terça-feira, 11 de setembro de 2007

A bíblia das bruxas, de Janet e Stewart Farrar

Iniciação do Primeiro Grau
Formalmente a iniciação de primeiro grau torna-a uma bruxa(o) comum. Mas é claro que é
um pouco mais complicado que isso.
Como todos os bruxos experientes, existem algumas pessoas que são bruxas (ou bruxos) de
nascimento muitas vezes podem tê-lo sido desde uma encarnação passada. Uma boa Sumo-
Sacerdotisa ou Sumo-Sacerdote costuma detectá-las. Iniciar um destes bruxos não é "fazer
uma bruxa"; é muito mais um gesto bidirecional de identificação e reconhecimento e claro,
um Ritual de boas-vindas de uma mais-valia de peso ao Coventículo.
No outro extremo, existem os que são mais lentos ou menos aptos muitas vezes boas
pessoas, sinceras e trabalhadoras que o iniciador sabe que têm um longo caminho a
percorrer, e provavelmente muitos obstáculos e condições adversas a ultrapassar, antes de
se poderem chamar verdadeiros bruxos. Mas mesmo para estes, a Iniciação não é um mero
formalismo, se o iniciador conhecer a sua Arte. Pode dar-lhes uma sensação de integração,
um sentimento que um importante marco foi ultrapassado; e apenas por lhes atribuir a
qualidade de candidato, (apesar de não parecer terem qualquer dom), o direito de se autodenominarem
bruxos, encoraja-os a trabalhar arduamente para merecerem esta qualidade.
E alguns menos aptos podem tomá-lo de surpresa com uma aceleração súbita no seu
desenvolvimento após a iniciação; então saberão que a iniciação resultou.
No meio, encontra-se a maioria; os candidatos de potencial médio e forte capacidade de
evolução que, se apercebem de uma forma mais ou menos clara que a Wicca é o caminho
que têm procurado e porquê, mas que ainda estão no início da exploração das suas
capacidades. Para estes, uma Iniciação bem conduzida pode ser uma experiência poderosa
e incentivante, um genuíno salto dialéctico no seu desenvolvimento psíquico e emocional.
Um bom iniciador tudo fará para que isso aconteça.
Na verdade, o iniciador não está sozinho na sua tarefa (e não nos estamos apenas a referir
ao apoio de algum companheiro ou dos outros membros do Coventículo). Uma Iniciação é
um Ritual Mágico, que evoca poderes e deve ser conduzido com a confiança plena que
esses poderes invocados se irão manifestar.
Toda a iniciação, em qualquer religião genuína, é uma morte e renascimento simbólicos,
suportados de forma consciente. No Ritual Wicca este processo é simbolizado pela venda e
amarração, o desafio, a provação aceite, a remoção final da venda e das amarras é a
consagração de uma nova vida. O iniciador deve manter este objectivo claro na sua mente
e concentrar-se nele, e o Ritual em si deve provocar a mesma sensação na mente do
candidato.
Em séculos mais remotos a imagem de morte e ressurreição era sem dúvida ainda mais
notória e explícita e provavelmente desenrolava-se ainda com muito menos palavras. A
famosa bruxa de Sheffield, Patricia Crowther, refere até que ponto ela teve esta experiência
durante a sua Iniciação por Gerald Gardner. O Ritual era Gardneriano normal, basicamente
da mesma forma que o descrevemos nesta secção, mas antes do Juramento, Gardner
ajoelhou-se ao seu lado e meditou durante um bocado. Patricia enquanto esperava entrou
subitamente em transe (que veio a descobrir mais tarde ter durado 40 minutos) ao que
parece recordou uma reencarnação passada. Ela viu-se a ser transportada por um grupo de
mulheres nuas numa procissão de archotes que se dirigia para uma caverna. Elas saíram,
deixando-a aterrorizada no meio da escuridão absoluta. Gradualmente conquistou o seu
medo, acalmou e no devido tempo as mulheres voltaram. Ficaram em linha com as pernas
abertas e ordenaram-lhe que passasse, amarrada como estava, através de um túnel de
pernas que se assemelhavam a uma vagina, enquanto que as mulheres uivavam e gritavam
como se tivessem a ter um filho. Enquanto ela passava, foi puxada pelos pés e as amarras
foram cortadas. A líder encarando-a "ofereceu-me os seus seios, simbolizando que me iria
proteger como ela o faria aos seus próprios filhos. O corte das amarras simbolizava o corte
do cordão umbilical". Ela teve que beijar os seios que lhe foram oferecidos, tendo sido
depois salpicada com água ao mesmo tempo que lhe diziam que tinha renascido no
sacerdócio dos Mistérios da Lua.
