Stilwell não explica a mudança operada em Nuno Álvares Pereira após a morte da mulher e isso é uma falha importante porque, para quem desconhece o que aconteceu, coloca várias questões e uma série de incoerências factuais que era escusado.
Mas o romance não se desvirtua por isso. Aqui é apenas questões de estilo que admiro nos romances históricos. Prefiro aqueles mais realistas à épca descrita, assim como prefiro outros pormenores que aqui são declinados, porém a verdadeira intenção da autora é romancear a vida de D. Filipa de Lencastre, mãe da Ínclita Geração, e isso é plenamente conseguido, ficando-nos a clara ideia do que foi a sua vida e da importância que teve a formação da identidade nacional.
Por último ressalvo a parte final do livro onde a autora descreve os “caminhos de Philippa” e o que ainda pode ser visto e visitado. Realço o Palácio da Vila em Sintra, conhecido também como o Paço da Rainha, onde sobressaem duas chaminés imensas impostas por D. Filipa que tomou aquele palácio como um dos seus favoritos e principal local de férias.
É assim que se inicia este romance de Isabel Stilwell que visa a narração da vida de um das mais importantes e amadas rainhas de Portugal. Desde a infância até à sua morte em 1415, Stilwell consegue de facto desenhar um fresco muito interessante da vida de D. Filipa, porém existem falhas que embora possam ser desvalorizadas dada a imensidão do trabalho de investigação, quanto a mim devem ser mencionadas sem que estas diminuam o valor do livro, pois essas falhas não são propriamente de cariz Histórico.
Dividido em duas fases, e ambas assentes na apresentação de árvores geneológicas, a primeira fase dá-nos a conhecer a infância de Philippa of Lencaster, filha primogénita de John of Gaunt, neta do rei Edward III, prima direita do futuro rei Richard III (a sua vida foi retractada por Shakespeare com a pela Richard III) e irmã de outro rei, Henry IV (também retractada por Shakespeare na pela Henry IV e, curiosamente, uma das minhas peças preferidas).
Philippa pertencia assim, em linha directa, à casa real inglesa, crescendo numa corte opulenta do séc. XIV, rodeada de damas, cavaleiros e intrigas, pese embota John of Gaunt, que chefiava o exército inglês que o levava a andar em sucessivas campanhas, fizesse deslocar a família de castelo em castelo, tornando assim a vida dos seus filhos excitante face aos constantes cenários vividos.
Toda essa fase está descrita pela autora que, resta-me, acreditar na sua investigação, pois será importante na evolução do carácter de D. Filipa.
A segunda fase do romance, que é também a maior, começa com a ida de D. Philippa para Portugal onde a espera um casamento de conveniência com o rei D. João I.
A conveniência do casamento está muito bem explicada e historicamente está irrepreensível.
Assim D. Philippa casa com D. João I em 1387, iniciando-se uma nova vida agora denominada D. Filipa de Lencastre, Rainha de Portugal e benfeitora do povo.
As descrições da Inglaterra e Portugal medieval são excelentes. Stilwell consegue de facto transmitir o ambiente da época nas cortes onde as intrigas abundavam.
Muito bem também a descrição da verdadeira e visível faceta de D. Filipa: o seu sentido empreendedor, voluntarioso e determinado. Não é por acaso qe são os seus filhos que iniciam o grande desenvolvimento do país ( a célebre Ínclita Geração). A educação que D. Filipa lhes porpocona, assim como dos contactos que ela estabelece, incentiva a famosa prole em busca de um rumo que mudaria a face da nação e até do mundo.
No livro isso está muito presente e a influência de D. Filipa, a vários níveis, é imensa. Eu acredito que assim foi, pois também é conhecida a imensa consideração que os seus filhos tinham por ela (D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique, D. Isabel, D. João e D. Fernando – todos eles extraordinários).
Excelente e valiosas as imagens, algumas delas pintadas na época, que compõem o livro, enriquecendo-o.
Mas o livri não tem só factos positivos.
A meu ver peca por situar a acção apenas nas cortes e o seio de D. Filipa.
Numa época extremamente violenta e recheada de acontecimentos vitais para o futuro da Europa, onde praticamente todas as cortes se guerreavam entre si (quando não era também no seu seio), Stilwell passa completamente ao lado desses conflitos, jamais deixando transparecer grandes climas conflituosos, parecendo sempre que tudo está na paz dos deuses. Repare-se, por exemplo, na célebre revolta dos camponeses que foi um acontecimento importantíssimo na Europa medieval, tem aqui uma breve abordagem e apenas porque a família Lencaster viu o seu castelo atacado, mas nunca Stilweel deixa perceber a importância dessa revolta nem dos terríveis acontecimentos que marcaram aquela época. Para não falar também na batalha de Aljubarrota, pouco antes do casamento de D. Filipa com D. João I, que levou inclusivamente à construção do Mosteiro da Batalha, construção essa que teve a “mão” de D. Filipa.
Mas não se fica por aqui.
Na corte de Portugal, surge-nos um D. João I demasiado banana, que se deixa constantemente vergar pela mulher e, imagine-se, enganar por vários conselheiros. Um rei que foi um dos principais monarcas do país, responsável, entre outras coisas, pelo acordo Luso-britânico que vigora até hoje, pela extraordinária vitória em Aljubarrota e pela tomada de Ceuta, é aqui retractado como um homem que vivia para as caçadas e para a família.
Num ambiente muito “cor-de-rosa”, cheio de amor entre o rei e a rainha, surge-nos D. Nuno Álvares Pereira, o condestável e protector do reino, figura decisiva em Aljubarrota. Mas aqui há enormes contracensos. Se bem que foi verdade que D. Nuno era uma figura muita tida e respeitada pelo rei e que esse o chegou a proibir de agir como um monarca nas terras oferecidas pelo rei, por outro lado descreve o condestável como um homem muito religioso que ouvia três missas por dia. Isso é também verdade, mas Stilwell não explica a mudança operada em Nuno Álvares Pereira após a morte da mulher e isso é uma falha importante porque, para quem desconhece o que aconteceu, coloca várias questões e uma série de incoerências factuais que era escusado.
Mas o romance não se desvirtua por isso. Aqui é apenas questões de estilo que admiro nos romances históricos. Prefiro aqueles mais realistas à épca descrita, assim como prefiro outros pormenores que aqui são declinados, porém a verdadeira intenção da autora é romancear a vida de D. Filipa de Lencastre, mãe da Ínclita Geração, e isso é plenamente conseguido, ficando-nos a clara ideia do que foi a sua vida e da importância que teve a formação da identidade nacional.
Por último ressalvo a parte final do livro onde a autora descreve os “caminhos de Philippa” e o que ainda pode ser visto e visitado. Realço o Palácio da Vila em Sintra, conhecido também como o Paço da Rainha, onde sobressaem duas chaminés imensas impostas por D. Filipa que tomou aquele palácio como um dos seus favoritos e principal local de férias.
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