Gardner comentou, quando ela voltou à consciência: "durante muito tempo eu tive a idéia
que se costumava fazer algo como aquilo que tinhas descrito e agora sei que não estava
longe da verdade. Deve ter acontecido há séculos atrás, muito antes dos rituais verbais
terem sido adaptados pela Arte."
A morte e o renascimento com todos os seus terrores e promessas, dificilmente poderia ser
muito dramatizado; e temos a sensação que a recordação de Patricia era genuína. Ela
obviamente é uma bruxa nata de há muito tempo atrás.
Mas vamos retornar ao Ritual Gardneriano. Para este efeito não tínhamos apenas três
textos mas quatro; somados aos textos A, B e C (ver pág. 3?) existe a obra de Gardner
denominada High Magic's Aid. Esta obra foi publicada em 1941, antes da cessação da lei
Witchcraft Acts na Inglaterra e, antes dos seus livros Witchcraft Today (1954) e The
Meaning of Witchcraft (1959). Neste, Gardner revelou pela primeira vez em ficção algum
do material que tinha aprendido com o seu Coventículo. No Capítulo XVII a bruxa Morven
faz o herói Jan atravessar a sua iniciação do 1º Grau e o Ritual é descrito em detalhe.
Pensamos que essa descrição foi muito útil para a clarificação de um ou dois pontos
obscuros, por exemplo, a ordem de "os pés nem estarem amarrados nem livres", que
conhecíamos da nossa própria Iniciação Alexandrina, mas suspeitávamos estar deslocada.
(5).
O Ritual de 1º Grau, provavelmente foi alterado pelo menos à data em que o Livro das
Sombras, atingiu a fase do texto C. Isto acontece porque de entre o material incompleto na
posse do Coventículo de New Forest teria sido naturalmente a parte que sobreviveu mais
completa na sua forma original. Gerald Gardner não teria necessidade de preencher as
falhas com material Crowleiano ou outro material não wiccano e desta forma Doreen
Valiente não teve que sugerir o tipo de transcrição que era necessário "por exemplo para o
da energia exortação".
Na prática wiccana, um homem é sempre iniciado por uma mulher e uma mulher por um
homem. E apenas uma bruxa de 2º ou 3º Grau pode conduzir uma Iniciação. Existe uma
exceção especial a cada destas regras.
A primeira exceção, uma mulher pode iniciar a sua filha ou um homem o seu filho,
"porque são parte deles". Alex Sanders ensinou-nos que isto poderia ser feito numa
emergência, mas o Livro das Sombras de Gardner não apresenta esta restrição.
A outra exceção, refere-se a única situação em que uma bruxa(o) de 1º Grau (e uma
totalmente nova), pode iniciar outra. A Wicca põe grande ênfase na parceria de trabalho
homem/mulher e muitos Coventículos ficam deliciados quando um casal avança para a
Iniciação juntos. Um método muito agradável de levar a cabo uma dupla Iniciação como
esta, é exemplificado pelo caso de Patrícia e Arnold Crowther (que na altura ainda eram
casados) por Gerald Gardner.
Gardner, começou por Iniciar Patrícia enquanto Arnold esperava fora do quarto, então ele
pôs o Livro das Sombras nas mãos dela incitando-a enquanto ela própria iniciava Arnold.
"Esta é a forma que sempre foi feita", disse-lhe Gardner mas temos que admitir que esta
forma era desconhecida para nós até lermos o livro de Patrícia.
Gostamos desta fórmula; cria uma ligação especial, no sentido wiccano da palavra, entre os
dois Iniciados desde o princípio no trabalho do Coventículo. Doreen Valiente confirmounos
que esta era a prática freqüente de Gardner, e acrescenta: "De outra forma, no entanto,
mantínhamos a regra que apenas um bruxo de 2º ou 3º Grau poderia fazer uma Iniciação".
Gostávamos de mencionar aqui duas diferenças "para além dos pequenos pontos que se
notam no texto", entre o Ritual de Iniciação Alexandrino e o Gardneriano, este último
temos tomado como modelo. Não mencionamos estas diferenças com algum espírito
sectário todos os Coventículos vão e devem fazer o que sentem melhor para eles mas
apenas para registrar qual é qual e expressar as nossas próprias preferências, aquelas que
nos servem de modelo.
Primeiro, o método de trazer o Postulante para o Círculo. Na tradição Gardneriana ele é
empurrado para o Círculo, por trás; depois da declaração do Iniciador, "Eu dou-te uma
terceira para passares através desta Porta do Mistério", ele apenas acrescenta de forma
misteriosa "dá-lhe".
O livro High Magic's Aid é mais específico: "Abraçando-o por trás com o seu braço
esquerdo à volta da cintura e põe o braço direito dele à volta do seu pescoço e vira-se para
ela e diz: "Eu dou-te a terceira senha; "Um beijo". Ao dizer isso, ela empurra-o com o seu
corpo através da porta para dentro do Círculo. Uma vez lá dentro ela liberta-o, segredando:
"Esta é a forma que todos são trazidos pela primeira vez para o Círculo" (High Magic's
Aid, pág. 292).
É claro que, o pacto de pôr o braço direito do Iniciador à volta do pescoço não é possível se
os pulsos destes estiverem amarrados; e rodar a sua cabeça com a sua mão para o beijar
sobre o ombro, é quase impossível se ele for muito mais alto que ela. Esta é a razão por
que sugerimos que ela o beije antes de passar por detrás dele. É o pacto de empurrar por
trás que é a tradição essencial; por certo que o Coventículo de Gardner sempre o fez.
"Penso que a intenção original era ser uma espécie de teste", diz-nos Patrícia, "porque
alguém podia perguntar, como no High Magic's Aid, quem te trouxe para um Círculo?" a
resposta era "Eles trouxeram-me por trás".
A prática Alexandrina era segurar os ombros do iniciado à sua frente, beijá-lo e então
puxá-lo para dentro do Círculo, rodando-o em sentido dócil. Esta foi a forma como fomos
os dois Iniciados e não nos sentimos pior por isso.
Mas não vemos nenhuma razão, agora, para partir da tradição original especialmente
porque ela tem um interesse histórico inerente; por isso, viramo-nos para o método
Gardneriano.
Quando Stewart visitou o Museu das Bruxas na Ilha de Man em 1972 (à data aos cuidados
de Monique Wilson, a quem Gardner deixou a sua colecção insubstituível que ela mais
tarde de forma imperdoável vendeu à América), Monique disse-lhe que como não tinha
sido empurrado por trás para dentro do Círculo na sua Iniciação, "nenhuma verdadeira
bruxa se associaria a ele". Então ela ofereceu-se para o iniciar "da forma devida". O
Stewart agradeceu-lhe educadamente mas declinou o convite. As precauções e os
formalismos poderiam ter um fundamento válido nos tempos das perseguições; insistir no
assunto agora é mero sectarismo.
O segundo maior afastamento Alexandrino da Tradição reside no pacto de tirar as medidas.
Os Coventículos Gardnerianos retém a medida; os Alexandrinos da Tradição devolvem-nas
ao Postulante.
No Ritual Alexandrino, a medida é tirada com um fio vermelho de linho, não composto,
apenas da coroa aos calcanhares, omitindo as medidas da cabeça, peito e ancas. O Iniciador
diz: "Agora vamos tirar-te as medidas e medimos-te da coroa da tua cabeça até às solas dos
teus pés. Nos tempos antigos, quando ao tirarem a tua medida também retiravam amostras
do cabelo e unhas do teu corpo. O Coventículo guardaria então a medida e as amostras e se
tentasses sair do Coventículo trabalhariam com eles para te trazer de volta e nunca mais de
lá sairias. Mas como vieste para o nosso Círculo com duas expressões perfeitas, Amor
Perfeito e Confiança Perfeita, devolvemos-te a medida, e ordenamos-te que a uses no teu
braço esquerdo".
A medida é atada à volta do braço esquerdo do Postulante até ao fim do Ritual, depois do
qual, poderá fazer aquilo que entender com ela. A maior parte dos Iniciados destroem-nos,
outros guardam-nos como recordação, outros põe-nos em medalhões e dão-nos de
presentes aos seus companheiros de trabalho.
O simbolismo do "Amor e Confiança" no costume Alexandrino é claro, e alguns
Coventículos podem preferi-lo. Mas sentimos que há ainda mais a dizer acerca do
Coventículo guardar a medida, não como chantagem, mas como uma lembrança simbólica
da nova responsabilidade do Iniciado perante o Coventículo. De outra forma não parece
fazer sentido algum tirá-la.
Doreen diz-nos: "A idéia de devolver a medida é, na minha opinião, uma inovação de
Sanders. Na tradição de Gerald, era sempre retida pelo Iniciador. Nunca, no entanto, existia
alguma intenção que a medida fosse utilizada na forma chantagista descrita no Ritual
Alexandrino. Ao invés, se alguém quisesse sair do Coventículo, eram livres de o fazer,
desde que respeitassem da confiança dos outros membros e mantivessem os Segredos.
Afinal de contas, qual é a lógica de manter alguém no Coventículo contra a sua vontade?
As suas más vibrações só estragariam tudo. Mas nos tempos antigos a medida era usada
contra qualquer pessoa que deliberada e maliciosamente traísse os Segredos. Gerald disseme
que "a medida era então enterrada num local lamacento, com a maldição de que
apodrecesse, assim como o traidor". Lembrem-se, traição naqueles tempos era uma questão
de vida ou de morte literalmente!"
Sublinhamos de novo perspectivas das diferenças em detalhe, podem ser fortemente
mantidas, mas no final é a decisão do Coventículo que interessa quanto a uma forma
particular, ou até em encontrar uma forma própria. A validade de uma Iniciação não
depende nunca dos pormenores. Depende apenas, da sinceridade e efetividade psíquica,
espiritual do Coventículo, e da sinceridade e potencial psíquico do Iniciado. É como diz a
Deusa na Exortação: "E aquele que pensa em procurar-me, saiba que procurar apenas e ter
compaixão não o ajudará, a menos que conheça o Segredo: que aquilo que não procure e
não encontre dentro dele, então nunca o encontrará sem ele. Para verem, eu tenho estado
contigo desde o Início; E Eu sou aquilo que se alcança no fim do desejo".
Dar importância demasiado aos pormenores tem sido, infelizmente, a doença de muitas
doutrinas cristãs, incluindo aquelas que tinham as suas origens na beleza; os bruxos não
devem cair na mesma armadilha. Somos tentados a dizer que as doutrinas deviam ser
escritas por poetas e não por teólogos.
Uma palavra para os nomes Cernunnos e Aradia, os nomes de Deuses usados no Livro das
Sombras de Gardner. Aradia, foi adaptada dos bruxos da Toscânia (ver o livro de Charles
G. Leland, Aradia, O Evangelho do Bruxos); sobre as suas possíveis ligações celtas, ver o
nosso livro Oito Sabbats para Bruxas, p. 84. Cernunnos (ou como lhe chama Jean Markale
no seu Mulheres Celtas, Cerunnos) é o nome dado pelos arqueólogos ao Deus Cornudo
celta, porque não obstante terem sido encontradas muitas representações deste, em todo o
lado desde o Caldeirão Gundestrop até ao monte Tara (ver fotografia 10), apenas uma
destas tem um nome inscrito um baixo relevo encontrado em 1710 na Igreja de Notre
Dame em Paris, que se encontra agora no Museu de Cluny na mesma cidade. O sufixo "-
os"sugere ter sido uma helenização de um nome celta; os druidas são conhecidos por serem
familiares com o grego e terem usado este alfabeto para as suas transacções em assuntos
vulgares, apesar neste caso as letras actuais serem romanas. Note-se também que o grego
para "corno" é (Keras). Doreen Valiente sugere (e concordamos com ela) era na verdade
Herne (como em Herne o Caçador, do Windsor Great Park). "Alguma vez ouviram o choro
de um Veado (Fallow deer) no cio?" pergunta ela. "Ouvirão sempre durante o cio outonal
do Veado na New Forest, e soa exactamente como "HERR-NN... Herr-rr-nn..." repetido
vezes sem conta. É um som emocionante e nunca o esqueceremos. Agora, das pinturas
rupestres em grutas e estátuas que encontramos dele, Cernunnos era eminentemente um
Deus-Veado. Então como é que os mortais o denominaram melhor? Certamente pelo som
que da forma mais intensa lembra um dos grandes Veados da Floresta".
Para cada um deles podemos acrescentar que o intercâmbio dos sons "h" e "k" é sugerido
pelos nomes de lugares como Abbas em Donset, local do famoso Gigante de Hillside.
Existe um número razoável de lugares denominados Herne Hill em Inglaterra, bem como
duas Herne Villages, uma Herne Bay, uma Herne Drove, uma Hernebridge, uma Herne
Armour, uma Herne Pound, e por aí fora. Herne Hill é algumas vezes explicado como
significando "Monte da Garça" mas, como Doreen explica, as garças procriam junto aos
rios e lagos e não em montes; "parece mais provável para mim que Herne Hill era sagrado
para o Velho Deus".
No Livro Alexandrino das Sombras, o nome é "Karnayna" mas esta forma não surge em
mais nenhum local, que quer eu quer a Doreen tenhamos visto. Ela pensa que "é
provavelmente não concerteza uma confusão auditiva com Cernunnos. O nome actual pode
ter sido omitido no livro de onde Alex copiou, e ele teve que se apoiar numa recordação
verbal de alguém". (conhecendo o Alex, diriamos "quase de certeza"!)
No texto que se segue, o Iniciador pode ser a Sumo-Sacerdotisa ou o Sumo-Sacerdote,
dependendo se o Iniciado for homem ou mulher; assim, referimo-nos ao Iniciador como
"ela" por uma questão de simplicidade, e ao "Postulante" (mais tarde "Iniciado") como
"ele" apesar de poder ser ao contrário, obviamente. O companheiro de trabalho do
Iniciador, quer seja Sumo-Sacerdotisa ou o Sumo-Sacerdote, tem certamente também
deveres a desempenhar, e é referido como o "Companheiro".

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